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Franciscano/a

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    Identificador:
    11543
    Nombre:
    Fr. Teodardo Emonds, OFM (Theodor Maria Gerard Emonds)
    Sexo:
    Fecha de nacimiento:
    14/08/1882
    Fecha del fallecimiento:
    10/09/1960
    Lugar de nacimiento: Venray, NL
    Lugar del fallecimiento: Taquari, RS
    Estado eclesiástico:
    Notas Biográficas:

    IN MEMORIAM

     

    A vida exterior de frei Teodardo no Brasil pode ser sintetizada nestas poucas palavras: "Em 1919 veio para o Brasil, onde ficou trabalhando como professor até a sua morte, sem interrupção alguma, nem mesmo de umas férias à sua pátria Mas que enorme soma de trabalho, atos de virtude e abnegação, de um apostolado fecundo e cheio de méritos para a Igreja e a Ordem não encerram essas poucas palavras!

    Frei Teodardo - Teodor Maria Gerard Emonds - nasceu aos13 de agosto de 1882 em Venray, sendo o sexto entre os dez filhos do casal Pieter Emons e Geraldina Billekens.

    Sempre escrevia ele seu sobrenome Emonds, com d, por causa de um engano no registro civil. Em casa o chamavam "Thei

    A família Emons, que morava relativamente perto do convento dos franciscanos, freqüentava assiduamente a igreja conventual; o Pe. frei Doroteu Cornelissen, lente do ginásio franciscano, era o grande amigo e conselheiro da família. O pai, que, com alguns companheiros de Venray, fundara uma sociedade mercantil de ovelhas, via-se obrigado a passar muito tempo na Alemanha onde comprava ovelhas, e na Inglaterra, onde as vendia. Teve assim que aprender duas línguas estrangeiras e viu a grande utilidade de saber falar mais línguas. Era essa circunstância que também o induziu a proporcionar a seus filhos uma instrução mais ampla que a comum.

    Pai e mãe Emons davam a seus filhos uma formação profundamente religiosa e bastante austera. A autoridade dos pais era intangível, mas todos notavam nessa família um ambiente de concórdia e alegria. Fruto dessa educação foi, entre outros, que dois filhos se fizeram franciscanos, frei Teodardo e frei Sérgio; e que duas filhas entraram na Congregação das Ursulinas: Mère Pauline, que durante cinqüenta anos morou em Weltevreden (Java) e era diretora da escola normal e do ginásio, e Mère Gerardine, que foi Superiora Geral das Ursulinas da Indonésia.

    Thei, que queria ser franciscano, terminado o curso elementar, passou para o "ginásio" dos franciscanos, o qual, sem ser exatamente um colégio seráfico, tinha por fim preparar meninos para o sacerdócio na Ordem Franciscana. Não era um internato; os alunos que vinham de fora moravam em pensões. Thei estudava com afinco, e era o que se chama um bom aluno, sem ser, no entanto, aluno brilhante. Os que o conheceram como menino e rapaz dizem que era de índole bondosa, que sempre estava pronto para ajudar os outros e que com facilidade cedia sua opinião à dos outros; era ao mesmo tempo de caráter impetuoso. Essas características nele se puderam observar até o fim da vida

    A 20 de setembro de 1900 tomou o hábito no convento de Alverna-Wychen, junto com nove companheiros; dos dez noviços, oito foram mais tarde ordenados sacerdotes, dos quais quatro partiram para a China. Os anos de clérigo decorreram normalmente; no último ano de Teologia frei Teodardo foi eleito moderador da Academia.

    A ordenação sacerdotal, recebeu-a em 10 de março de 1907. Como seus quatro colegas, frei Teodardo quis também ser missionário na China, mas o Padre Provincial não atendeu a seu pedido: teve que fazer o quinto ano de Teologia em Venray. Dizia-se que tinha facilidade em fazer práticas. Pode ser, mas é certo que mais tarde tinha horror de pregar panegíricos e dizia que isso para ele tinha o efeito de um purgante.

    Terminado o curso de Venray, foi nomeado pregador no convento de Woerden em agosto de 1908; um ano depois seguiu como coadjutor para Gouda. Como no Brasil mais tarde, os fiéis de Gouda gostavam muito de ouvir as suas práticas dominicais. Em 1910 frei Simão foi eleito Provincial, e mais uma vez frei Teodardo pediu ser mandado como missionário para a China. Tampouco dessa vez obteve a cobiçada licença: o novo Provincial até lhe proibiu que pedisse outra vez, pois o tinha destinado para os estudos. De fato, foi mandado em setembro de 1911 à Universidade de Lovaina para estudar Ciências Políticas e Sociais. Com admirável zelo e abnegação dedicou-se ao estudo dessa matéria bastante árida, e da qual podemos duvidar fosse da sua predileção. Também aproveitou da sua estada em Lovaina para exercitar-se no manejo das línguas modernas. Para isso travou amizade com um confrade francês, com quem conversava então no seu idioma. Depois fez o mesmo com um confrade alemão. Mas quando experimentou fazer isso com um inglês, não foi bem sucedido: o inglês não tinha paciência para ajudá-lo a corrigir os erros de linguagem.

    A 13 de março 1913 fez o seu exame doutoral e foi aprovado "avec distinction Para escrever sua tese foi morar em Amsterdam, na casa paroquial de Sloterdijk, e em junho de 1914 foi com todo material laboriosamente ajuntado para Leiden. Lá seu irmão frei Sérgio, que acabara de fazer o seu exame doutoral na Faculdade de Filosofia e Letras, o ajudou a ordenar e elaborar o material. Seu trabalho ficou pronto quando os exércitos alemães, em agosto desse ano, invadiram a Bélgica. Compreendeu assim frei Teodardo que por enquanto não podia chegar a Lovaina para a colação de grau. Resolveu publicar mesmo assim o seu livro, que foi editado pela Editora "Futura": "Empresas municipais e concessões nos Países Baixos", Leiden, 1915, - X e 285 págs. (em 8.°). Publicou nesses anos também artigos sobre questões sociais em "Katholiek Sociaal Weekblad

    Em outubro foi mandado para o convento de Heerlen; mas quando, pouco depois, frei Vicente Heijmans, lente de Teologia Moral, adoeceu, frei Teodardo teve que substituí-lo. Não era fácil a tarefa de substituir um lente tão versado na matéria como frei Vicente! O novo lente falava com fluidez o latim, em que lecionava. Mas o seu método de lecionar era bem diferente do de frei Vicente, que sempre seguia fielmente o texto em uso, de Sporer-Cornelissen, mandando escrever anotações a quase cada número. Muito ao contrário Frei Teodardo, baseando-se no texto de Noldin, dava as suas exposições sobre a matéria a ser tratada na aula, não mandava escrever anotação alguma, e no fim da aula indicava onde, no texto de Sporer, podiam encontrar a matéria tratada. Os alunos mais avantajados achavam esse método magnífico, mas outros não podiam acompanhar bem o lente nem encontrar sempre no Sporer a matéria tratada. Assim, por ocasião da visita canônica de 1916, vários clérigos se queixaram ao Padre Visitador do lente de Teologia Moral, que não ditava anotações. Contudo, o Capítulo o deixou no seu posto, e na primeira aula depois entrou na sala, sorrindo, o mesmo de antes, e começou a aula dizendo: "Foi-me dito que devem ser feitas as anotações; pois bem, tomem papel e lápis, e escrevam A seguir ditava umas dez linhas e dizia: "Isto por enquanto será suficiente Continuou assim, como lente de Moral, até que em agosto de 1918 frei Vicente pôde retomar as suas aulas.

    As opiniões dos ex-alunos sobre o método de lecionar de frei Teodardo não são unânimes, mas todos concordam nisso, que era um lente esforçado e religioso exemplar: desde os primeiros dias das férias até o último estava presente no coro. Era também confessor de várias comunidades de religiosas, entre outras, das franciscanas de Heythuijzen, aonde ia sempre a pé. Esse andar a pé, fazia-o, porém, tão rápido, que almas cândidas de Weert uma vez foram avisar o guardião que fugira um padre do convento.

    Estando agora frei Teodardo sem ofício determinado, achou essa circunstância uma oportunidade magnífica para pedir, uma vez mais, licença para ir às missões; pois já não valia a proibição de pedi-lo, visto que frei Simão não era mais Provincial. O sucessor frei Paulo atendeu ao pedido, de frei Teodardo, que, é verdade, não podia ir mais para a China, mas obteve licença para ir trabalhar no Comissariado do Brasil. Estava contentíssimo! A 8 de fevereiro de 1919 vemo-lo embarcar em Amsterdam; chegou em 6 de março ao Rio.

    Frei Teodardo foi destinado para lecionar no ginásio de São João del Rei; a nossa velha vizinha D.a Augusta o ajudava com toda a paciência para aprender depressa a nova língua. Decorridos poucos meses, já pôde principiar a dar aulas: a sua matéria principal eram o latim e o francês, línguas que dominava perfeitamente. Era professor esforçado, as suas bem preparadas aulas eram apreciadas pelos alunos, tinha autoridade. Trabalhou também na paróquia, gostava de atender chamadas a doentes que moravam longe, na roça, viajando a cavalo. Muito concorridas eram as práticas catequéticas que todos os domingos fazia na Missa das dez horas na matriz. Durante a semana as elaborava, baseando-se na Explicação do Catecismo de Deharbe; levava-as a D.a Augusta, que com toda boa vontade sempre as corrigia quanto ao português. Eram práticas bem claras, de estilo simples e linguagem correta. Com a sua voz grave e calma sabia pronunciá-las de modo que prendia a atenção dos ouvintes: e não só o povo simples, também os intelectuais gostavam de ouvi-lo, e conta-se que entre eles havia quem fosse à igreja só para ouvir a prática do frei: terminada essa, voltavam para casa. Não se deixava, porém, frei Teodardo induzir a pregar panegíricos ou grandes sermões; era tempo perdido procurar convencê-lo de aceitar sermões da Semana Santa, para o que às vezes era convidado.

    Quando no dia 10 de fevereiro de 1924 começou a funcionar o colégio seráfico, frei Teodardo foi encarregado da maior parte das aulas. Continuou no entanto dando aulas e regências no ginásio, tomando por sua conta também parte das regências no seminário; e pregava todos os domingos para os seminaristas.

    Aos 19 de janeiro de 1925 mudou-se o colégio seráfico para Divinópolis. Com frei Paulo que era o Reitor, frei Teodardo e frei Osmundo, viajaram os alunos, levando o que podiam de material escolar. Durante quase sete anos frei Teodardo trabalhou em Divinópolis como professor e prefeito de disciplina. Isto não era brincadeira. É verdade que o número dos alunos não era grande, uma média talvez de uns vinte ou pouco mais; mas dia e noite o prefeito estava com eles, tinha todas as regências, além de seu horário cheio de aulas. E nos primeiros anos, quando o colégio funcionava no velho prédio na praça da matriz, esse cargo de prefeito era bem difícil pela absoluta inaptidão do edifício, que tornava impossível uma boa vigilância. Também na nova casa a princípio as dificuldades eram grandes; mas aos poucos soube implantar no grupinho de meninos turbulentos, que nunca passou de trinta, o respeito pela ordem e disciplina.

    Frei Teodardo, homem de contextura bastante rígida, religioso observante, cumpridor fiel de seus deveres, era exigente para consigo mesmo, como também para com os alunos. Pregava-lhes cada sábado, nas vésperas das grandes festas e nas primeiras sextas feiras. Todos os seus antigos alunos elogiam a clareza, a simplicidade de suas práticas tão cheias de substância. O mesmo se podia dizer das práticas que aos domingos fazia na Missa das oito horas na matriz.

    O prefeito esforçava-se deveras por dar aos seus educandos uma formação solidamente religiosa; para isso fomentava neles o mais possível o espírito de oração e a freqüência dos sacramentos; e inculcava-lhes o cumprimento do dever por convicção. Para corrigi-los recorria com demasiada facilidade a castigos, e lembram-se os seus ex-alunos de que eram muito rigorosos esses castigos. Por outro lado cuidava que os alunos tivessem as suas horas de expansão e alegria; estimulava-os ao jogo, dando-lhes como prêmio selos etc. Costumava dizer que o jogo, além de ser um bom divertimento, é uma escola onde se aprende a vencer a si mesmo e a ter caridade para com os companheiros. Acompanhava os alunos para piqueniques; lá atrás então seguia ele sozinho, com seu lenço branco na cabeça, rezando o breviário ou "conversando" holandês com os alunos da última série, que iam entrar no noviciado na Holanda. Buscar frutas com os alunos na chácara de D.a Rosa, ou na fazenda de Miguel Gontijo, era para ele uma delícia!

    Entretanto, pouco apreciada era entre os confrades do Comissariado a direção do colégio: criticava-se o excessivo rigor na disciplina, o critério independente com que se despachavam alunos julgados inaptos, e o modo de despachá-los com pouca consideração etc. Contudo, dos alunos que entraram em Divinópolis, fora de frei Turíbio, que faleceu como clérigo na Holanda, treze chegaram ao sacerdócio, dos quais oito na nossa Província.

    Como no Capítulo de 1931 foi resolvido que no convento de Divinópolis se estabelecesse o curso de Teologia e o colégio seráfico se mudasse para Taquari, frei Teodardo teve que acompanhar outra vez os seminaristas para seu novo habitat. Aqui havia de viver e trabalhar quase vinte e nove anos, sem interrupção, pode-se dizer; pois nunca se afastou do seminário, exceto que de julho a agosto de 1936 esteve umas cinco semanas no Rio e em Minas com seu irmão frei Sérgio, que obtivera licença de visitá-lo, porque ele mesmo nunca quis voltar à Holanda em férias.

    Em Taquari continuou a sua vida de professor e também de mestre de disciplina, da mesmíssima forma como em Divinópolis. Havia porém esta diferença com Divinópolis, que de ano para ano aumentava o número de alunos, de sorte que em 1936 seriam ser perto de setenta. Nos primeiros anos aqui o Padre Prefeito ainda tomava conta de quase todas as regências, mas pouco a pouco os outros padres iam ajudando também. Continuavam no entanto certas queixas contra a sua gestão de prefeito, e no Capítulo de 1937 foi exonerado. Parece que o sentiu bastante, mas não disse nada a ninguém. Desde então trabalhou só como professor e podemos dizer que continuou dando os cem por cento de suas energias para ser útil. Não exigindo nada, para si levava uma vida deveras abnegada; pouco a pouco deixou também de fumar.

    O horário escolar contém vinte e oito aulas por semana, mas frei Teodardo sempre dava mais, chegando a dar trinta e duas e mesmo trinta e três aulas semanalmente. E mesmo no último ano de sua vida, quando já estava sofrendo de vários achaques, dava suas trinta e uma aulas semanais e nunca quis saber de ser aliviado. As matérias principais que lecionava eram; português, nos primeiros anos a todas as séries, mais tarde só para o curso preparatório, principalmente em preparação ao latim; francês e inglês nos últimos tempos às séries mais altas, e também durante vários anos alemão; história universal e eclesiástica, e durante vários anos também história do Brasil. Essas aulas de história, preparava-as com especial cuidado, e eram muito apreciadas. Em várias épocas deu outras matérias, como geografia geral e do Brasil.

    Como ficava sempre mais surdo, apesar do aparelho auditivo que usava, em lugar de tomar a lição oralmente, formulava sempre umas perguntas; que os alunos deviam responder por escrito: as célebres "provinhas Assim ele tinha de corrigir diariamente, além das pilhas de cadernos, também esse sem número de provinhas. Levava cadernos e provinhas para o almoço e jantar, aproveitando os momentos de sobra para corrigi-las, visto que, por causa de sua surdez, não podia tomar parte no colóquio.

    Todos os dias sem falta levantava-se às quatro horas e celebrava a santa Missa às quatro e meia; às cinco e meia fazia sua meditação com a comunidade e depois assistia a quantas Missas podia: em dias feriados ficava, mesmo com sacrifício, até a última Missa, por mais tarde que fosse celebrada. E nas férias ia até ouvir Missa na cidade. Todos os dias, sem falta, até o fim de sua vida, distribuía na Missa dos alunos, junto com o padre celebrante, a Sagrada Comunhão, e fazia questão disso. Várias vezes por dia fazia ainda uma visita ao Santíssimo. A sua devoção à Sagrada Eucaristia era realmente admirável, profunda. Nunca faltava a um exercício da comunidade, exceto ao coro, como é evidente, e ao recreio.

    Terminadas as correções dos cadernos e provinhas e preparadas as aulas, gostava de ler jornais e revistas, em várias línguas. Não, porém, só a isso dedicava suas escassas horas livres: pois desde muitos anos já mantinha uma vasta correspondência com relações que conquistou nos Estados Unidos em favor do seminário e dos alunos. Escrevia-lhes a uns em francês, à maior parte em inglês. Mandavam-lhe pacotes com santinhos, estampas religiosas, bonitos cartões de Natal, usados, e uma infinidade de livros, brinquedos, artigos escolares e religiosos. E aconteceu uma vez, foi por ocasião de suas bodas de ouro de sacerdócio, - e parece que tinha dado um palpite neste sentido a um de seus amigos, que por sua vez o publicou no THE TABLET - que chegou ao correio um acervo de pacotes tão formidável, que foi necessário mandar a carroça buscá-los: trouxeram para o seminário três carroçadas! E quantas vezes frei Lucas trouxe o jeep e frei Vito a camioneta bem carregada desses pacotes! Assim arranjava prêmios para estimular seus alunos e para o leilão e as rifas na "Festa dos Pais", livros para a biblioteca, e também boas esmolas pecuniárias para o seminário. Quantas malas cheias de cartões não pôde distribuir entre os confrades das paróquias para as crianças do catecismo!

    Falando de sua correspondência, é interessante acrescentar o seguinte: tinha assídua troca de cartas com seu irmão frei Sérgio, mas a isso não nos queremos referir. O que, porém, foi para nós uma surpresa, é que depois do seu falecimento foram encontrados no seu quarto perto de trinta cadernos cheios de cópias e esboços de cartas, todas escritas em inglês ou francês, em linguagem simples, sim, mas fluente; cartas destinadas aos seus amigos nos Estados Unidos, pedindo ajuda, agradecendo auxílios recebidos, mas também consolando pessoas que em circunstâncias difíceis de sua vida lhe tinham pedido orações. À leitura dessas cartas admira-se como ele sabia, com poucas palavras, consolar os aflitos, e também como sabia aproveitar várias circunstâncias do seminário para pedir ajuda, e que ele, surdo como era, não obstante, ficara sempre ao par dos acontecimentos no seminário.

    Como ficou dito, frei Teodardo tinha um caráter forte, impulsivo. Podia irritar-se com ocorrências que não lhe agradavam; às mais das vezes, com situações que não achava corretas. Assim aconteceu uma vez que, justamente enquanto o Pe. Prefeito estava dando avisos aos alunos no refeitório, frei Teodardo entrou para falar com ele; surdo como era, não percebeu o inoportuno do momento, e quando o Prefeito lhe deu sinal que esperasse um pouco, ficou bem contrariado, tomando-o como uma desfeita perante os meninos. Mais tarde pediu perdão. Assim era ele: quando percebia que se tinha excedido, ou magoado alguém, pedia desculpa, pois sabia humilhar-se.

    Também, quando achava que o encarregado se descuidava de chamar a tempo a comunidade para algum exercício, lá corria ele do quarto para dar umas boas pancadas na campainha. Ia às suas aulas bem antes da hora; quando encontrava, às vezes, o padre da aula anterior ainda ocupado com alguns alunos, sentia-se infeliz, mas não dizia nada, pois pouco a pouco havia aprendido a dominar-se.

    Dizia-se que frei Teodardo era menos social. Pode ser que fosse de caráter menos expansivo, mas não era nada insociável. Não tomava parte nos recreios por causa de sua surdez, mas acompanhava a comunidade em tudo o que se passava, procurando ficar ao par até dos mínimos acontecimentos. Sempre estava pronto para ajudar seus confrades, seja para trocar a hora de sua Missa ou de aulas, incumbir-se de regências de outros nas horas mais incômodas, etc. Gostava de proporcionar aos outros uma pequena alegria; aos alunos que o tinham ajudado em qualquer coisa levava frutas, pedaços de bolo, pedaços da sobremesa etc. Mas não só a eles; também não se esquecia dos pobres. Deste particular saberia falar o irmão porteiro. Várias famílias que chegaram a conhecê-lo, apareciam de vez em quando à portaria chamando por frei Teodardo, "aquêle frei velhinho", para receber uma esmola de mantimentos ou roupa. Então ia pedir licença ao Pe. Guardião para poder dar-lhes pães, feijão, uma peça de roupa ou o que fosse, acrescentando modestamente que, se fosse muita despesa, ele recorreria a seus amigos. Quando ia com alguns alunos pescar na ponte do Caramujo, munia-se de cartões, santinhos, medalhas, biscoitos e frutas, pois sabia que a criançada ali o iria assaltar.

    Uma grande paixão tinha frei Teodardo: a pesca. Arranjou com seus amigos várias espécies de redes, e frei Batista lhe teve que manter o bote sempre em dia. Em feriados ia na véspera armar as redes no arroio, acompanhado de uns alunos, para no dia seguinte de madrugada colher a safra. Então muitas vezes, com voz triunfante, contava aos confrades: "Pegamos tantos quilos de peixe; tantos pesados lambaris, tantos jundiás..." Durante as férias ia com os clérigos de Daltro Filho.

    Se pescar parecia sua paixão, havia também coisas que lhe inspiravam verdadeiro horror. Já vimos que uma dessas era pregar panegíricos ou grandes sermões. Grande pavor causava-lhe também o ser festejado, ser alvo de homenagens. A esse respeito queremos contar o seguinte: logo depois da sua chegada a Taquari, no dia 10 de março de 1932, era o seu jubileu de vinte e cinco anos de sacerdócio. O Pe. Reitor recebera de Divinópolis aviso de que seria conveniente fazer uma grande festa em honra de frei Teodardo, visto que em 1925 se esquecera por completo de celebrar suas bodas de vida religiosa. Assim se fez. Quando, porém, na véspera o Pe. Reitor levava os vinte e cinco alunos ao quarto dele para cumprimentá-lo e cantar um Io vivat, encontraram a porta trancada; então os meninos fizeram uma volta para cantar o Io vivat debaixo de sua janela, mas chegando aí, ouviram um forte bater de janelas que se fecharam depressa, vendo também cerrarem-se as cortinas! No dia seguinte a Missa solene seria às nove horas. O jubilante mostrava-se bem agastado; contudo já cedo estava paramentado para a santa Missa. O Pe. Reitor tinha, com os poucos elementos de que dispunha, preparado uma boa festa, assim pensava; mas quando encontrou o festejado, disse-lhe este mal-humorado: "O Sr. não me poderia chatear mais do que com esta festa Todavia, quando viu que tudo ia correndo bem, hora de arte, jogos, bom almoço e jantar etc., e que os meninos estavam contentes e alegres, ficou reconciliado. Assim era: gostava que em tais ocasiões os meninos passassem bem, contanto que ele mesmo ficasse "fora da encrenca Nunca mais se celebrou festa alguma de frei Teodardo. Em tais dias cuidava-se, porém, que os meninos tivessem feriado e passassem bem. Mesmo pouco antes de sua morte pensou em presentes a dar aos alunos no dia vinte de setembro, que seria o dia de seu jubileu de sessenta anos de vida religiosa. Não o alcançou.

    A vida que frei Teodardo há tantos anos vinha levando era realmente de um varão forte. Mas no último ano os confrades se perguntavam: Quanto tempo poderá durar isto ainda? Viam como arrastava os pés cada vez mais, com que dificuldade subia escadas, como andava cada vez mais inclinado para o lado direito. Só no fim da sua vida, por casualidade, se soube que havia trinta anos sofria do lado direito de um forte incômodo, mas sobre o qual nunca se tinha queixado ou mesmo falado com outros. Também o seu costume esquisito de usar sobre a cabeça um lenço branco em forma de chapéu, o que a alguns irritava, ficou explicado pouco antes de sua morte: era para ele o único jeito de aliviar um pouco a forte dor de cabeça de que sofria, e de que tampouco nunca se queixou. Parece que no fim do ano passado não se sentiu muito bem e foi consultar o Dr. Maia, médico da casa; esse lhe disse que devia deixar de dar aulas. Mas frei Teodardo não era homem de passar seus dias sem trabalhar; continuou dando aulas e ainda se encarregou das aulas de inglês nas últimas séries depois da transferência de frei Tadeu, ainda que ele mesmo o achasse um pouco difícil: pois já desde vários anos não tinha mais dado essas aulas. Tal era: sempre estava pronto para ajudar o Superior, para fazer um sacrifício, quando o exigia a boa marcha do seminário.

    Assim o víamos neste último ano, cada vez mais encurvado, sempre mais inclinado para a direita, arrastando os pés quando andava rezando seu breviário, mas dando cada dia as suas cinco ou às vezes seis aulas, no duro. Até que, no dia 6 de setembro, alunos de várias séries contaram aos padres que frei Teodardo, na aula, esteve dizendo coisas desconexas, confundindo datas e acontecimentos na aula de história, repetindo frases há pouco ditas. Contudo quis dar suas aulas, até quinta-feira, 8 de setembro, quando mesmo deu cinco. Tomava ainda parte nos atos da comunidade, andava pelos corredores, ia ao refeitório, mas todos compreendiam que era o princípio do fim. No dia seguinte, nove, após a santa Missa, que ainda celebrou sozinho, o Pe. Guardião foi ao quarto dele e lhe explicou que seria conveniente receber a Extrema-Unção. "Oh! Não pensava que fosse preciso, mas está bem", respondeu ele. Então mandou chamar seu confessor. Este o encontrou sentado na cadeira, todo concentrado. Antes de confessar-se frei Teodardo lhe pediu o favor de tornar público o seguinte: "É meu desejo que seja publicado na Santa Cruz que peço perdão a todos os meus confrades, alunos e ex-alunos. Também queria que nessa revista fosse explicado que falhei muito no meu sistema de educação. Fui no princípio muito duro, áspero, até às vezes injusto para com os alunos. Estava convencido de que assim devia tratá-los. Mais tarde, porém, compreendi que esse sistema de educar estava muito errado; consegue-se mais com calma, mansidão e bondade. Por isso nos últimos anos mudei de sistema; comecei a agradar aos alunos, dando-lhes presentes, e verifiquei que o resultado foi muito maior. Nas aulas fui sempre severo, mas devia ser por causa da minha surdez; não podia facilitar, pois então os alunos teriam tomado conta de mim, não teria tido mais disciplina e não teria mais podido continuar como professor. E isso devia evitar, pois os padres são poucos, e devia esforçar-me para ajudar a Província. O Sr. me faça.este favor de mandar publicar isso na Santa Cruz, para que os padres saibam que eu falhei, que peço perdão, e que o melhor sistema de educar os seminaristas é: tratá-los com bondade, sendo severo consigo mesmo. E, chorando, fez a sua última confissão Estamos realmente diante de um religioso extraordinário, de um varão santo.

    Recebeu a Extrema-Unção sentado na cadeira; no momento da unção das mãos, lembrou-se de apresentar, mesmo contra a advertência de outro padre, o dorso das mãos, onde deve ser feita a unção de sacerdotes. Na hora de dar a bênção apostólica, beijou com grande devoção o crucifixo e disse com voz clara a jaculatória: "Meu Jesus, misericórdia E acrescentou: "Aceito todos os sofrimentos que o Senhor me mandar, em expiação de meus pecados. Peço perdão aos padres, aos irmãos e aos meninos, de todas as faltas cometidas

    Estavam presentes a maior parte dos padres e irmãos. Entrementes os alunos que não tinham aula estavam na capela rezando por frei Teodardo.

    Depois de sacramentado, ainda saiu ao corredor e mesmo ao ar livre para rezar o breviário, que até rezou inteiro neste dia. Encontrando frei Mauro, que lhe comunicava que os meninos estavam rezando por ele, entendeu que estivessem esperando por ele. Então explicou que o Pe. Guardião o tinha dispensado das aulas neste dia!! E veio ainda ao almoço e ao jantar. Como era véspera de São Teodardo, ao jantar se puseram flores em seu lugar à mesa, o que agradeceu com um gesto.

    No dia seguinte, sábado, festa de São Teodardo, ainda se levantou para celebrar sua Missa, às quatro horas e meia, mas o Pe.. Guardião achou conveniente acolitá-lo. Com muito custo chegou ao termo desta sua última santa Missa, que celebrou por intenção da família Siquet, dos EE.UU, que de modo especial o havia contemplado com donativos de grande valor. Extenuado, foi deitar-se depois. O Dr. Maia, que o visitou, achou que era o fim. Após a saída do médico, frei Teodardo confiou ao Pe. Guardião: "Estou entregue! Como vai ligeiro a vida do homem. Em dois dias, assim..." Mesmo perto de meio dia pediu que depois do almoço lhe mandassem dois rapazes fortes para carregar um caixote; com certeza queria fazer à tarde uma grande distribuição de prêmios. O Pe. Guardião lhe perguntou se queria uma lata de chocolate para dar aos meninos. "Não, disse ele, espere com isso até o dia vinte; então espero estar mais disposto Quando depois do almoço foram vê-lo, puderam os confrades ainda justamente assistir à sua passagem para a eternidade. Terminou uma vida totalmente voltada para Deus, sacrificada pelas vocações sacerdotais franciscanas no Brasil.

    Por Frei Serafim Lunter

    Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1961, p.13 a 23

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SATLER, Fabiano Aguilar. Fr. Teodardo Emonds, OFM (Theodor Maria Gerard Emonds). Red Internacional de Estudios Franciscanos en Brasil. Disponible en: http://riefbr.net.br/es/content/fr-teodardo-emonds-ofm-theodor-maria-gerard-emonds. Accedido en: 19/01/2025.