E Frei Pacômio ficou mesmo, mais uns meses, no seu posto. Até hoje me lembro dele, morando numa pequena parte do laboratório no bairro dos funcionários em verdadeira pobreza franciscana. Ele dava sua assistência de bom pastor aos doentes em suas enfermarias, pavilhões e casas particulares, como também às Irmãs e aos funcionários. Nessa sua vida primitiva, sem conforto nenhum e cansado de esperar a casa prometida (prometer e não cumprir é também uma tradição estadual), Frei Pacômio partiu, no fim de agosto de 1935, para seu novo posto de capelão das Franciscanas em Teófilo Otoni.
Frei Crisógono van Veen, coadjutor na nossa paróquia de São Pedro de Alcântara (Rio de Janeiro), aceitou ser vigário em Santa Isabel, onde, via Belo Horizonte, chegou no fim de outubro de 1935. (SC. 1976, pág. 72). A ele agradecemos a breve história da Colônia Santa Isabel.
Numa distância de 4 km da Parada Carlos Chagas (=Mário Campos), na linha da Central do Brasil (BH-Rio), entre as estações de Sarzedo e Fecho do funil, no Município de Santa Quitéria (=Esmeraldas; hoje é do Município de Betim), fica a Colônia Santa Isabel, o maior leprosário de Minas. Sua pedra fundamental foi solenemente lançada em 12 de outubro de 1922 e a Colônia foi inaugurada a 23.12.1931, sendo nomeado Diretor o Dr. Orestes Diniz, que até agora (1936), está dirigindo a Colônia.
Atualmente (1936), a Colônia conta 1.050 internados (Minas deve ter mais de 15.000 leprosos).
Assistência religiosa
Em 17.01.1934, foi nomeado Cura da Colônia o Revmo. Pe. Bernardo Firmino, que tomou posse no dia seguinte. Não havendo igreja, celebrava missa numa dependência do dispensário, que servia de capela provisória. No dia 13 de julho de 1934, chegaram dez Irmãs italianas, Filhas de Nossa Senhora do Monte Calvário, para trabalhar na Colônia. Depois da saída do Pe. Bernardo (30.10.1934), a Colônia ficou algum tempo sem padre. Nos domingos vinha - quando possível - um Padre Redentorista ou Franciscano de Belo Horizonte. Quando Frei Pacômio veio ser vigário (desde 19.12.1934, como diz Frei Olavo ou desde os primeiros dias de março de 1935, como afirma Frei Crisógono: eu estou com Frei Olavo), a capela foi funcionar numa parte do refeitório dos doentes. Deram a Frei Pacômio dois quartos no laboratório para sua residência, com a promessa de construir já uma casa. Depois de sete meses não tinham cumprido a promessa e, vendo a má vontade, Frei Pacômio saiu da Colônia no princípio de setembro de 1935 (ou fim de agosto, diz Frei Olavo). Durante dois meses, o Padre Jerônimo Sterk, Redentorista de Belo Horizonte, veio celebrar missa em alguns domingos. Já no primeiro dia depois da chegada de Frei Crisógono (fim de 1935), prometeram-lhe uma casa paroquial e lhe mostraram o terreno para essa construção, que até hoje (maio de 1936) nem iniciaram.
Meus paroquianos
A paróquia da Colônia Santa Isabel compreende o leprosário, a parte onde moram os sadios e o Preventório São Tarcísio. O leprosário com seus 1.050 internos é uma pequena cidade, com ruas bem alinhadas, com passeios e com boas casas. Há um grande dispensário, vários pavilhões para homens e outros para mulheres, uma bonita casa de diversões com teatro, rádio, cinema falado e sala de bilhar; duas grandes enfermarias, uma para homens e outra para mulheres; um grande refeitório, duas olarias, algumas vendas, prefeitura, cadeia, campo de esportes, um pavilhão e escola para as crianças, e uma linda igreja em construção (mais de ano, porém, parada).
Separada do leprosário, fica o bairro dos funcionários (uns 50): quatro médicos: o Dr. Orestes Diniz, o Diretor; o Dr. Paulo Cerqueira de Lima, o Dr. Abraão Salomão e o Dr. Joel Teixeira; um bibliotecário, o Sr. Hamilton Pereira. (Desculpe interromper, Frei Crisógono, nesta parte não ficam também o convento das Irmãs e sua capela bonitinha? e a casa de observação?).
O Preventório São Tarcísio fica a quatro km do leprosário, pertinho da linha e estação da Central. É um prédio, onde são internadas as crianças sadias de pais leprosos. É um fato, nenhuma criança nasce leprosa. Depois de uma criança nascer no leprosário, é imediatamente separada dos pais e vai para o Preventório, onde fica até a idade de 12 anos ou mais. Atualmente (1936) acham-se lá 80 crianças Tomam conta do Preventório quatro Irmãs italianas, Filhas de Nossa Senhora do Monte Calvário.
O vigário celebra todo dia na capela dos doentes; somente nas segundas-feiras celebra na capela das Irmãs no bairro dos funcionários. Aos domingos, celebra às 7 horas no Preventório São Tarcísio e às 9 horas na capela dos doentes, com assistência das Irmãs. Agora, já alguns meses, consegui que um automóvel da Colônia me leve todas as manhãs, às 5 horas, ao preventório, para dar ali a S. Comunhão.
Pode-se dizer que o espírito religioso na Santa Isabel é bom. Cada mês há umas 1.000 comunhões. Comecei com o Apostolado da Oração e logo entraram 60 sócios. Também vai ser erigida a Ordem Terceira (mas foi mesmo?). A grande dificuldade é que os doentes em geral são muito pobres, de sorte que qualquer despesa fica por conta do vigário. Não obstante a sua pobreza, já compraram uma bela imagem da Padroeira Santa Isabel, uma imagem de Nossa Senhora do Rosário, e agora estão angariando esmolas para a aquisição de uma imagem do Sagrado Coração de Jesus. Também estou pedindo esmolas para uma estátua do Padre Damião, o Apóstolo dos Leprosos. Essa estátua vai ser de 1, 5 m, vai custar uns 700 réis e tenho esperança de poder comprá-la brevemente...
Finalmente, um pedido aos confrades. Querendo mandar-me alguns paramentos, estolas, sanguinhos, palas, etc. etc., os confrades fiquem sabendo que, com muita gratidão, aceitarei tudo, prometendo-lhes as orações dos nossos doentes. Fr. Crisógono. (SC. 1936, pág. 55-57).
Visita fraterna
No fim de dezembro de 1936, estive (Frei Helano) em Santa Isabel, acompanhado de Frei Concórdio van Bavel e Frei Jordano Noordermeer, colegas meus do Santo Antônio de São João del Rei. E como fomos recebidos por Frei Crisógono, ex-professor do Santo Antônio nos anos de 1923 a 1932! Ele, radiante de alegria, rosto sempre sorridente; um gordão simpático, bondoso! E como ele nos tratou! boa prosa, mesa farta, casa bem boazinha! Fomos visitar seus doentes nas enfermarias, nos pavilhões, nas ruas, admirando seu jeito com todo mundo. Ao menos da sua parte de Bom Pastor, é verdade o que está escrito no grande portão de entrada: Aqui ficaremos bem!
Vimos as boas Irmãs em seus trabalhos delicados em meio a tanto sofrimento e miséria humanas, como boas mãezinhas dessa família tão numerosa. Também os médicos e os bons funcionários nos receberam muito bem. Aliás, uma visita ligeira de visitantes geralmente dá boa impressão, longe da triste realidade. Em todo caso, nós gostamos demais desta visita a Frei Crisógono e parece que ele também apreciou nosso interesse por ele e por seu bonito apostolado. Que Deus o conserve, sempre lutando pelo bem dos seus doentes em meio à morosidade das instâncias oficiais.
A inauguração da sua matriz realizou-se finalmente no dia 12 de junho de 1937, como ele nos informa: Às dez horas chegaram de BH 10 automóveis, repletos de representantes do mundo oficial e de jornalistas de O Diário e do Estado de Minas: D. Berenice Martins Prates, Presidente da Sociedade Mineira Pró Leprosos, os Secretários do Interior e da Educação, o Chefe da Polícia, o Diretor da Saúde Pública, o Presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, representantes do Secretário da Agricultura e do Prefeito da Capital, e várias outras pessoas gradas, como o nosso Diretor e os nossos médicos. Veio também o Revmo. Pe. Álvaro Negromonte que fez o 1º. discurso.
Depois dos discursos, os visitantes foram ver o novo Pavilhão Agrícola, com capacidade para 350 doentes. Aí todos se dirigiram à residência de Frei Crisógono, onde foram oferecidos uns gostosos comes e bebes. Assim confortados espiritualmente, todos foram ao Preventório São Tarcísio, onde apreciaram os progressos das crianças sãs, filhos de pais doentes. Ali foram inaugurados um clube de leitura e uma biblioteca. As solenidades foram abrilhantadas pela Lira Três de Outubro, composta de doentes.
O vigário aproveitou a presença de tantos ilustres visitantes para pedir umas coisas necessárias: O Secretário do Interior e o Chefe da Polícia lhe prometeram um harmônio para a capela, o Prefeito prometeu bancos e os outros ofereceram dádivas menores.
A estátua de Padre Damião.
Antes de contar como foi a festa da inauguração da estátua, vamos ver quem foi o Padre Damião. José de Véuster nasceu aos 3 de janeiro de 1840 em Trêmeloo (Bélgica). Aos 19 anos entrou na Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, onde professou em 1960. Cursou a Universidade de Louvânia até que seu irmão, o Revmo. Pe. Panfílio, da mesma Congregação, designado para a missão das Ilhas do Havaí, mas atacado por tifo, teve de renunciar à viagem. Embora ainda não fosse sacerdote, Damião pediu e obteve autorização de ir em lugar do irmão. Aos 19 de março de 1864, dia de São José, desembarcou em Honolulu, onde, ordenado padre após alguns meses, se dedicou com todo o zelo à obra missionária.
Dois anos depois, o Governo das Ilhas decretou a deportação de todos os leprosos para a Ilha de Molocai. Os rumores do que se passava naquela ilha, aumentando de ano para ano, encheram todos de horror. Os leprosos, abandonados, entregavam-se a toda sorte de libertinagem. O Padre Damião resolveu sacrificar-se por eles. Sepultou-se vivo naquele inferno de desespero e corrupção. Proibido temporariamente pelas autoridades de voltar à terra civilizada, Damião entregou-se à cura física e moral dos seus 800 leprosos. Impossível descrever o que o missionário sofreu naquele ambiente; impossível também narrar, em poucas palavras, a transformação radical da ilha dos vícios num canto de paraíso, apesar da doença incurável naquele tempo. Durante 12 anos Damião resistiu ao contágio, mas em 1885 foi atacado pela lepra. Continuou, porém, a trabalhar incansavelmente, como sacerdote e enfermeiro, até que, já todo deformado e exausto, o Senhor o chamou em 15 de abril de 1889. O mundo inteiro glorificou o herói do amor ao próximo. A pedido do Rei Leopoldo III da Bélgica, foram transladados triunfalmente seus restos mortais, de Molocai para Louvânia. A Congregação dos Sagrados Corações, que se ufana de contar o apóstolo dos leprosos entre seus membros, tem continuado o trabalho do Padre Damião.
A inauguração da estátua
Frei Crisógono conta: Em 12.12.1937, foi inaugurada a estátua do Padre Damião de Véuster, o herói da Ilha Molocai... Ajudado por meus amigos na Holanda, realizou-se este meu velho sonho. Os irmãos Bernardini, de Bom Sucesso, no Rio de Janeiro, executaram a estátua de dois metros; o pedestal de 2,20 m foi feito por alguns artífices leprosos, tudo de granito artificial.
Assistiram à solenidade o nosso Superior, Frei Serafim Lunter, Frei Zacarias van der Hoeven, Frei Carlos Schep, dois padres da Congregação dos Sagrados Corações, a saber, o Padre Provincial da Holanda Norberto Poelman (em visita canônica no Brasil) e meu primo, o Pe. Marcos Erwich, vigário da São Lourenço, em Niterói.
Às 8 horas, a Santa Missa foi celebrada pelo Padre Provincial. O coral dos doentes executou uma missa a quatro vozes. Às 2 da tarde todos se reuniram na praça para novas homenagens. o Padre Marcos, em nome da sua Congregação, agradeceu a todos que cooperaram na glorificação do seu ilustre e santo co-irmão, o Padre Damião.
Estatística interessante
Frei Crisógono publicou sobre o ano de 1938: 2.038 católicos, 3 igrejas, 148 pregações, 108 aulas de catecismo, 108 batizados (2 de adultos), 26.000 comunhões, 13 casamentos, 252 E. Unções e 21 Religiosos.
A situação religiosa é boa; a maioria é a boa gente da roça. As Irmãs, que dirigem os pavilhões, quase sempre conseguem que os novatos procurem a confissão e a comunhão. Os protestantes fazem ultimamente muita propaganda. Agora consegui que nosso Prefeito (também doente) proibisse os discursos na rua, as discussões sobre religião nas repartições e a entrada sem licença nas enfermarias.
Há também umas 30 mulheres decaídas que estavam dando muito escândalo. Por ordem do Diretor, o Dr. José Mariano, católico exemplar, elas moram agora numa mesma sala. De dia são vigiadas e, de noite, ficam fechadas nessa sala. De sorte que, neste ponto, a moralidade na Colônia já melhorou bastante. Fr. Crisógono (SC. 1939, pág. 140).
Sempre vigilante, percebeu Frei Crisógono a lenta infiltração de protestantes de BH que, em 1940, umas vezes vieram pregar na Colônia e começaram a construção de um templo que, por intermédio do Dr. José mariano, pude embargar.
Nosso Apostolado da oração tem 110 sócios, a Conferência de São Vicente 30, que distribuem esmolas aos acamados nas enfermarias. Foi inaugurado um novo pavilhão no Preventório, no qual ficam em observação crianças, suspeitas de lepra. Estiveram presentes diversos protestantes de BH e nosso Diretor, o Dr. Abraão Salomão, católico e o Dr. Orestes Diniz, ex-diretor, também católico. Eu não fui convidado para benzer a nova repartição. São católicos que podemos chamar de relaxados.
Os doentes, em geral, são bons. A Colônia podia ser um lugar ótimo, se fossem retirados daqui uns elementos péssimos que, infelizmente, gozam da proteção especial de certas autoridades. (SC. 1941, pág. 74 s).
A sinistra notícia.
Nos primeiros meses de 1942, Frei Crisógono adoeceu gravemente, sofrendo do fígado, mas se tratou e com rigorosa dieta voltou, dentro de 15 dias, para a Colônia, mas sentia-se envelhecido uns dez anos; a subida da matriz para sua casa lhe causava canseira. Mas cuidava dos seus paroquianos. No domingo, 17 de maio de 1942, não compareceu na hora da missa de cedo, o que estranhou o povo, porque ele não atrasava. Foram chamá-lo em casa... não respondeu... forçaram a porta... e o acharam na cama... morto! Consternação geral! Logo telefonaram às autoridades competentes da Colônia, ao Pe. Comissário, Frei Paulo Stein em Divinópolis, a Dom Cabral em Belo Horizonte, o qual manifestou seu grande pesar, autorizando, outrossim, que se fizesse o sepultamento na matriz da Colônia.
Com muito respeito e boa ordem, todos acompanharam o enterro até a matriz, a banda tocou músicas fúnebres. O próprio sepultamento foi feito na matriz.
Frei Geraldo van Sambeek foi nomeado vigário da Colônia Santa Isabel e capelão do Preventório São Tarcísio em julho de 1942 e logo dá suas impressões, que, em resumo, aqui seguem: Por falta de gasolina (estamos em plena Segunda Guerra Mundial), algum dia vou ao Preventório de charrete, a pé ou de caminhão para as confissões; aos domingos vou de caminhão, celebro a 1ª. missa, no Preventório às 7 horas, a 2ª. para as famílias dos funcionários, na capela das Irmãs, às 8 horas e a 3ª. na matriz, às 9 horas. Na véspera da primeira sexta-feira, gasto o dia todo para as confissões na matriz, na capela das Irmãs e, à noite, em minha casa, para os homens. No dia de 1ª. sexta-feira, de caminhão, vou ao Preventório para a missa das 5:15 h.; às 6 horas dou comunhão na capela das Irmãs, com exposição do Santíssimo, ladainha e consagração ao Sagrado Coração de Jesus e, por fim, a Bênção do Santíssimo. Às 7 horas celebro a 2ª. missa, na matriz (O Apostolado tem 75 homens e 130 mulheres). A influência das Irmãs nos pavilhões e enfermarias é benéfica para o povo praticar sua religião e é difícil algum deles morrer sem receber os sacramentos.
É na religião, e principalmente na S. Comunhão, que os doentes recebem forças para aguentar o sofrimento físico e, ainda mais, seu sofrimento moral de saudades da família, que, às vezes, por medo exagerado da doença, chega a abandonar e desprezar seus parentes doentes.
Como em outras paróquias, aqui também, há tríduos, novenas, procissões e até Semana Santa e mesmo festas com barraquinhas e coroações no mês de maio. Além do Apostolado da Oração, existe para os doentes a Liga Católica, com 48 sócios.
Não há Centro Espírita, mas uns espíritas isolados; há crentes: Pentecostais e Anabatistas: estes, às vezes, fazem seus batizados no rio que passa na Colônia. Tudo por tudo: o nível de religião e de moral dá, em geral, motivo de satisfação. (SC 1943, págs. 91-97).
Em fevereiro de 1944 foram realizadas as Santas Missões na Colônia pelo missionário Frei Godeberto Crijns. Foi um grande sucesso, na missa de encerramento e comunhão geral: quase todos comungaram. O vigário ficou radiante! Dias cheios, dias abençoados. Frei Godeberto. (SC 1944, págs. 67-69).
Frei Geraldo doente, quem nos informa é Frei Sabino Staphorst : O primeiro alarme foi dado no dia do seu aniversário, 29.10.1946, quando Frei Zacarias van der Hoeven e seu coadjutor estiveram presentes na celebração. Ambos notaram que Frei Geraldo tinha um aspecto de sofredor. Frei Geraldo foi então internado no Hospital São José, em Belo Horizonte. Nesse meio tempo, Frei Edgar Groot, sobrinho de Frei Geraldo e recém chegado da Holanda, veio morar na Colônia (17.10.1946). Frei Geraldo sofreu duas operações na vesícula biliar, sendo desenganado pelos médicos, mas em maio de 1947, saiu curado do hospital, cura essa que parecia pouco menos de milagrosa. (SC 1948 págs. 47). No domingo, 25 de maio de 1947, Frei Geraldo voltou para a Colônia, onde foi recebido festivamente.
No seu trabalho, Frei Geraldo teve um bom auxiliar em Frei Simeão van den Akker, que desde janeiro já morava na Colônia, quando Frei Edgar foi transferido para Pará de Minas.
A melhora de Frei Geraldo, porém, foi por pouco tempo. Frei Geraldo piorou e foi novamente internado. Custou-lhe muito perder as últimas esperanças de melhora, mas quando se convenceu, pediu para ser sacramentado.
Frei Geraldo faleceu em 25.04.1948 e, em cumprimento à sua última vontade, seu corpo foi enterrado no centro do cemitério da Colônia.
Em lugar de Frei Geraldo, foi nomeado vigário de Santa Isabel o Frei Hilário Verheij em maio de 1948. Com seu jeito delicado e seu zelo apostólico, começou a trabalhar ativamente e com muita dedicação. No começo de 1949, porém, viu-se obrigado a pedir exoneração do cargo por motivo de (falta) de saúde. E logo foi nomeado provisoriamente o sempre pronto para tudo Frei Simeão (SC 1949, pág. 17), um verdadeiro anjo de bondade neste lugar de sofrimento.
Frei Rogato Hoogma foi nomeado vigário definitivo, instalando-se no dia 15.08.1949. Muito esforçado e muitíssimo carinhoso, em poucos meses ganhou a estima, principalmente dos doentes, como se provou de maneira mais indiscutível possível no seu jubileu de 25 anos de vida franciscana, no dia 17 de outubro de 1949, quando o vigário foi homenageado por todas as Associações Religiosas da Colônia.
Serviço religioso
Um rigoroso horário possibilita Frei Rogato a cumprir com todos os compromissos paroquiais. Outra novidade é a Vila Lima, um arraial, encostadinho à Colônia, onde moram, misturadas, famílias doentes e sadias. A média de falecimentos varia de 15 a 20 por mês. Existem o Espiritismo, a Assembleia de Deus, Batistas, etc., mas o catolicismo ainda floresce e, se Deus quiser, se intensificará.
A estatística sobre 1949 mostra um pouco do movimento religioso: 1 paróquia, 4 capelas, 2.500 moradores, 360 pregações, 2 batizados de adultos e 102 de crianças, 27.530 comunhões, 42 casamentos, 182 E. Unções.
Na Lista Capitular de dezembro de 1949, consta Frei Rogato Hoogma como vigário do Leprosário Santa Isabel e Frei Hilário Verheij, como capelão no Preventório São Tarcísio (SC 1950, pág. 24).
Sem dúvida alguma, esta capelania, com um Frei residente no Preventório, foi um grande melhoramento, não só para as Irmãs e internos, como para os moradores em Mário Campos. Além do mais, para o vigário diminuiu o trabalho, como também lhe deu um companheiro vizinho, tirando-o do isolamento.
Frei Rogato continuou seu bom trabalho junto aos seus doentes. Com espírito de abnegação dedicou-se às suas tarefas. Enriqueceu a matriz com diversos melhoramentos. Criou um Boletim Paroquial, ele mesmo escreveu os artigos e notícias. Foi construída uma moderna capela-escola em honra de Nossa Senhora de Fátima. Na parte da assistência social o frei achou um campo aberto. Dava remédios, pomadas, dentaduras, rádios. Movimentou a vida religiosa e social.
Desde maio de 1955, a Colônia entrou no noticiário dos jornais, pelas aparições, multiplicação do vinho, chuva de pétalas de rosas, curas e romarias em honra de Nossa Senhora de Fátima. Os professores de Divinópolis examinaram todos os relatórios e acontecimentos e nada acharam de sobrenatural.
Em fevereiro de 1956, Frei Rogato foi nomeado vigário em Salinas e para o seu lugar chegou Frei Helano van Koppen, que trabalhou até janeiro de 1959. Frei Antonelo de Gruijter ficou no lugar de Frei Helano durante as férias deste à Holanda em 1958.
Frei Florino Verhagen veio substituir Frei Helano no comando da paróquia em janeiro de 1959; ficou até a sua ida à Holanda, em férias, no início de 1963. Quando retornou foi transferido para Teófilo Otoni. Trabalhou com bom ânimo na cura entre os leprosos, não só para acompanhar a vontade dos Superiores, mas por caridade e compaixão com aqueles sofredores.
Frei Guilherme Helsloot chegou para vigário na Colônia em dezembro de 1962, recém chegado de outro sanatório, o de Bambuí. Ficou na cura de almas destes irmãos, tão necessitados de cuidados pastorais até março de 1965.
Frei Edgar Groot chegou em março de 1965 e viu realizar-se o sonho de sua vida apostólica: ser vigário da Colônia Santa Isabel. Sobrinho de Frei Geraldo van Sambeek e primo de Frei Feliciano van Sambeek, Frei Edgar já havia estado na Colônia durante alguns meses, quando de sua chegada ao Brasil em 1946 e conhecia os desafios deste trabalho. Durante 15 anos dedicou-se integralmente ao apostolado entre os hansenianos. Nas palavras de seus paroquianos, Frei Edgar conviveu com os doentes internados, participou de suas dores e dificuldades, procurando transmitir-lhes o bálsamo consolador da palavra de Cristo. Trabalhou sem descansar, foi pontualíssimo em todos os seus deveres e compromissos assumidos. O amor de Frei Edgar pelas crianças era algo comovedor. Se elas atrasavam para a escola, todos notavam a sua preocupação, chegando às vezes a chamá-las pelo alto falante. Queria todas sempre bem arrumadinhas. Dava também grande apoio à Cruzada Eucarística. Não faltava à reunião nos primeiros domingos do mês. Mostrava grande delicadeza no confessionário, de modo que as crianças nunca se afastavam deste Sacramento. Na Semana Santa fazia a cerimônia do Lava-Pés com os meninos, lavando e beijando os pés deles com uma piedade comovedora. A emoção enchia de lágrimas os olhos de muita gente, de tão comovente que era.
Assim Frei Edgar passou os últimos 15 anos de sua vida. Celebrava as missas, levava a comunhão nas enfermarias, ouvia as confissões de primeira Sexta-feira, tomava conta também de Citrolândia e de Mário Campos, dava catecismo às crianças, angariava esmolas em Belo Horizonte, fazia distribuição de roupas e remédios na Ação Social, construiu uma nova capela para as Irmãs, reformou e ampliou a matriz, arrumava café para a Colônia inteira quando notava que os doentes ganhavam apenas água doce, intercedia junto à diretoria quando havia dificuldades ou quando os privilégios eram diminuídos, recebia as caravanas que vinham de Belo Horizonte trazer mantimentos e presentes. Participava dos aniversários dos confrades em Betim e Belo Horizonte, recebia visita de Dom João (Resende Costa, então Arcebispo de Belo Horizonte) e dos bispos auxiliares, sofreu acidente de carro, teve a casa arrombada, etc.
Com o passar do tempo sentia-se um pouco isolado e queixava-se que a velha guarda (frades mais velhos) recebiam pouca atenção.
De acordo com os assentamentos de Frei Olavo (Timmers), Frei Edgar faleceu às 21 horas do dia sete de julho de 1980, no CTI do Hospital da Previdência, em Belo Horizonte. Para lá havia sido levado pelos confrades de Betim na manhã do mesmo dia, quando Frei Edgar foi acometido por um edema pulmonar durante a sua Missa. O Padre Provincial, Frei Patrício de Moura Fonseca, que ficou com ele no hospital, recorda que o Frei falou pouco naquele dia, mas ficou com a cara alegre. Até o pessoal do hospital perguntou quem era esse frade que sorria tão satisfeito. Deve ter sido a satisfação pelo dever cumprido, e a tranquilidade de saber que os confrades estavam olhando por ele.
Na mesma noite do dia sete de julho, o corpo foi transferido para a Colônia, onde foi recebido com manifestações de muito carinho por parte das Irmãs, dos funcionários e dos doentes. No dia seguinte, às quatro horas da tarde, o povo da Colônia e de Citrolândia encheu completamente a grande Matriz, participando da Missa de corpo presente, concelebrada pelo Exmo. Bispo Auxiliar de Belo Horizonte Dom Arnaldo, o Sr. Capelão do Sanatório de Bambuí e uns trinta confrades. Em seguida, o zeloso vigário foi sepultado no cemitério da Colônia, ao lado de seu tio e predecessor, Frei Geraldo. Que descanse em paz! Que Deus o recompense pelos trabalhos. Não esqueçamos o exemplo que deu de piedade e dedicação. (In Memoriam de Frei Edgar, escrito por Frei Feliciano van Sambeek em 1980).
Não podemos esquecer também dos frades que, nestes 15 anos, substituíram ao vigário quando de suas férias na Holanda: Frei Basílio de Resende, de junho a dezembro de 1970; Frei Celso Márcio Teixeira, por apenas um mês, março de 1976; Frei Bento van den Broek, de abril a setembro de 1976.
Com o falecimento de Frei Edgar, a Província logo nomeou um sucessor, Frei Aurélio Peters, que trabalhou até maio de 1984.
Frei Diogo Reesink chegou como vigário em maio de 1984. Como seus antecessores, abraçou com profunda dedicação a causa dos hansenianos, que ainda formam um grupo bastante marginalizado na sociedade.
Em junho do mesmo ano, ganhou a ajuda de um vigário paroquial, na pessoa de Frei Francisco van der Poel, sendo este também um frade dinâmico e engajado nas lutas em prol dos pobres e sofredores sociais. Frei Francisco, pesquisador de arte e folclore popular, promoveu a reestruturação do Coral Tangarás de Santa Isabel, constituído por moradores da Colônia e fundado em 1936 em prol da fé e dignidade dos internos. Este Coral, ainda em atividade, já lançou vários discos, promovendo também um resgate da cultura oral brasileira.
Frei Osório da Silva Santos também chegou em outubro de 1984, para dar uma ajuda e ficou até maio de 1986.
Frei Diogo foi um vigário muito querido por seus paroquianos, sempre presente quando era preciso resolver questões importantes ou era consultado para aconselhamentos. Para ele, a pobreza e a doença não são a vontade de Deus e por isto se colocou na luta pelos direitos dos hansenianos.
A partir de 1985 a Paróquia Santa Isabel abriu suas portas para receber jovens frades franciscanos, estudantes de filosofia e teologia que, morando na Colônia, puderam complementar seu trabalho pastoral.
Em 1988 foi inaugurado o Eremitério Bom Jesus da Vitória. A construção, no quintal da residência da Colônia Santa Isabel, reproduz em tamanho menor uma das capelas de Ouro Preto. Está toda ornamentada com talhas de madeira feitas por artesãos do Vale do Jequitinhonha. A casa está aberta para os confrades que quiserem passar uns dias em oração ou se recuperando.
Em 1989 Frei Diogo foi nomeado Bispo de Almenara, Minas Gerais, pelo Papa João Paulo II. Em sua cerimônia de sagração, realizada em 21 de outubro de 1989 na própria Colônia, o espaço foi pequeno para conter as mais de mil pessoas presentes e teve de ser realizada a céu aberto. Um clima de emoção tomou conta das pessoas presentes e, o agora Dom Diogo, aproveitou mais uma vez para pedir às autoridades presentes a criação de mecanismos para dar maior assistência aos hansenianos.
Com a saída de Frei Diogo, a Colônia recebeu de braços abertos um novo pároco, o Frei Francisco Duarte Júnior, que chegou em agosto de 1989.
Os frades que, seguindo ao chamado de São Francisco, optaram por trabalhar na Colônia Santa Isabel sempre foram bem recebidos, queridos pelo povo e respeitados. Com o passar do tempo, com a cura e controle da hanseníase, os doentes puderam ter um pouco de sua dignidade resgatada. Os franciscanos continuam atuando na paróquia, com carinho e dedicação. A Província Santa Cruz mantém um Projeto de Erradicação da Hanseníase, em que os frades percorrem os municípios de Minas Gerais, conscientizando a população através de palestras e material informativo, sobre os sintomas e medidas preventivas para se evitar o contágio.
Eis a lista dos frades que trabalharam na Paróquia Santa Isabel, a partir de 1984.
Vigários
Frei Diogo Reesink.