O autor, Fr. João Bautista de S. António (1683-17-?), foi Vice-Comissário Geral da Obra da Terra Santa. Nesta obra, documenta a devoção de um brasílico pelos lugares santos em Jerusalém, o afamado sertanista e explorador de minas de prata Belchior Dias Moreira.
Belchior, depois de tomar parte na expedição realizada entre 1587 e 1590, para a conquista do Sergipe, estabelecera-se ali, à margem do rio Real, com fazendas de criação. Sentindo aproximar-se a hora da morte, fez as suas últimas vontades, acrescentando uma cláusula a favor da Obra da Terra Santa, cujo teor nos conservou frei João Batista. O autor, enumerando no seu Paraíso Seráfico as doações testamentárias feitas no Brasil em benefício dos Lugares Santos, menciona em primeiro lugar, por ser a mais antiga que conhecia, o legado do sertanista nestes termos:
Agora será a primeira prova de devoção de Belchior Dias Moreira, morador no rio Real de Cima, da capitania de Sergipe del-Rei, sertão da Bahia, que instituiu uma capela a que anexou os rendimentos de dois currais de gado, ordenando que em cada um deles conservassem um cento de vacas; e que no fim de quatro anos depois do seu falecimento, todos os bois que se achassem e tivessem os mesmos quatro anos seriam metade para os Lugares Santos, e outra metade para a Santa Casa de Misericórdia do mencionado Sergipe. Declarou mais que no ano seguinte seriam metade do administrador todos os que se achassem da mesma idade de quatro anos, pondo-lhe algumas obrigações sobre isto; mas que no outro ano adiante pertenceriam às ditas esmolas (da Terra Santa), as quais dispôs fossem perpétuas com a alternativa declarada, um ano para os legados, e outro para o administrador, todo o fruto que as duzentas vacas produzissem. E para que a sua caridade fosse perpétua, ajuntou algumas cláusulas a esta instituição no seu testamento, que fez em vinte de julho de 1622. Serviu, contudo, esta administração de alimento à cobiça, pois com as mesmas rendas da capela estão fazendo guerra os administradores aos da Terra Santa. (Paraiso Seráfico I, 417)