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Franciscano/a

  • Alt
    Identificador:
    11545
    Nome:
    Fr. Turibio Gomes Leal (Antonino), OFM (Antônio Gomes Leal)
    Sexo:
    Data de nascimento:
    26/10/1908
    Data de falecimento:
    14/10/1932
    Lugar de nascimento: Teófilo Otoni, MG
    Lugar de falecimento: Venray, NL
    Estado eclesiástico:
    Notas Biográficas:

    IN MEMORIAM

     

    Foi este Antonino o primeiro aluno de sangue brasileiro que entrou na Ordem no dia 7 de Setembro de 1930 e era mesmo no fim deste ano de 1936, que havia de ser ordenado sacerdote. Mas as primícias de toda a ceifa sejam sacrificadas ao Altíssimo.

    Foi este Antonino o nosso caro frei Turíbio, o nosso santo irmãozinho. Não isso não é demais. Em uma carta recente, reproduzida na "Palestra" do Collegio Seráfico, lemos que na Hollanda elle sempre ainda é chamado o santo fradinho.

    A Santa Cruz parece-me o lugar próprio para escrever alguma coisa sobre este nosso santo collega: primeiramente em honra d'elle; para os confrades como supplemento necessário à necrologia breve, muito breve, na Neerlândia Seráfica 1); para nós, presbyterandos, como estímulo, mas também como consolo: temos nelle um optimo auxiliador.

    Depois das férias de agosto de 1929, quando voltamos ao collegio de Sittard, estava lá na sala de recreio um padre conversando com um rapaz um pouco magro, cabelleira espessa e preta, o rosto queimado do sol, os olhos negros e vivos: o nosso estudante, o Brasileiro. Uma breve apresentação e o padre foi-se embora. Desenvolveu-se uma conversa muito internacional, latim, francez, hollandez e portuguez. Mas este internacionalismo foi o primeiro passo a uma amizade alegre e cordial. Desde aquele momento elle tornou-se um dos nossos. Elle gostava de brincadeiras, de prazer e era muito expansivo. Assim logo se costumou comnosco. Certamente, difficuldades não lhe faltavam. Os hollandezes com seu caracter jocoso não eram conforme à sua mentalidade. A demais que nem sempre comprehendia tudo. Mas elle soube vencer-se neste ponto. Como? O seu bom humor e piedade, unidos com seu espírito de convivência, explicam-nos tudo sufficientemente.

    Alem disto depressa se acostumou ao novo meio e á mesa hollandeza, para elle tão estranha. Dali que logo de magro que era, tornou-se gordo. Elle mesmo ria-se pelo fato que seu paletó tornára-se apertado demais e, para remediar este defeito, tivéra de ajusta-lo com um cordãozinho!

     

    Assim fomos para o noviciado e recebemos o hábito. Ainda o vejo em pé, rindo, no seu hábito grosseiro. Em palavras não mostrou a sua alegria, mas aquelle rosto risonho dizia-nos tudo. Seu noviciado pode ser caracterizado com esta palavra - pontualidade.

    Elle fazia o que se mandava. Em tempo de silêncio não conversava; se alguém lhe dizia alguma cousa escutava, sorria e continuava seu caminho. Um beato, não o era. Si havia recreio recreiava-se como qualquer outro. Ainda lembro-me d'uma occasião em que havíamos de lavar os pratos. Com toda força cantávamos cânticos hollandezes e brasileiros. P. Guardião e P. Mestre espreitavam-nos pela janella e não podiam deixar de rir gostosamente.

    Sua cella era ao lado da minha. Pois bem, uma só vez em todo o anno veio elle "dar uma proza" e estou certo que esta foi a única vez que fez tal. Isto aconteceu quando recebera alguns livros de seu pae. Alegremente m'os veio mostrar; e com tanto enthusiasmo que nem percebeu a presença do P. Mestre. Este em vez de zangar-se, gostou, pois já então começara sua primeira doença: nostalgia, Questões familiares, poucas notícias e o silêncio do noviciado trouxeram-lhe recordações do lar distante. Nós mesmos não o percebemos, mas mais tarde elle o concedeu a frei Gonzaga, quando este veio visitá-lo, pois esquivando-se da sua pergunta se tinha saudades respondeu: "Não senhor, agora já passou Mas isto já o tinha enfraquecido demais. De novo era elle o magro Antonino. Logo após a profissão cahiu de cama; a doença que já tivéra-pleuresia tornou-se tuberculose pulmonar. Não obstante os cuidados do medico não diminuía o puz dos pulmões, de sorte que teve de partir para o hospital de Venlo. Certamente foi isso para elle um sacrifício; com paciência porém supportou tudo. No hospital não o comprehendiam bem. Elle no entanto soube novamente calar-se. Com outras pessoas não fallava sobre sua doença. Conforme a opinião do cirurgião o único remédio applicavel era operação. Não nos compete julgar sobre esta decisão. Entretanto frei Thuríbio em vez de melhorar tornou-se cada vez peior: agora soffria de tuberculose ulcerosa. Muito padeceu com isto. Os confrades de Venlo outros conhecidos e mesmo os seus collegas de Venray visitavam-no constantemente, dando-lhe assim alguma. distracção. Estava sempre alegre, mas soubemos da irmã enfermeira que elle soffria muitas dores. E além disso tinha saudades do convento.

    Algum tempo depois voltou de novo a Venray, mas infelizmente pouco remediado: em todos os lados feridas; a tuberculose attacara-lhe as junturas de tal modo que o menor movimento causava-lhe horríveis dores. Nos primeiros dias parecia ter melhorado um pouco, mas logo depois recahiu de novo. Algum conforto trouxe-lhe a vinda dos dois patrícios frei Orlando e frei Olympio. Mas no entanto não durou muito e a sua situação tornou-se peior de dia para dia. Elle mesmo sabia que não lhe restava mais muita esperança de melhorar. Quando conversava-se com elle sobre o Brasil elle mostrava-se contente e fallando os oito novos missionários que para lá em breve partiriam elle sorria mas seus pensamentos dirigiam-se a uma outra Pátria.

    Deus exigiu seus direitos sobre as primícias a Elle devidas.

    E agora nosso caro Thuríbio nós estamos no Brasil na tua terra, com teu povo. Como sacerdotes occupamos nós o teu logar. Mas somos estrangeiros. Ainda não somos santos. Oh reza, reza por nós que o nosso sacrifício seja agradável a Deus e que sejamos santos sacerdotes para podermos trabalhar fructuosamente no nosso Brasil.

    Nós estamos no Brasil longe da nossa pátria, da nossa família. Sabes, sabes muito o que quer dixer isso. Lembra-te disso no dia das 0rdenações e reze por nós. Mas não esqueças-te de nossos paes. Para elles o sacrifício de não ver o seu filho sacerdote é tão grande, tão custoso. Resa por elles que Deus lhes dê a graça de offerecer seu sacrifício alegremente.

    Reza muito deante o throno de Deus, de certo receberás tudo porque és o seu amigo, o servo que elle elegeu.

    Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1936, p. 90 a 92

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SATLER, Fabiano Aguilar. Fr. Turibio Gomes Leal (Antonino), OFM (Antônio Gomes Leal). Rede Internacional de Estudos Franciscanos no Brasil. Disponível em: http://riefbr.net.br/pt-br/content/fr-turibio-gomes-leal-antonino-ofm-antonio-gomes-leal. Acessado em: 31/01/2025.