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Filho de numerosa família de agricultores, nasceu Frei Burcardo Sasse, em Backum, diocese de Münster, Alemanha, em 24 de novembro de 1870. Além dele outro irmão dedicou-se ao estado eclesiástico, porém, diocesano. Ingressou Frei Burcardo no noviciado franciscano em Harreveld, Holanda, em 6 de outubro de 1889. Estudante de filosofia chegou a Salvador, BA, em 10 de julho de 1894, sendo lá ordenado presbítero em 30 de junho de 1895. Começou seu ministério sacerdotal em Santa Catarina, para onde foi enviado em 1896, atuando sempre na pastoral. O seu ideal, porém, era tornar-se missionário popular, para levar o Evangelho ao povo. Parecia talhado para isso: "sua estatura alta, forte bem formada, sua voz sonora e resistente (nos tempos em que não havia microfone e alto-falante), seu espírito de adaptação, elaborando os seus temas conforme o ambiente, a facilidade de compreender o espírito do povo e o respeito que votava às tradições populares" (Vt. F, p. 57). Conscienciosidade, tenacidade, palavra simples, clara e convincente, pregou conforme testemunho de colegas, perto de 600 missões populares, em terras gaúchas, catarinenses, paranaenses, paulistas e fluminenses. "Quando de sua primeira viagem ao planalto catarinense, em 1899, esteve em contato com índios selvagens. Foi na Serra dos Padres, uma picada difícil, incômoda e completamente erma, onde os "coroados" estavam à espreita da presa. Frei Burcardo passou subindo a pedregosa ladeira, com seu companheiro e guia. Os animais de montaria levaram flecha certeira no cachaço, tombando a pouca distância. Também o companheiro de Frei Burcardo caiu mortalmente ferido. O nosso confrade assistiu os últimos momentos do infeliz viajante, administrou-lhe às pressas os sacramentos e, depois, prosseguiu a pé, rumo ao planalto, onde, passadas duas horas encontrou a primeira habitação. No dia seguinte, com um grupo de caçadores, Frei Burcardo voltou ao lugar do ataque, enterrou o falecido e assistiu a colocação duma cruz tosca, na sepultura" (Vt. F, 57-58). Durante dezenas de anos, Frei Burcardo viveu, trabalhou, consumiu-se pelas missões, até que um dia, quase cego, alquebrado, enfermo, chegou ao convento de Santo Antônio do Rio de Janeiro, RJ. Descansar? repousar? nunca! nem pensar nisso. Os anos de cegueira, de vida sedentária, de clausura foram aproveitados para a elaboração de uma pequena série de três volumes, com explanações sobre os "Exercícios Espirituais de Santo Inácio". Que trabalho insano! com um dedo da mão direita procurava a letra e então batia a tecla na máquina de escrever; na mão esquerda segurava a lente de aumento, procurando os textos, sempre citados escrupulosamente. Era uma morosidade desesperadora, mas havia ali uma força de vontade admirável. Era um trabalho custoso que requeria a paciência de um Jó, e os méritos de um santo. Depois da morte do venerável Frei Rogério Neuhaus em 1934, passou a atender um número crescente de confissões. A deficiência dos olhos tornava-se em certas épocas, maior ou menor. Nesta situação, sentado numa cadeira, rezava em voz alta e pausada o seu terço. Sentiu fortemente as privações que a quase cegueira lhe impunha, mas nunca se abateu. Por custar-lhe fazer a barba, obteve autorização para deixá-la crescer. Tornou-se longa e branca, dando-lhe o aspecto de um venerável patriarca do Antigo Testamento. Em 6 de outubro de 1939 celebrou o jubileu áureo de vida franciscana, foi um dia de intensa alegria e satisfação. Recebeu (como era costume na época) o báculo de ancião, encimado por um grande "50", além de uma coroa de louros. Depois, a doença progrediu rapidamente, era a diabete que não pôde mais ser controlada. Em 14 de outubro de 1941, às 6:20 horas, o Senhor chamou esta grande alma missionária.

Fonte: JEILER, Inácio. Confrades da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, falecidos nos primeiros 50 anos da restauração (1891-1941). São Paulo: Província Franciscana Imaculada Conceição, 1990, p. 247.