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Franciscano/a

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    Identificador:
    11502
    Nome:
    Fr. Feliciano Smitz, OFM (Felix August Johann Smitz)
    Sexo:
    Data de nascimento:
    18/07/1881
    Data de falecimento:
    09/03/1940
    Lugar de nascimento: Venray, NL
    Estado eclesiástico:
    Notas Biográficas:

    IN MEMORIAM

     

    Mais um golpe doloroso acaba de sofrer o nosso Comissariado "Fikkie", o popular e querido confrade, morreu, tragicamente. Foi um dos colegas que mais trabalharam "no duro Sempre alegre, sempre pronto para qualquer serviço, sabendo como S. Paulo "penuriam pati", incansável a cavalo, cavaleiro como poucos, Dom Serafim deu-lhe o apelido de Frei Elétrico, pela espantosa velocidade com que atravessava às matas. Na revolução de 32 acompanhou os soldados mineiros para S. Paulo, compartilhando todas as privações deles, dormindo no chão duro e apanhando como eles sol e chuva. Era a simplicidade e bondade em pessoa, espirituoso ao mesmo tempo, pobre de espírito no sentido mais elevado. Sua morte inesperada foi um golpe duro para todos nós.

    De cartas, recebidas de Frei Leobino e de Frei Virgílio extraímos os seguintes pormenores sobre sua doença e morte.

    Da carta de Frei Leobino. Depois que Frei Feliciano foi residir em Alcobaça, começou a decair e a envelhecer. Na festa de S. Bernardo, 20 de agosto, comeu carne deteriorada e depois nunca mais se restabeleceu. Não gostava de consultas médicas, sim, muito, de mezinhas. Foi a Teófilo Otoni para se tratar, ficou mais forte, mas quando voltou, verificou-se que não tinha consultado nenhum médico. No princípio de janeiro tive de fazer uma viagem e combinamos que ele, logo depois do meu regresso, se iria tratar seriamente. Quando cheguei da viagem, Frei Feliciano me pareceu estar tão mal que escrevi a Frei Paulo pedindo licença para ele ir ao Rio. A resposta telegráfica veio, mas o médico disse que não era preciso.

    O que provou que o médico também se pode enganar e não deve pensar que os padres não entendem nada dessas coisas. Em um ano eu vi morrer mais gente do que o nosso médico nos cinco anos da sua prática. - Eu tive de ir para o retiro, Frei Celestino ficou com o Vigário.

    Um belo dia, o médico se assustou, pelo resultado do exame da urina. Quando poucos dias depois voltei, julguei ver um cadáver. Imediatamente se tratou de arranjar um avião. Mas como a lotação estivesse completa, só no sábado seguinte, 2 de março, poude partir. "Fik" meio choroso desceu a escada, cambaleando; o caminho, cem metros, era muito para ele, foi preciso chamar um auto. Embarcou num escaler e, morto de cansaço, chegou ao embarcadouro. Foi preciso esperar bastante tempo, o banco era duro e incomodo é depois de alguns minutos Frei Feliciano disse ao Zeca que ia desmaiar. Realmente começou a gemer, os olhos viraram de modo que só se via o branco, a língua se dobrou e se encostou nos dentes. Assim, devagar, caiu para um lado. Pensávamos que ia morrer. Segurei a cabeça dele entre as mãos, deitamos-lhe na boca um pouco de café, o que provocou o vomito, de modo que começou a sentir-se um pouco melhor e se deitou no banco.

    Do Rio depois nos mandaram dizer que tinha chegado bem e fôra internado num hospital: Oito dias depois veio o telegrama da sua morte.

    Da carta de Frei Virgílio.

    Sábado, 2 de março, chegou aqui de avião; estava cansadíssimo e de péssima aparência; quis só beber um pouco de água e foi para a cama, mais não poude dormir a noite inteira. No dia seguinte dei-lhe a S. Comunhão. Estava mais animado, andou até um pouco dentro de casa, comeu um pouco de sopa e alguns biscoitos, com bastante apetite, mas as dores dos intestinos não o abandonaram nem um instante.

    Como evidentemente precisasse de cuidados médicos prontos e enérgicos, foi ainda no mesmo dia transferido para a Casa de Saúde Dr. Eira, no Botafogo. Foi examinado incontinenti pelo médico diretor Dr. Schillings com dois assistentes, mas não chegaram a um resultado positivo. Segunda feira teve ordem de descansar e tentar comer alguma coisa, porque estava extremamente debilitado e sub-alimentado. Tomou várias injeções, que lhe restituíram o apetite e fizeram cessar as dores. Frei Feliciano começou de novo a rir e caçoar. Terça-feira houve exame radioscópico, que durou 2 horas inteiras e o cansou muitíssimo.

    O resultado foi: obstrução grave intestinal, mas mesmo a radiografia não poude patentear a natureza da obstrução. Quarta-feira, nova consulta médica, e resolveu se proceder a uma operação, que foi marcada para o dia 11.

    Entrementes continuaram as dores intestinais e acabou-se o apetite. Sofreu com a máxima resignação e não perdeu a esperança de se curar.

    Nós, os confrades de Cascadura e Cavalcante fomos diariamente visitá-lo. Ainda duas vezes poude comungar, nos outros dias foi impossível por causa dos vômitos. Sexta-feira me pediu que no dia seguinte lhe enviasse Frei Flaviano, porque se queria se confessar com ele.

    Na noite de sexta feira para sábado veio o telefone: Frei Feliciano está muito mal. Imediatamente fomos lá, de auto, mas já o encontramos morto. A Irmã enfermeira nos contou: Sexta-feira pelas 7 horas Frei Feliciano, inesperadamente, poude soltar muitos peidos e defecar bastante, depois se sentiu tão bem que pelas 9 horas disse à Irmã: pode ir dormir, porque me sinto tão bem como não me senti há muito tempo. E a Irmã foi dormir. A uma da madrugada, o rondante foi ver e achou o padre moribundo. Chamou a Irmã, esta chamou, pelo telefone, ao capelão da casa, mas quando este chegou, já achou um cadáver. Quando nos telefonaram: Frei Feliciano muito mal, - este já tinha morrido. A Irmã nos disse que suas palavras foram estas: Acabou tudo, - meu Jesus, misericórdia! Morreu a uma e meia da madrugada do dia 9 de março. A noite do mesmo dia, sábado, foi enterrado, no cemitério de Jacarepaguá, saindo o féretro da nossa casa de Cascadura. No atestado o médico declarou como causa mortis: obstrução intestinal e síncope cardíaca. No sábado celebrei por ele a missa de corpo presente e sábado 16 de março será a missa de 7° dia.

    Curriculum Vitae

    Nasceu 18 de julho de 1881, tomou o hábito a 7-9-1901, ordenou-se a 29-3-1908, veio para o Brasil a 19-12-1911, morou em São João del Rei até 31-5-1912, em Ouro Preto até 15-4-1913, em Teófilo Otoni até 3-9-1913, em Joaíma até 9-11-1920, em Vigia até 25-11-1922, em Teófilo Otoni até outubro de 1924, em São João del Rei até 18-8-1925, em Cordisburgo até 11-12 do mesmo ano, em Ouro Preto até 12-7-1929, foi vigário de Carlos Prates até 4-3-1932, morou em Ouro Preto até 5-6-33, em Bela Vista do Fão até 8-3-34, em Teófilo Otoni até 15-10-36 e foi vigário de Caravelas até sua morte.

    Por Frei Leobino Kraakman

    Por Frei Virgilio Hoogenboom

    Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1940, p. 48-49 e 62-63.

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como citar este conteúdo
SATLER, Fabiano Aguilar. Fr. Feliciano Smitz, OFM (Felix August Johann Smitz). Rede Internacional de Estudos Franciscanos no Brasil. Disponível em: http://riefbr.net.br/pt-br/content/fr-feliciano-smitz-ofm-felix-august-johann-smitz. Acessado em: 19/01/2025.