IN MEMORIAM
A nossa Província tem uma dívida especial de gratidão para com este que no dia 16 de fevereiro Deus chamou à outra vida. Frei Rogério Burgers foi junto com Frei Frederico Voorvelt - este já falecido em 1906 - o fundador do nosso Comissariado, hoje Província, foi o seu primeiro Comissário Provincial, nos onze primeiros anos de sua existência. Em 1912 voltou à Holanda, quando já Frei Júlio Berten lhe sucedera no governo do Comissariado, e o fez por não poder aclimatizar-se no Brasil, estando já muito fraco de saúde, tanto que por este motivo não se pôde aproveitar da licença de fazer a viagem de regresso via Roma.
Como Frei Adelberto Woolderink com Frei Gonzaga Gouverneur e o Irmão Frei Oto Vervoort foram designados para atender o pedido do Bispo de Manaus, assim foi Frei Rogério com Frei Frederico incumbido de atender o pedido do Bispo de Petrópolis. Frei Rogério, que, consultado pelo P. Provincial Frei Estêvão van de Burgt, dera o conselho de aceitar os pedidos de ambos os Bispos brasileiros, mostrou porém relutância em aceitar ele mesmo o encargo de dirigir a missão a ser enviada ao Rio, até que viu ser esta a firme vontade do P. Provincial. Por obediência afinal aceitou. Ainda passaram vários meses de preparativos, pedidos de informações, espera, até que na quinta-feira santa de 1900 (12 de abril) os dois pioneiros partiram de Weert, quase despercebidos, tomando dias depois o navio em Bordéus. Na manhã de 7 de maio entravam na baía de Guanabara. No mesmo dia viajaram a Petrópolis, onde por largos meses gozaram da cordial hospitalidade dos confrades da Província da Imaculada Conceição, já para aprender o português, já para procurar um novo campo de trabalho, pois era impraticável tomar o convento em ruínas e a paróquia de Cabo-Frio - que o Bispo lhes indicara - como princípio e ponto de partida de sua missão. Quando o Bispo voltou de sua viagem a Roma também foi encontrada outra solução, obtendo-se uma casa em Niterói, para onde Frei Rogério e Frei Frederico partiram a 25 de janeiro de 1901. Daí tomavam conta da capelania do colégio das Irmãs Dorotéias, do hospital S. João Batista, ajudavam na matriz, celebravam Missa aos domingos na paróquia de Jurujuba, e quando da Holanda vieram mais três confrades abriram uma escola. Mas em breve sobreveio uma grande tribulação: o Padre Frei Crisógono Asseler em junho e o Irmão Frei Benvindo Wijnands em julho de1902 sucumbiram à febre amarela. Foi preciso fechar a escola, a residência dos padres foi declarada infecta. Nesta contingência os Padres Salesianos do Colégio S. Rosa ofereceram a Frei Rogério a recém-construída enfermaria do colégio como residência provisória dos padres, o que em gratidão foi aceito. O Padre Provincial da Holanda, informado da situação angustiosa, deu-lhes licença de voltar à pátria se quisessem. Mas Frei Rogério e os seus não se deixaram abalar pelo infortúnio. Após três semanas instalaram-se em nova residência no bairro do Cubango, de onde continuaram a exercer o seu ministério.
Um ponto de luz e esperança para a nova fundação foi a entrada em Minas, no mês de julho de 1903. A primeira residência em Minas foi Ouro-Preto; depois teve Frei Rogério ainda a satisfação de estender as atividades de seus padres a outras duas das maiores cidades deste Estado: S. João del Rei (1904), e Teófilo-Otoni (1906).
Em maio de 1909 partiu à Holanda a convite do Padre Provincial e conselho dos confrades, afim de tratar da situação e dos interesses do Comissariado. De volta ao Brasil, esteve ainda à testa do Comissariado até setembro de 1911, continuando como Superior da residência de Niterói, até que a 30 de maio do ano seguinte embarcou definitivamente para a Holanda.
Para Frei Rogério Burgers sempre foi a maior delícia a vida regular, pacata, austera, no sossego do claustro. Não se dava com o barulho, com o bulício do mundo. Chamado pela obediência para as responsabilidades e preocupações da fundação e direção de uma grande obra em terras longínquas, entregou-se inteiramente à nova incumbência, viveu os anos mais difíceis, atravessou as pesadas provações do início com grande fortaleza de alma, deu estabilidade ao Comissariado, e assegurou o seu futuro.
Nos longos anos de vida que Nosso Senhor ainda lhe concedeu, sempre se interessou vivamente por sua fundação no Brasil, até os últimos dias, como também sempre quis ser mantido ao par da vida desta Província pela revista Santa Cruz.
Também na Luz Perpétua, onde Nosso Senhor o tenha, continuará interessando-se pela Província da Santa Cruz.
Faleceu em Megen, Holanda aos 16-02-1954.
Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1954, p. 47-48