IN MEMORIAM
Frei Optato (Adrianus Henricus) van OoRevista dos Franciscanos da Província Santa Cruzhot, nasceu aos 23 de maio de 1888 em Someren-eind, na Holanda. Fez o curso de humanidades no ginásio de Venray. Tomou o hábito franciscano no convento de Wychem, aos 7 de setembro de 1909. Fez aí a profissão simples aos 8 de setembro no ano seguinte. Três anos depois emitiu os votos solenes e aos 2 de abril de 1916, recebeu a ordenação sacerdotal.
Veio ao Brasil aos 6 de março de1919. A sua primeira residência, no Brasil, foi Ouro Preto onde ficou 4 meses. No mês de julho de 1919 foi transferido para Corinto e nomeado coadjutor da paróquia. Depois de meio ano foi transferido para o Ginásio S. Antônio em São João del Rei. Esteve ali de 28 de janeiro de 1920 até fevereiro de 1953 como professor e nos últimos anos como Padre Espiritual. Após ter trabalhado durante 33 anos não somente como professor, mas também como pregador de retiros e missões, como diretor espiritual de muitas almas foi nomeado capelão no Hospital de Nossa Senhora das Dores em Cascadura. Em 1955 sofreu um derrame pulmonar e foi transferido para o nosso Convento em Visconde do Rio Branco para ficar em repouso. No mês de março veio a Divinópolis. Era só para alguns meses. No dia 16 de outubro de manhã faleceu e foi sepultado no cemitério do Convento Santo Antônio.
Leio na "A Semana" de 20 de outubro de 1957 sobre a morte de Frei Optato: "Morreu santamente na bela Paz do Senhor
Não assisti aos últimos momentos do nosso querido confrade, mas não me admiro desta notícia do jornal.
Frei Optato, profundamente piedoso, deve ter sentido aquela paz do Senhor, quando chegou a hora de se despedir deste mundo. Deve ter sido qual viajante, fatigado de longa e penosa viagem, mas satisfeito de ter chegado ao seu destino.
Acabara-se aquele trabalho cansativo de ensino, de pregação, de confessionário, tinham terminado aquelas subidas e descidas nas íngremes ladeiras da cidade, em busca de doentes para lhes dar o consolo da união eucarística com Cristo, havia findado aquelas repetidas viagens apostólicas de pregação de retiros, novenas e missões, o bom frei sempre se sacrificando afim de cooperar na santificação das almas.
Lembrando-se de tudo isto, feito exclusivamente para Deus, com uma simplicidade e naturalidade admiráveis, como se ele não tivesse nenhum direito a descanso e distração, podia dizer tranquilamente: "Vi todas as coisas que fiz, e eram muito boas Sossegadamente podia se chegar ao divino Juiz, certo que a morte seria o momento da recompensa.
Frei Optato era um homem extraordinário, um tanto fora do comum. Parecia haver na sua vida duas regras, para ele indispensáveis: aproveitar o tempo quanto mais possível, e fazer bem, muito bem tudo que fizesse.
Era ótimo professor. Estudava muito, fazendo questão de conhecer a fundo a matéria que ensinava. Todos sabem da sua formidável memória, aquele tesouro inesgotável de conhecimentos geográficos. Docente exímio, era exigente para com seus alunos, especialmente para com os que sabiam inteligentes, mas deste modo os ajudava a explorar os talentos que Deus lhes dera.
Tinha plena autoridade sobre os pupilos, conseguindo com a maior facilidade ordem e disciplina na turma até ao ponto de poder brincar com seus dirigidos sem abrir caminho a abusos ou falta de disciplina.
Nomeado padre-espiritual do Ginásio Santo Antônio em 1950, pôs-se inteiramente à disposição dos alunos, nunca faltando no confessionário nas horas marcadas sob o pretexto de outro serviço mais importante, e sempre fazendo suas pregações com grande entusiasmo, adaptando o desenvolvimento de idéias ao seu auditório.
Frei Optato era um homem extraordinário. Não o sabieis? E, que pensais vós, estimados colegas, de um padre professor-regente ocupadíssimo, tendo um confessionário muito freqüentado, que ainda acha tempo para de manhã cedo ir à cidade, antes de começar seu trabalho profissional, com bom tempo e com mau tempo, levando a Sagrada Comunhão a numerosos doentes, ricos e pobres, sem distinção? Isto de vez em quando? Não, não às vezes, mas praticamente todos os dias, e uns quinze ou mais anos a fio! - É verdade ou não é, que frei Optato era um padre fora do comum? Haverá sempre discussão sobre a eloqüência de um orador secro, uns o hão de apreciar, outros talvez critiquem o seu estilo, seu medo de falar etc... Certo é que frei Optato tinha uma voz agradável e forte, capaz de se fazer ouvir, sem microfone, até os extremos cantos de uma grande multidão.
Ele falava uma linguagem correta, muitas vezes elegante, mas simples, compreensível também para o homem do povo. Tinha uma dicção claríssima, prova de estar interiormente convencido daquilo que doutrinava, prova de sua firme vontade de querer penetrar nas almas de seus ouvintes. Muitos gostavam de seus sermões: em Lavras, se não me engano, foi convidado cinco vezes em seguida para pregar o retiro dos Vicentinos.
Em 1951 nos separamos. Só uma vez o encontrei. Foi num retiro em Santos Dumont, onde nos edificou pelo seu espírito de oração.
O que vi dele na nossa longa convivência em São João del Rei é suficiente para me imaginar sua vida na Santa Casa de Misericórdia em Cascadura: "Tornou-se tudo para todos
Frei Optato foi, então, um santo? Acho que não. Provavelmente tenha sido só um bom e zeloso sacerdote. Mas este "Só" para mim significa bastante.
Ele tinha naturalmente seus defeitos como todos nós, sem exceção. Não conseguiu extirpá-los ou dominá-los suficientemente para ser candidato à canonização, igualmente como todos nós. Para que, então, agora fazer passar em televisão as faltas de um confrade, do qual acabei de enumerar sumariamente as boas qualidades e as virtudes? Quem gostar de televisão, procure a casa de um rico amigo que talvez tenha comprado um aparelho.
Nós rezaremos pelo frei Optato. É possível que tenha atraído alguma culpa sem ter tido ocasião de expiá-la na terra e que esteja penando no purgatório.
Que belo retrato, o de frei Optato na "A Semana"! É como a expressão daquela bondade de coração, típica dos filhos da Brabância e ao mesmo tempo nos faz adivinhar sua tão própria energia: "deixe disto, menino", "ponha-se para fora, rapaz
"Januske", talvez você se ria de mim por causa destes rabiscos necrológicos. Desculpe-me, foi a pedido, que os fiz. Não sou muito publicista, mas com prazer escrevi estas linhas, porque eram para você. Não falei mal de você, e os elogios, aliás, muito merecidos, não o podem mais afastar de Deus.
Passando em Divinópolis, visitarei seu túmulo, rezando uma Ave Maria especial pelo descanso da sua alma. Mas você também não se esqueça de mim, viu!
Por Frei Osmundo Hin
Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz 1957, p. 162 a 164.