Frei Samuel Tetteroo.
O primeiro franciscano que passou por ali, como em tantos outros lugares do Nordeste mineiro, foi o nosso descobridor, Frei Samuel Tetteroo, como ele mesmo escreve em suas Memórias: De 9 a 22 de dezembro de 1913 visitei os pousos seguintes: Córrego de S. Antônio de Água Branca, Galdino - pela primeira vez - João Apolinário, Macário - onde benzi o cemitério - Tiburtino, João Gomes - onde falhei um dia - e depois, passando pelo Comercinho do Norte, fui até Lucindo, donde pela primeira vez fui à Barra das Umburanas. Daí, por uma estrada nova, mais ou menos no km 158, saí na estrada Urucu (= Carlos Chagas) - São Miguel (Jequitinhonha), visitei os pousos do Manoelão, Rio Negro, Severo Ciríaco de Cristo. Antes de chegar a este último pouso, fui, a convite de Cesário Matias de Almeida, ver o sítio na Barra do Ribeirão Águas Belas, onde pretendem formar um novo Comércio. Escolhi o lugar da capela, determinei que se reservasse para ela um hectare em redor, como patrimônio. Como Padroeiro foi escolhido São Boaventura. O lugar será denominado São Boaventura de Águas Belas. Eu prometi dar a imagem do Padroeiro. De Severo fui a São José do Pampã e daí para Joaíma, para celebrar a festa do Natal. (SC.1941, p.45).
Em agosto de 1915, novo bispo de Araçuaí, Dom Serafim Gomes Jardim, em sua visita ao Padre Comissário Frei Júlio em São João Del Rei, manifestou seu plano de criar mais uma paróquia entre Jequitinhonha e Teófilo Otoni em Joaíma ou Águas Belas.(SC. 1974, p.199).
Pela primeira vez celebrou-se a festa em Águas Belas no próprio dia do Padroeiro, São Boaventura, em 14/07/1917. Apesar da crise, o rendimento pecuniário em benefício da capela considerável e também quanto ao espiritual não se podia queixar. A festa, com procissão e tudo, correu tão esplendidamente que todos estavam de acordo em como nunca se tinha celebrado nenhuma festa com tanta ordem e devoção, num raio de muitas léguas em redor. Isso, devido principalmente à energia de Frei Querubim Breumelhof (sucessor de Frei Samuel que, ameaçado de morte, por precaução, fora transferido para Teófilo Otoni) e à de Cesário Martins, fundador das Águas Belas.
Em julho de 1918 Frei Gualberto Schoonhoven (que ficou no lugar de Frei Querubim), foi para a festa de São Boaventura em Águas Belas. Tudo correu muito bem, no fim o festeiro não quis prestar contas, razão por que resolvemos não fazer mais festa em Águas Belas por enquanto.
Em fins de outubro de 1920, Frei Feliciano foi transferido para Vigia e Frei Querubim voltou para Joaíma. Logo fez diversas viagens, pois ele gostava mais de viajar do que ficar em casa. Assim, em 08 de dezembro de 1920, fez uma festa em Águas Belas. (SC.1943, p.84). Na visita pastoral de Dom Serafim, acompanhado só de Frei Gonzaga Gouverneur, os Freis Gualberto e Querubim, em todo o Distrito do Pampã, de 29 de maio a 26 de junho de 1921, juntaram-se a eles, em viagem muito agradável. Em Águas Belas Dom Serafim nomeou o hospedeiro Manuel Toco e Senhora zeladores da capela, com que ficaram muitos satisfeitos.
Em fins de 1937, os superiores resolveram criar mais uma freguesia e sim uma localizada entre as duas paróquias imensas de Urucu e Jequitinhonha. Quem ficou encarregado com a fundação da nova residência foi Frei Letâncio, para ele escolher o lugar mais vantajoso. Civilmente. Águas Belas, em caminho de ser Município e cidade (17/12/1938), mereceria a preferência, mas Frei Letâncio escolheu São Sebastião do Norte (distrito de Águas Belas) por ser mais central e mais religioso. Ali fixou sua residência a 07/01/1938. Dali organizava suas viagens e seus giros e podia visitar regularmente a capela de Águas Belas.
Em abril-maio de 1946, o bispo de Araçuaí, Dom José de Haas, fez a visita pastoral no Município de Águas Formosas, com assistência de Frei Manuel Smeltink e Frei peregrino. E Frei Manuel nos informa: Nestas matas mora muita gente, gente boa e religiosa. Quanto espírito de sacrifício encontramos neste povo! Mui tos chegaram de seis, nove léguas de distância para se confessar, comungar e receber a crisma, pois não foram poucos os adultos que foram crismados nesta viagem.
No Município de Águas formosas foram visitados os seguintes lugares: Santa Luzia, Crisólita, Fazenda, São Pedro, Umburatiba, Bertópolis, Umburanas, São Sebastião do Norte, Águas Formosas, Pampã. O resultado total foi de 6.311 comunhões, 99 casamentos, 556 batizados e 4.634 crismas, com movimento maior no Norte.
É interessante reparar como Frei Peregrino, em seus artigos sobre a sua paróquia sempre dá notícias sobre São Sebastião do Norte e raras vezes nos conta algo sobre Águas Formosas. Ali tudo OK?... Boa notícia deu a Santa Cruz em janeiro de 1947: a nomeação de um coadjutor: Frei Angelino Steverink: bom colega e zeloso pastor e sonoro cantor de óperas. Na lista capitular da nossa nova Província em fins de dezembro de 1949 ambos foram confirmados em seus postos - Frei Peregrino vigário e Superior em Machacalis e Frei Angelino coadjutor com incumbência especial por Águas Formosas. Após suas férias na Holanda em 1950, Frei Angelino, em janeiro de 1951, foi transferido para Teófilo Otoni. E para Águas Formosas foi nomeado o professor de São João Del Rei, o nosso já bem conhecido Frei Letâncio. Assim a coisa melhorou bem, como se vê na estatística do movimento religioso em Águas Formosas sobre o ano de 1950: 1 paróquia, 35.000 habitantes, 9 capelas, 165 pregações, 1.809 batizados, 6.000 confissões, 9.215 comunhões, 278 casamentos, 27 E, Unções, 14 Terciários.
E depois? Em Águas Formosas nossos confrades Letâncio, Frederico e Afonso com Peregrino, cada qual na sua época, trabalharam bem até 1984, quando, por falta de padres, a nossa província se viu obrigada a devolver a paróquia à diocese. Nossa missão ali estava cumprida. E Águas Formosas está em boas mãos!
Por Frei Helano van Koppen Fonte: Livro Nossas Paróquias Mineiras 1991, p.80-81. .