A sede da freguesia ficou sendo em caráter provisório, a Igreja do Santo Sepulcro, em Cascadura.
No dia 22 de julho do mesmo ano, tomou posse o seu primeiro vigário, frei Benigno van Osch, acompanhado de seu coadjutor frei Roberto Cornelisse.
Em 21 de fevereiro de 1926, é empossado frei Leopoldo van Winkel como novo vigário. Foi ele o responsável pelo fortalecimento espiritual da paróquia. Neste ano ainda a paróquia já contava com a dedicação da Pia União das Filhas de Maria e da Liga Católica.
O ano de 1927 pontifica como o marco de nascimento da paróquia, com a aquisição do terreno onde seria erigida a igreja.
A Neerlandia Seraphica de 1927 nos deu um resumo deste início dos trabalhos em Cavalcante:
Os Freis Júlio Berten, Leopoldo van Winkel e Sofonias Balvert estão se dedicando à paróquia de São Pedro Apóstolo. A igreja da Terra Santa está servindo de matriz. Na paróquia ainda existem uma capela filial pública, da Irmandade de Nossa Senhora do Amparo e outra capela pública do Sanatório Nossa Senhora das Dores. Tanto na matriz como nessas capelas há pregação dominical.
Com grande problema e com muito dinheiro, foi comprado finalmente um bom terreno, bem localizado, mais ou menos nivelado, no rés do chão (em contraste com um morro, como muitas vezes são construídas igrejas) e bem no centro da paróquia [bairro Cavalcante, Rua Antônio Saraiva, 23 - com Avenida Silva Vale].
Em perfeita conveniência com o mui estimado e querido Arcebispo, a nova igreja a ser construída será dedicada a São Pedro Apóstolo.
Para logo começar o trabalho, foi organizada, no dia 8 de fevereiro, uma procissão de homens, carregando estandartes, rumo ao terreno aberto, onde, ao ar livre, foi celebrada uma Santa Missa mais solene; o vigário fez uma alocução para explicar a finalidade dessa solenidade. E era muito necessário, pois, em geral nosso povo é tão simples que só pequeno número compareceu e não estava compreendendo bem o sentido dessa solenidade. O sol causticante, naquela hora, nos deu uma alta temperatura de 95° Fahrenheit, de maneira que voltamos para casa molhados de suor.
Eis, como nós aqui, na capital do Brasil, estamos começando um novo terreno de missão, procurando, gemendo e chorando, ajuntar dinheiro para construir não uma capelinha, mas uma igreja bem grande em honra do grande Apóstolo e primeiro Papa.
No dia primeiro de maio de 1929, frei Leopoldo celebrou a Missa na nova capela; nesta, em dias úteis, funcionava uma escola católica. Neste ano ocorreu a fundação da Congregação Mariana e do Apostolado da Oração. Vinte crianças receberam a primeira comunhão na nova capelinha e foi celebrada, com grande pompa, a primeira festa do padroeiro.
Em 1930, durante suas férias na Holanda, frei Leopoldo, pregando em muitas igrejas franciscanas, conseguiu arrecadar 20 contos de réis, além de preparar uma planta da igreja a se construir.
A pedra fundamental da matriz foi lançada em 24 de maio de 1931, pelo Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra.
Em 6 de outubro de 1934, instalaram-se os primeiros moradores da residência franciscana de Cavalcante: frei Leopoldo e seu coadjutor frei Crisógono van Veen. No dia 7 de outubro do mesmo ano transferiu-se a sede provisória, da Igreja do Santo Sepulcro para a nova igreja, em Cavalcante, sendo nesta ocasião transferidas também todas as suas associações religiosas: Pia União, Congregação Mariana, Liga Católica, Ordem Terceira, Apostolado da Oração e Conferência Vicentina.
Em 1936 tem início a distribuição do Pão de Santo Antônio.
No dia 12 de novembro de 1939, tomou posse como novo vigário o frei Brás Berten.
Em 1940 reiniciaram-se as obras, paradas desde a construção da cripta. Grande parte da quantia desta nova etapa da construção foi angariada por amigos e benfeitores na Holanda.
No dia 15 de junho de 1941 é empossado como novo vigário frei Metelo Geeve.
No dia 12 de dezembro de 1942, assume como vigário o frei Hilário Broekhuyse, cuja mansidão e virtudes marcaram uma época na história do bairro. Durante os anos que dirigiu os destinos espirituais, trabalhou intensamente para angariar capital para prosseguir a construção da matriz.
Em 9 de abril de 1949, foi nomeado vigário substituto, durante as férias de frei Hilário na Holanda, frei Rafael Zevenhoven.
A 1º de janeiro de 1950, frei Rafael é integrado novamente, como vigário, em substituição a frei Hilário, que havia sido transferido.
Em 28 de janeiro de 1951, nova troca de vigários, agora assume frei Helano van Koppen.
Em 2 de agosto de 1953, toma posse frei Henrique (Pedro Martinho) Peeters como vigário da paróquia.
No dia 20 de dezembro de 1954 S. Excia., o Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, dá a bênção à nova Igreja. Assim, 12 anos após o lançamento da pedra fundamental, Cavalcante teve erguido, finalmente, o seu Templo, e comprova de quanto é capaz a fé e a força de vontade. Mas há muito que fazer.
A Revista Santa Cruz de 1954 noticiou esta inauguração festiva:
Desde muito os pensamentos dos padres de Cavalcante se dirigiam para o dia 20 de dezembro, pois nessa data realizar-se ia o grande acontecimento: a bênção solene da nova matriz. Já mais de vinte anos todo o serviço religioso se fazia na cripta, e, posto que o espaço não era pequeno e a cripta estava bem provida de altares, imagens, bancos e outra mobília, paramentos e alfaias, ansiava-se por sair um dia desse recinto baixo e sombrio e passar à igreja superior, que, ampla, alta e cheia de luz, desde 1940 se estava construindo sobre a cripta. Chegou-se agora na parte onde só falta o piso para ser providenciado. Escolheu-se um piso de marmorite cinza com cruz verde. O empreiteiro garantia que para 30 de novembro tudo estaria terminado e realmente neste dia ele pôde entregar o serviço concluído.
Resolveu-se, pois, marcar o dia da bênção para 20 de dezembro. Havia-se preferido o dia 8 de dezembro, mas o tempo seria curto demais para se poder arrumar a igreja de tal forma que dignamente pudesse receber a bênção solene.
No dia 9 de novembro Frei Henrique, em uma audiência com o Sr. Cardeal Arcebispo Dom Jaime, falou sobre a bênção da nova matriz. Dom Jaime imediatamente perguntou: E quando será a bênção? No dia 20 de dezembro? Perfeitamente. Está direito: é justamente o único domingo em que ainda estou livre. Assim tudo estava combinado.
Os paroquianos estavam entusiasmados pelo fato de que o Sr. Cardeal em própria pessoa viria fazer a bênção solene da bonita matriz. Foi realizado um tríduo preparatório e os padres ouviram centenas e centenas de confissões.
Assim, quando raiou o grande dia, tudo estava bem preparado: a igreja limpa e luzidia, os fiéis afervorados pelo tríduo. Começou o dia com chuva. Sob o pálio S. Eminência com seu secretário e demais padres, saíram da cripta e, acompanhados de grande número de fiéis, sob o chuvisco se fez a volta ao redor da igreja até a porta principal da nova matriz, na qual iam entrando os fiéis. Foram rezadas as preces e cantada a ladainha e aspergidas de água benta as paredes, tudo de acordo com o Ritual.
Imediatamente depois da bênção, o Sr. Cardeal celebrou a S. Missa. Estiveram presentes à solenidade o M.R.P. Provincial (Frei Serafim Lunter), o Padre Custódio (Frei Brás Berten), Frei Leopoldo Lafeber, além dos confrades da residência de Cascadura. Causou grande admiração ao Sr. Cardeal o enorme número de S. Comunhões, não só de senhoras, mas também de muitíssimos homens; quase todos os que enchiam a igreja comungaram.
O M.R.P. Provincial, em seu discurso, agradeceu ao Sr. Cardeal de haver vindo pessoalmente para fazer a bênção solene da matriz, e vendo nesse gesto o interesse de S. Emcia. para com o trabalho dos padres da freguesia de Cavalcante e uma recompensa dos muitos sacrifícios que os nossos Padres, principalmente Frei Leopoldo van Winkel, de feliz recordação, fizeram quando se fundou a paróquia. Evocando as enormes dificuldades que nos primeiros anos da nova fundação Frei Leopoldo teve de enfrentar e soube vencer. Nos fundamentos espirituais e materiais, construídos por Frei Leopoldo, os seus sucessores levantaram a matriz que hoje V. Emcia. benzeu.
Ano de 1956, no dia 2 de dezembro, toma posse como vigário frei Jorge Geerlings.
Em uma crônica na Revista Santa Cruz de 1956, Frei Jorge nos conta um pouco mais sobre estes primeiros anos da paróquia e seu progresso até o momento:
Muitos dos nossos confrades conhecem a Paróquia de Cavalcante só por meio dos dados estatísticos na Santa Cruz. Situada na Linha Auxiliar da Central, parece um pouco pacata, num subúrbio de menos importância. Mas na verdade é uma paróquia cheia de vida, com um movimento religioso raramente encontrado no Distrito Federal.
Cavalcante deve ter mais ou menos 40.000 habitantes. 2.500 frequentam a Santa Missa. E os outros? O mal do espiritismo se alastrou bastante neste bairro, os protestantes não se cansam em adquirir novos elementos, o comunismo tem os seus adeptos. Tudo isto criou um grande indiferentismo religioso e não raras vezes uma quase aberta hostilidade à Igreja Católica e aos seus ministros. Quem vem de Minas Gerais estranha muito como o padre às vezes é vaiado na rua e desprezado. Mas mesmo assim a Paróquia de Cavalcante progrediu muito. Os mais antigos paroquianos contam-nos ainda da luta sobre humana de Frei Leopoldo (van Winkel), o fundador. Chegou mesmo a ser apedrejado, quando chamado para assistir a um doente (felizmente ainda em tempo descobriu que a chamada para o doente era fingida; um hábil ardil para pegar o Frei e dar nele). Quando nos contam tudo isso e quando ao mesmo tempo consideramos o movimento religioso atual na igreja, só podemos pensar com respeito e gratidão nestes zelosos vigários e nos seus cooperadores, que nesse terreno pedregoso lançaram a semente de que nós estamos colhendo frutos.
Interessante é que o próprio povo faz a distinção: da Igreja ou não da Igreja. Os católicos praticantes se sentem unidos e aceitam de bom grado a formação dada pelos padres. Quase todos pertencem a uma associação. Os homens e rapazes têm a Liga Católica e a Congregação Mariana e faz gosto de ver como são assíduos. Para as moças e senhoras existem a Pia União das Filhas de Maria - conforme alguns a melhor do Distrito Federal - a Associação das Filhas de Maria casadas, as mães cristãs e o Apostolado da Oração. A Ordem Terceira com a sua modificação promete um grande futuro. A Cruzada Eucarística está fazendo dos meninos verdadeiros apóstolos no meio de seus companheiros, dos quais, porque os pais não praticam a religião, muitos vão se afastando também. Ainda existem outras Associações: Santo Antônio, São José, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora do Amparo, Nossa Senhora das Graças e a das Vocações Sacerdotais, mas os associados destas já pertencem em geral às outras. Uma menção honrosa merece a Congregação da Doutrina Cristã que, com suas 25 catequistas, forma um forte arrimo para a Paróquia, cuidando do catecismo na Matriz e nos diversos centros nas casas de família. O que dá bastante trabalho aos Padres é o catecismo nos seis grupos escolares, porque não há professoras que dão aula de religião. Algumas catequistas ajudam, mas elas se dedicam quase exclusivamente à preparação da Primeira Comunhão.
E por cima a Capela de Nossa Senhora do Amparo - com um povoado que pode formar uma paróquia separada - exige a assistência completa dum Vigário-Cooperador.
Sempre ficam coisas para ainda serem realizadas, mas não se pode fazer tudo. A Paróquia de Cavalcante, porém, é uma jóia que merece toda a atenção. A Casa Paroquial é muito pequena e não tem conforto. Todos que conhecem esta residência, veem a necessidade de ampliá-la. Neste ano foi dada a licença para construir uma nova residência, e se Deus quiser, neste mês de setembro iniciaremos o trabalho. Aproveitar-se-á uma parte da casa antiga, e depois de pronta terá seis quartos, um amplo refeitório, uma sala de recreio, um salão de visita e um escritório. Num estilo simples - meia água, com dois andares - oferecerá aos moradores uma boa acolhida. Vai custar para terminar, pois o dinheiro é pouco e o orçamento vai além dos 1.000 contos, mas com a bênção de Deus, irá.
A Igreja que Frei Leopoldo começou em 1931, ainda não está pronta. Por dentro falta pouco, mas por fora há ainda muita coisa que fazer. No mês de janeiro deste ano reencetamos as obras. O estrago das paredes pelas chuvas obrigou o embôço. Já se gastou uma importância de 355.000 cruzeiros, mas também já está para terminar. No mês de outubro pretendemos construir a torre, e se Deus quiser, até o fim do mês de março do ano vindouro estará terminada. Nisso vão mais 300 contos. A Igreja não tem dívidas, uma prova que o povo ajuda generosamente para embelezar a Casa de Deus. E com a bênção do sino, marcada para a Festa de Natal de 1958, que terá os nomes de todos os Vigários que passaram por esta freguesia, encerra-se uma época de duros trabalhos e grandes sacrifícios de muitos dos nossos confrades.
Em 1958 teve início o serviço de assistência social, chamado sopa dos pobres.
Estes são apenas alguns exemplos do trabalho desenvolvido pelos frades. Muito foi feito e muito há por fazer.
No dia 15 de agosto de 1963, realizou-se a sagração da Igreja Matriz, por S. Excia. Dom José Gonçalves da Costa, Bispo auxiliar do Rio de Janeiro.
Desde sua fundação até o momento de sua entrega, foi marcante o progresso espiritual e o trabalho do serviço de assistência social da paróquia. Vários foram os frades que trabalharam, seja como vigários ou coadjutores, dando importante contribuição para o crescimento da fé e amparo aos paroquianos.
Em fevereiro de 1985, o Governo Provincial achou por bem entregar a paróquia São Pedro Apóstolo à Arquidiocese do Rio de Janeiro. Esta ainda esteve aos cuidados dos franciscanos, na pessoa de Frei Ambrósio Boude, até o segundo semestre do mesmo ano, quando encerraram sua presença em Cavalcante.
Fonte: Revista Santa Cruz
1954 - págs. 76-80
1956 - págs. 116-118
1960 - págs. 166-173 - Artigo comemorativo dos 40 anos da paróquia. Autor: Sr. Abenante de Mello e Souza.
1963 - pág. 88
1985 - pág. 61.