Fonte: WILLEKE, Venâncio. Missões Franciscanas no Brasil (1500-1975). Petrópolis: Vozes, 1974, p. 154s.
Desde que o marquês de Pombal, em 1758, mandara afastar os religiosos das missões amazônicas, estava praticamente paralisada a catequese entre todas as tribos do extremo Norte. Dom Pedro II desfechou, em 1855, o golpe mortal à vida claustral interditando definitivamente os noviciados de todo o Brasil. Mas, por contraditório que pareça, o mesmo imperador se viu obrigado a contratar missionários europeus para a evangelização e civilização dos silvícolas. Pois queria que os índios, a serem aldeados pelos missionários, garantissem as zonas fronteiriças contra o perigo da invasão e anexação pelos povos vizinhos.
As negociações sobre a nova missão amazônica principiaram em La Paz, Bolívia, onde o ministro brasileiro Lopes Neto, em 1869, tratou do assunto com o religioso italiano Frei Samuel Mancini, OFM., a quem prezava como franciscano exemplar. Verificando que esse e outros frades já tinham prática na catequese dos índios bolivianos, e encontrando eco aos seus projetos, o diplomata propôs a Frei Samuel uma visita ao Rio de Janeiro, a fim de tratar com Dom Pedro II.
O franciscano seguiu para o Brasil e, após uma audiência com o imperador no Rio, continuou a viagem para a Itália. Nada consta das conversações havidas entre o monarca e o religioso, senão que este aceitou o convite confirmado de fundar missões com sede central em Manaus. A pronta aquiescência de Frei Samuel foi precipitada porque, na qualidade de franciscano, 154 deixou de procurar informes sobre a situação da Ordem Seráfica no Brasil e suas relações com a corte. Pois, como estranho, mas interessado em exercer o ministério sagrado no País, não podia ignorar o estado precário das províncias franciscanas brasileiras, nem deixar de declarar-se solidário com os confrades oprimidos. Ademais, a melhor garantia das projetadas missões consistiria em recrutar religiosos brasileiros reabrindo-se, para esse fim, ao menos um dos noviciados franciscanos do País. Desde que Dom Pedro tanto se interessava pela fundação das missões amazônicas, teria tido a alternativa de ou reabrir o noviciado ou ficar sem os missionários.
Na Itália, Frei Samuel convenceu-se em breve das barreiras quase intransponíveis que se opunham ao seu projeto missionário. O superior geral dos franciscanos, Frei Bernardino dal Vago, deu a entender que, em virtude da crise italiana, nenhuma província poderia assumir encargos missionários em Manaus. E quando o ministro brasileiro em Roma Dr. João Batista Figueiredo apelou para a Santa Sé a fim de acelerar a causa de Manaus, Frei Bernardino apenas consentiu numa fundação provisória, sem oferecer qualquer garantia e fazendo depender tudo da missão boliviana.
Pouco valera ao ministro a promessa de assumir todas as despesas da futura missão e a generosa oferta que D. Macedo Costa, bispo de Belém do Pará, fizera a Frei Samuel facultando-lhe como residência o seminário menor de Manaus. Entrementes. chegara outro confrade da Bolívia, Frei Jesualdo Machetti, OFM, que desde 1853 trabalhara na catequese dos índios. Ambos aproveitaram as férias para recrutar voluntários para as missões amazônicas.
Aos 5 de setembro de 1870 D. Pedro II, recebendo em audiência os seis missionários destinados para Manaus, estranhou o pequeno número de catequistas para a imensa região amazônica. Em Belém do Pará, Frei Vicente Rochi adoeceu tão seriamente que voltou incontinenti para a Itália. A 10 de novembro chegaram a Manaus Frei Samuel, Frei Jesualdo e Frei Teodoro Portaraso, e, no dia 24, Frei Luís Zaccagni e Frei Angelo Frattegiani. Depois de alguma demora no seminário menor, passaram os franciscanos para a capela de São Sebastião, dedicando-se de início ao estudo do idioma, à cura d’almas e à direção da Ordem Terceira por eles fundada.