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Lugar de presença e atuação

  • Identificador:
    11912
    Descrição:
    OFM/PSC Casa Franciscana Casa dos Pássaros
    Tipo de presença:
    Lugar: Niterói, RJ
    Data inicial:
    1902
    Data final:
    1914
    Notas sobre este lugar de presença/atuação:

    Para a diocese de Petrópolis foram destinados Frei Rogério Burgers e Frei Frederico Voorvelt. Ainda que as ofertas do bispo, dom Francisco do Rego Maia, não garantissem tanto assim a nossa fundação e por isso ainda hesitassem um pouco, embarcaram eles assim mesmo em Bordéus no dia 20 de abril de 1900; chegaram ao Rio de Janeiro a 07 de maio de 1900. Cordialmente recebidos pelos confrades alemães, ficaram com eles no convento de Petrópolis com uma tríplice finalidade: aprender a língua, aclimantar-se e finalmente procurar um bom lugar para a sua fundação.

    Afinal, quando nem outros lugares Areal, Maricá, que foram indicados para uma fundação, mostravam-se apropriados, resolveram os dois, ajudados sempre pelo bondoso guardião, estabelecer-se em Niterói, para ter uma casa perto do porto de desembarque, onde os confrades, vindos da Holanda, haviam de chegar. O Sr, Bispo deu a sua licença, e encontrada uma pequena casa de aluguel na rua Visconde de Itaboraí, nº 231 esq. Rua 15 de novembro (ou, como frei Rogério o dá nos seu artigo em SA 1901: esq. Rua G. Andrade Neves, Largo da memória) mudaram para lá no dia 25 de janeiro de 1901. Parece provisoriamente, porque não o julgam mais tarde a nossa primeira fundação no Brasil.

    16 de março de 1901 chegou frei Oto Vervoort de Manaus.

    30 de outubro de 1901 chegada dos padres Frei Cirilo La Rose e Crisógono Asseler e o irmão Benvenuto Wijnands.

    21 de junho de 1902 faleceu Frei Crisógono Asseler.

    8 de julho de 1902 faleceu Frei Benvenuto Wijnands, ambos de febre amarela. A comunidade teve de abandonar a casa contagiada. O Pe. Provincial, informado da situação angustiosa, deu licença de voltar à pátria. Mas frei Rogério e os seus não se deixaram abalar pelo infortúnio. O Fico do agora destemido Rogério. Por umas semanas foram carinhosamente hospedados pelos Padres Salesianos até conseguiram outra casa de aluguel na rua Desembargador Lima Castro, 25c no bairro Cubango, também com o endereço rua Cubango, 25. Frei Rogério (e o povo?) chamou a residência Casa dos três Pássaros por causa da figura de como um urubu molhado com as asas abertas, no meio e em cada ponta da fachada.

    Foi a primeira sede do Comissariado, Frei Rogério o primeiro Comissário.

    O serviço dos padres em Niterói era: manter uma escola gratuita duns 40 meninos pobres, que deviam fechar, quando abandonaram a primeira casa; dar assistência nas paróquias da cidade, durante uns 5 anos de Jurujuba, 7 anos ajudando o velho vigário de São Lourenço; catecismo, capelania dum hospital e dum asilo.

    Quando nos estabelecemos lá em 1901, Niterói era uma cidade de 20.000 habitantes, belissimamente situada na Baía de Guanabara, em frente ao Rio. Niterói tinha bastante indústria, mas pouco comércio. Uma grande parte da população consistia em gente que tinha sua ocupação na cidade do Rio, de maneira que se podia considerar Niterói um subúrbio do Rio. A ligação entre as duas capitais se fazia em pequenos vapores que dentro de meia hora perfaziam o percurso. A sede do bispado ainda estava em Petrópolis, mas depois foi transferida para Niterói. Na cidade, existiam apenas duas paróquias: a da São João Batista e a de São Lourenço. Além dessas havia ainda diversas igrejas, ou melhor, capelas, pertencentes a Irmandades, umas casas de Religiosas e um grande colégio dos padres Salesianos, no bairro de Santa Rosa, com o célebre monumento de N. Senhora Auxiliadora, que de noite é iluminada e visível de muito longe.

    Nossa situação na pequena casa à Rua Visconde de Itaboraí, onde nos tínhamos estabelecido a 26 de janeiro de 1901, não era cor de rosa. Parecia um pouco com a gruta de Belém e mais tarde ganhou um pouco de Calvário. Era casa de aluguel e não tínhamos igreja própria. Um dos padres ia rezar missa todos os dias na casa das Irmãs de Santa Dorotéia. Essas irmãs eram também pobres e não podiam remunerar os nossos serviços. Mesmo assim tomamos conta da capelania desse colégio até 1912, quando suas escolas foram muito ampliadas e o trabalho só podia ser feito por um capelão próprio.

    Bem logo foi-nos entregue também o cuidado do Hospital de São João Batista, um hospital estadual, onde durante todos os anos da nossa permanência em Niterói, preparamos muitas almas para a sua viagem para a eternidade, mas onde tínhamos de agir com muita prudência, porque dependíamos totalmente dos caprichos de autoridades várias. Assim, por exemplo, em certo dia um dos médicos nos declarou que ele preferia não ver os padres na sua sala; e assim nos víamos obrigados a não ir mais lá por enquanto, com medo de vermos proibida para nós a entrada no hospital inteiro. Uma outra vez, tínhamos celebrado a S. Missa com comunhão geral dos doentes e tínhamos combinado com o diretor para fazer isso de tempos em tempos, quando de repente veio do governador do Estado do Rio a proibição de celebrar a S. Missa. Isso era contra a separação da Igreja e do Estado.

    Pouco tempo depois, a capela do hospital foi demolida e desde então não houve mais missa no hospital e tinha-se de levar o sagrado viático às ocultas.

    Logo depois da nossa chegada a Niterói foi transferido o coadjutor da paróquia de São João e fomos solicitados para ajudar o vigário. E, no mês de outubro, o vigário adoeceu e fomos encarregados por alguns meses da paróquia toda.

    No dia 28 de setembro de 1901, tivemos a grande honra de receber como hóspede o nosso muito querido bispo, Dom Francisco do Rego Maia. Sua Excelência e seu secretário ficaram hospedados conosco duas noites, edificando-nos sempre com sua amável simplicidade.

    Durante o ano de 1901, administramos os últimos sacramentos a 120 doentes no Hospital São João Batista.

    O diário local O Fluminense, do dia 7 de janeiro de 1902 publicou um ataque contra nossos padres, porque tinham exigido de um maçon a abjuração de sua seita para poder receber os últimos sacramentos. Isto era contra a liberdade de consciência. O artigo estava assinado pelos altos dignitários das cinco lojas locais. Tais ataques foram mais tarde repetidos diversas vezes.

    No dia 3 de março de 1902, foi fundada em nossa casa uma escola gratuita para meninos: 38 meninos se matricularam porque não havia lugar para mais.

    No dia 10 de abril, Frei Rogério celebrou a santa Missa na cadeia de Niterói e deu a santa comunhão a 31 presos. Os vicentinos prepararam uma festinha. Repetimos isso depois, muitas vezes.

    O novo bispo de Petrópolis, Dom João Braga, pediu-nos, no dia 16 de novembro de 1902, para nos encarregarmos também da assistência espiritual no Hospital Paulo Cândido para pestíferos. O Padre Comissário, lembrando o exemplo de nosso Pai Francisco, aceitou a oferta. Em 1905 desapareceu essa doença.

    Em princípio de 1903, adoeceu novamente o Padre Comissário. Era uma febre que cedeu com os remédios costumeiros. Todavia foi tão forte a impressão que deliberou-se abandonar a missão e voltar para a Holanda, se não se achasse um lugar no interior para uma nova fundação.

    A 25 de março de 1903, aceitamos a capelania do Asilo de Santa Leopoldina que era dirigida pelas Irmãs de Caridade de S. Vicente de Paulo. Até a data de nossa saída de Niterói, em 1914, tomamos conta desse serviço e assim contribuímos para a boa educação de inúmeras crianças órfãs e abandonadas.

    Em abril de 1903, o Padre Provincial nos mandou acatar um pedido feito no ano anterior pelo bispo de Mariana. Em julho então, um dos nossos viajou para Minas Gerais, com o seguinte resultado: foi fundada a nossa primeira casa no interior, em Ouro Preto. Foi a salvação do nosso Comissariado.

    Frei Frederico, que desde o começo partilhava com o Padre Comissário todo o bem e todo o mal, mudou-se a 26 de julho de 1904 para Ouro Preto e foi substituído em Niterói por Frei Martinho.

    Dom João Braga, bispo de Petrópolis, aos 4 de julho de 1905, fez-nos o pedido de ajudar o enfraquecido vigário da paróquia de São Lourenço em Niterói. Frei Benigno van Osch foi encarregado disso e cumpriu essa difícil tarefa durante sete anos.

    Frei Martinho tornou-se capelão da igreja da Irmandade de São Domingos em 1905.

    Mais uma vez em 1908 tentamos adquirir uma casa e igreja em Niterói. Iríamos construir uma escola e para isso pediríamos à prefeitura um terreno. Depois de longa espera, recebemos uma resposta negativa

    No dia 9 de janeiro de 1909, faleceu em Niterói, em nossa residência, o mui querido confrade Frei Boaventura, (João Peters). Faleceu de câncer no estômago.

    Frei Júlio Berten, que substituiria o Padre Comissário na sua ausência, veio morar, no dia 20 de maio de 1909, em Niterói, onde ele ficou até 30 de março do ano seguinte. E o padre Comissário embarcou para a Holanda, no dia 23 de maio de 1909.

    Frei Júlio teve, em novembro de 1909, uma entrevista com Dom Agostinho Benassi a respeito da situação em Niterói. Sua Excelência disse abertamente que não desejava dar-nos uma paróquia na sede da diocese. E porque outros lugares na diocese que nos ofereceu não nos agradavam, visto que precisávamos de uma casa dentro ou perto do Rio, ficou tudo como estava.

    No dia 26 de maio de 1910, o Padre Comissário voltou são e salvo da Holanda. Frei Adolfo veio morar em Niterói aos 14 de outubro de 1910. Visto que o bispo de Niterói queria fundar um seminário para prover a falta de padres e lhe faltava professores, pediu um dos nossos padres como professor e foi indicado Frei Adolfo, que durante um ano lecionou no seminário.

    Em novembro e dezembro daquele ano, estouraram, na Baía do Rio, perigosas revoltas entre os fuzileiros navais, que dias em seguida deixaram as cidades do Rio e Niterói - por conseguinte a nós também - em angustiante expectativa.

    No dia 24 de agosto de 1911, o Padre Comissário desincumbido de seu cargo e foi nomeado seu sucessor Frei Júlio Berten, que se achava em Teófilo Otoni, chegando só no dia 4 de novembro a Niterói, onde fixou sua residência. Frei Rogério, porém, continuou como superior da casa até 30 de maio de 1912, quando ganhou licença para voltar para a Holanda.

    No dia 18 de junho de 1912, chegou a Niterói Frei Leopoldo, o novo superior da nossa residência. No mês de dezembro de 1912, o Padre Comissário partiu de Niterói e transferiu a sede do Comissário para São João Del Rei.

    Nossa situação em Niterói tornava-se cada vez mais difícil. Assim, no dia 1º de janeiro de 1913, Frei Leopoldo foi injustamente destituído de seu cargo de capelão da Igreja da Irmandade de São Domingos.

    Por ordem do Padre Comissário, no dia 10 de janeiro, na presença de Frei Leopoldo, foram desenterrados os ossos dos nossos três confrades, que tinham sido enterrados no cemitério de Niterói, e conforme costume brasileiro, colocados em urnas e guardados provisoriamente em nossa residência para mais tarde serem transladados para a nossa igreja em São João Del Rei.

    Frei Leopoldo, em 1913, ainda se esforçou para fixar pé em Niterói, mas tudo em vão. No dia 14 de janeiro de 1914, Frei Leopoldo partiu e, no dia 10 de abril, foi supressa a residência, na qual começou o nosso Comissariado.

    Aqui termina a história da nossa primeira residência, que desde o início até o fim foi uma história dolorosa. Contudo essa mãe fraca deu à luz muitos e robustos filhos, pois na sua morte estavam vivas e florescentes sete residências do nosso Comissariado, das quais só uma, Belo Horizonte, não sobreviveria.

    Por Frei Sabino Staphorst - tradução de Frei Helano van Koppen

    Fonte: Vinte e Cinco anos no Brasil, pgs. 25, 42-48

    Por Frei Olavo Timmers

    Fonte: RSC 1974, p.176-177.

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como citar este conteúdo
SATLER, Fabiano Aguilar. OFM/PSC Casa Franciscana Casa dos Pássaros. Rede Internacional de Estudos Franciscanos no Brasil. Disponível em: http://riefbr.net.br/pt-br/content/ofmpsc-casa-franciscana-casa-dos-passaros. Acessado em: 19/01/2025.