"Em novembro de 1693, chegaram ao Pará contratados para substituírem os jesuítas de Mariocai os primeiros missionários da província portuguesa da Piedade recebendo Gurupá e o território entre os rios Trombetas e Gueribi, bem como o vale do Xingu. Também estes franciscanos encontraram muita resistência da parte dos colonos quando tomaram a defesa dos direitos dos índios. Frei Pedro de Redondo (+1710), que ardorosamente defendeu os nativos de Serapatuba reclamando contra a exploração dos mesmos em trabalhos públicos, pagou caro sendo deposto. Nesta época, os índios Piriqui mataram os padres Frei Pedro de Évora e Frei Antônio da Vila Viçosa. O exército colonial vingou o crime castigando os pagãos moradores do rio Atumá.
A Câmara de Belém, em carta dirigida a El-Rei e datada de 19.VII.1704, critica duramente todas as ordens missionárias pelas negociações excetuando apenas os franciscanos da Piedade que ‘não faltam com a doutrina e cura espiritual, mas o (sic) consideram acessório à jurisdição temporal’.
Em 1720, o comissariado da Piedade administrava as dez missões seguintes:
- Nossa Senhora da Piedade de Gurupá;
- São José de Arapijó, entre os índios Capuna;
- Santa Cruz, composta dos seguintes grupos: Aracaju, Corascorati, Ambiquara, Manaus;
- São Brás de Maturu, com os Torá;
- São Francisco de Gurupatuba, com estes grupos: Tapiassu, Apama, Gonçari, Manaus;
- Santo Antônio de Surubiu, com os Apama, Crossam e Manaus;
- Santo Antônio de Curuamanema, com os Baré e os Taquiponá ou Nambiquará;
- Santa Ana de Pauxis (atual óbidos, sede prelatícia), com os Pauxis, Arapiu, Coriati e Candori;
- São João Batista, com os Jamundá;
- São João Batista, com os Tocantim.
Os Franciscanos da Piedade mereceram a seguinte apreciação do atual historiador mais afamado da Amazônia Ferreira Reis: ‘...obtiveram êxitos sensíveis, montando aldeamentos, operando descimentos, convertendo dezenas de tribos, explorando rios como o Trombetas e o Jamundá, disciplinando o gentio com que tomavam contacto ou sobre que recaía sua atenção mais direta. Só em 1727, no Trombetas, conseguiram reduzir toda a massa gentílica, distribuída em mais de duas dezenas de tribos que se espalhavam, até a zona tida como fronteira da colônia holandesa de Surinam. Frei Francisco de São Marcos foi o herói desse feito’.
Outros missionários de destaque foram Frei Manuel de Marvão, Frei Francisco de Alvor e Frei Alexandre de Portel. Embora criticados por uns, os Piedosos mereceram o elogio de D. João de São José, bispo de Belém. Não Ilhes faltaram atritos com as autoridades militares de Pauxis e Gurupá, sendo, porém, sempre bem-vistos e aceitos. Quando o marquês de Pombal tomou as rédeas do governo, as missões da Amazônia foram extintas e os Franciscanos da Piedade expulsos, em 1757."
Fonte: WILLEKE, Venâncio. Missões Franciscanas no Brasil (1500-1975). Petrópolis: Vozes, 1974, p. 148-150.