Loading...
Franciscano/a

  • Alt
    Identificador:
    11535
    Nombre:
    Fr. Quiriano Jacobs, OFM (Antonius Leonardus Jacobs)
    Sexo:
    Fecha de nacimiento:
    02/10/1896
    Fecha del fallecimiento:
    10/08/1957
    Lugar de nacimiento: Den Bommel, NL
    Estado eclesiástico:
    Notas Biográficas:

    IN MEMORIAM

     

    Frei Quiriano (Antonius Leonardus) Jacobs, nasceu aos 2 de outubro de1896, em Den Bommel, na Holanda. Fez o curso de humanidades em Megen. Tomou o hábito franciscano no convento de Wychen, aos 7 de setembro de1916. Fez a profissão simples, no mesmo convento, aos 8 de setembro de 1917. Emitiu votos solenes aos 8 de setembro de 1920. Recebeu a ordenação sacerdotal aos 11 de março de 1923, das mãos do Exmo. Revmo. Sr. Dom L. Schrijnen. Chegou ao Brasil aos 9 de fevereiro de 1925. Trabalhou como coadjutor em Corinto (1925-1930), Governador Valadares (1941-1942), Teófilo Otoni (1915-1946), Cavalcante (1955). Foi Vigário em diversas paróquias em Minas Gerais e Rio Grande do Sul, como em Itaipé (1930-1939), Pelotas (1939-1940 e 1942-1945), Taquari (1940-194l e 1951-1953), Cabo Verde (1947-1951) e Novo Cruzeiro (1953). Foi diretor espiritual, por pouco tempo, dos alunos do Seminário Seráfico em Taquari (1941), do ginásio em S. João del Rei (1945) e de Pará de Minas (1946). Trabalhou como capelão em Araçuaí (Ginásio Nazaré, 1954-1955) e Cascadura (1941 e 1955-1957). Dedicando-se ao apostolado dos doentes no Hospital de Nossa Senhora das Dores, em Cascadura, veio a falecer repentinamente pela angina pectoris, no dia 10 de agosto, com 60 anos de idade. No mesmo dia foi sepultado em Cascadura.

    Foi com grande consternação que recebi o telegrama, com a comunicação: "Quiriano faleceu Quase não pude acreditá-lo. Ainda há pouco o confrade me tinha escrito alegremente: "Sabe, já tenho licença de entrar em férias no próximo ano. Vou depois da Semana Santa. Algum tempo na Holanda e então atravesso o Atlântico para a América do Norte, onde hoje em dia também minha irmã mais velha mora, até mesmo o "Jac pequeno" (Seu irmão padre, outrora residente na África). Esta perspectiva venturosa não fê-lo pensar em seus incômodos, que aliás não datavam do último tempo, pois sofria de estômago desde menino.

    Natural de Den Bommel, pequena aldeia na província Zeelândia (Holanda), e filho de um grande fazendeiro, perdeu cedo a mãe pelo que a filha mais velha tomava a direção da casa, cuidando de quinze irmãos e irmãs. Não conheço o ambiente religioso naquelas plagas notoriamente protestantes, tão pouco sei de que modo se travaram as relações com os franciscanos, mas certo é que dois rebentos da numerosíssima família receberam a graça da vocação sacerdotal e um dia se foram para o ginásio de Megen. Entre os colegas eram conhecidos só pelos nomes "Jac grande" e "Jac pequeno O primeiro e eu terminamos juntos o curso ginasial, juntos entramos no convento e juntos com Frei Hilário Broekhuyse viajamos, em 1925, no belo vapor "Orania", para o Brasil, em companhia dos Freis Roberto, Bonifácio e Luís.

    Após o desembarque cada qual tomou seu rumo, dirigindo-se Frei Quiriano, por ordem do Superior, para Corinto. Dos 16 lugares, tanto em Minas como no Rio Grande do Sul, pelos quais no decorrer de 32 anos tem passado, creio que o de Corinto, de Itaipé e de Cabo Verde lhe foram quanto ao trabalho os mais profícuos e eficientes, naturalmente sem querer dizer com isso fossem seus méritos alhures de somenos importância. Os primeiros passos em Corinto devem ter sido bastante vacilantes. Naqueles dias não havia as facilidades de hoje em aprender o português e introduzir-se lenta mas seguramente na cura de almas. O novato holandês tinha que abrir com as próprias mãos uma picada na soberba floresta da língua português a e tendo feito algum progresso montava o burro para dar conta duma tarefa totalmente desconhecida, com a experiência por guia. Assim como no Norte de Minas, parece que também na comunidade de Corinto dominavam os coronéis, fazendeiros prepotentes, que por falta de serviço perpetravam política com auxílio de seus "meninos", um meio no qual um holandês novo e retilíneo desempenhava um papel mais ou menos igual ao do alemão no romance "Inocência Lembro-me pelo menos de uma notícia de ele ter corrido perigo de vida por causa de questões com estes senhores. Saindo todavia ileso.

    Em 1930 foi transferido para Itaipé, nas matas de Teófilo Otoni. Neste ambiente bucólico sentia-se mais seguro e mais à vontade. Filho de fazendeiro podia nas horas vagas dar largas à sua inclinação inata, para criar galinhas, patos, gansos e entreter-se com tudo quanto se refere à pecuária e à agricultura. Entretanto é preciso frisar bem os termos "horas vagas" pois a freguesia era e ainda é uma das mais trabalhosas, própria apenas para padres dotados com as devidas aptidões físicas. As viagens são longas e cansativas nesta religião escarpada. Além disso, o padre, segundo recentes informações de Frei Hildebrando, é frequentemente chamado a fim de atender doentes. Sem embargo de seus duros trabalhos conseguiu construir, como mais tarde em Cabo Verde, uma nova igreja, se bem que não fosse muito feliz no empreendimento, porquanto o vigário atual se viu obrigado a derrubá-la e substituí-la por outra. Foi mais bem sucedido e merece mais nossos aplausos por ter cercado a famosa Ordem Terceira da paróquia com todo o carinho e zelo. Durante nove longos anos o confrade tem amanhado debaixo de sol e chuva a terra, desbravada pelo benemérito Frei Wenceslau, de saudosa memória, e sua permanência provavelmente se teria prolongado mais, se motivos de saúde o não tivessem forçado a pedir serviços menos pesados. Deste seu tempo em Itaipé existe ainda uma anedota deliciosa e significativa. Certa vez chamaram-no para confessar um doente a três léguas de distância. Provavelmente estava ocupado com um ou outro negócio, mas foi, fez o sacrifício de trotar 36 quilômetros, confessou o doente e voltou, na mesma hora, para casa, consolando-se com o prêmio-extra proveniente destes passeios. Quando se achava perto do arraial ouviu atrás de si o prm, prm, prm dum cavalo, que vinha chegando em pleno galope e por entre o barulho uma voz que bradava: Ó Frei! Frei! Espere aí! Parou e defrontou-se com o cavaleiro, por sinal seu doente, dizendo-lhe com voz ofegante: o senhor me desculpe; tinha de pegá-o porque me esqueci de contar-lhe ainda um pecado... Terra bendita onde doentes sacramentados recebem tanto conforto que pulam da cama para cima dum animal.

    Num "in memoriam" de Frei Quiriano podemo-nos permitir um sorriso. A caridade elimina o temor, incute o Apóstolo. E o confrade dava demonstrações de pôr esta virtude em prática: trabalhava anos a fio pela salvação de outros; confessava seu Senhor diante dos homens oportuna e inoportunamente; ia por onde a obediência o mandava.

    Tal proceder fortalece em nós a confiança que ele, embora chamado numa hora inesperada, seja contemplado com a sentença inefável do Rei magnânimo: "Servo bom e fiel, entra..." R.I.P..

    A pedido de Frei Teodoro, publicamos a continuação de algumas impressões que uma doente acamada do hospital de Cascadura escreveu sobre a atuação de Frei Quiriano, como capelão, e sua morte.

    -"Este anjo de paz que passou apenas dois anos como capelão neste hospital, não fez nada de extraordinário, mas cumpriu seu dever. E como, para Deus, as pequenas coisas é que são as grandes, deu-nos então grandes exemplos

    Seus dias se passavam na mais completa abnegação de si mesmo. Antes das 6 horas, na capela, celebrava; e se alguém pedia confissão, ia com a maior bondade. Era um perfeito exemplo de mortificação, o que todos bem podiam notar, embora tudo fizesse sem ostentação e na maior simplicidade. Em seus mínimos gestos notava-se a grande simplicidade de sua alma.

    Não queria se dispensar da comunhão nos pavilhões, mesmo em dias de chuva, ou quando não se sentia bem de saúde. Dizia simplesmente, com aquela expressão tão nossa conhecida: "Hum! Hum! Isto não é nada!" Tudo para ele era nada, quando se tratava da glória de Deus e a salvação das almas. Tudo para ele estava bem.

    Às 9 horas vinha novamente à capela, no coro, rezar o breviário, esperando os doentes que quisessem confessar. Nestes dois anos, jamais se viu rezar seu breviário, que não fosse de joelhos ou andando; só nos últimos dias é que o vimos rezando sentado. Depois se recolhia ao quarto. E às 14 horas estava de novo na capela, rezando o breviário e pronto para confissão. Saindo dali, fazia visita a todas as enfermarias, indo de leito em leito, dizendo uma palavrinha de conforto, um gracejo ou se interessando pelas famílias dos doentes. Quanto conforto, quanta consolação, quantos bons conselhos?! Só no dia da recompensa eterna o saberemos.

    Para ele todos eram iguais, não fazia distinção. Todos eram membros de Cristo; e isto nos valeu um exemplo de grande valor, quando vimos pessoas de outro credo, chorarem a morte do grande amigo. Um grande amigo! Ó! Mais que um grande amigo! Um pai extremoso, que com todos se preocupava.

    Terminada a visita nas enfermarias, o que nem a chuva, nem o reumatismo impediam, voltava a seu quarto. As 17:15 horas ia à capela, quando fosse dia de bênção do Santíssimo. Depois permanecia em seu quarto; quando não ia ao Convento do Santo Sepulcro a ver seus irmãos de hábito, ou quando vinha assistir, com os doentes, o cinema de domingo.

    Em todas as nossas festas, fazíamos questão de sua presença e nunca se fazia esperar; era até o primeiro a chegar e nos ajudava com seus gracejos. A qualquer hora que dele precisássemos, podíamos contar com sua paciência e bondade. Quantas noites, no melhor de seu sono, era chamado com urgência, e prontamente atendia o chamado!

    Ah! Doloroso será referir este trecho, porém, será a chave de ouro que terminará esta narrativa. Sábado de Nossa Senhora, mãe dos sacerdotes. Um de seus filhos prediletos dirige-se ao altar, onde iniciará a santa Missa. "Introibo ad altare Dei Confessará suas faltas: "Confiteor Dará glória a Deus: "Gloria in excelsis Deo Pedirá a Deus o purifique: "Munda cor Firmará sua fé: "Credo Oferecerá o sacrifício: "Suscipe; sancte Pater Pedirá a seus irmãos que rezem por ele: "ora te, frates Pede por todos: "Memento, Domine Meu Deus! É o momento da consagração, o momento do sacrifício. Céus! O que vemos? Anjos do céu, assisti a esta imolação. O sacrifício hoje é diferente nas espécies. Não é pão e vinho. É o próprio sacerdote que se imola. Notai os gestos, o esforço que faz para completar o santo sacrifício. O suor banha-lhe o corpo, qual Cristo no Horto. Está trôpego, qual Cristo a caminho do Calvário. Inclina-se várias vezes e se ergue a exemplo de Jesus. Resiste o quanto pode. Vem o cirineu: aparece a cadeira; não aceita pois ainda encontra forças para lutar. Luta mais. E mais... Até as forças faltarem. E então o cirineu pode ajudar. E ao sentar-se, na cadeira, lança o olhar para Cristo, e abrindo os braços em sinal de imolação, entrega-se à vontade de Deus.

    Vede, anjos, vós que compreendeis a sublimidade do sacerdócio, o que era este gesto. Era o "consumatum est E assim, horas mais tarde, o sacrifício era completo. Em santa paz morria nosso capelão.

    Seguem todos a prestar a última homenagem àquele que foi um amigo, um pai extremoso, e recebeu a última lição: "Memento, homo, quia pulvis est, et in pulverem reverteris", Deixou-nos o exemplo, que, para bem morrer, é preciso bem viver.

    "E as nossas lágrimas se unem o consolo de que, se perdemos um pai extremoso na terra, ganhamos um protetor no céu",

    Por Frei Letâncio Vaske

    Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1957, p. 148 a 151.

Configuraciones Institucionales relacionadas
cómo citar este contenido
SATLER, Fabiano Aguilar. Fr. Quiriano Jacobs, OFM (Antonius Leonardus Jacobs). Red Internacional de Estudios Franciscanos en Brasil. Disponible en: http://riefbr.net.br/es/content/fr-quiriano-jacobs-ofm-antonius-leonardus-jacobs. Accedido en: 19/01/2025.