IN MEMORIAM
No dia 31 de março Deus tirou do nosso convívio o querido confrade Frei Miguel.
Frei Miguel (Martinus Ernest Hubertus) Burger nasceu em Roermond, na Holanda, aos 4 de dezembro de 1906. Fez os estudos ginasiais no Colégio Episcopal de sua cidade e após um intervalo de vários anos, em que desempenhou um ofício no século, passou a estudar em Megen. Tomou o hábito a 7 de setembro de 1933; emitiu profissão de votos simples a 8 de setembro de 1934, e de votos solenes a 8 de setembro de 1937. Chegou ao Brasil em 11 de outubro do mesmo ano, em companhia, entre outros, do então Comissário, M. R. P. Frei Serafim e do M. R. P. Frei Paulo. Em Divinópolis continuou o estudo da Teologia, sendo ordenado padre em 22 de outubro de 1939. Concluídos os estudos, passou três meses como coadjutor em Abaeté, seguindo em janeiro de 1941 como professor para Santos Dumont, onde se ia abrir o seminário seráfico. Desde meados de 1943 aí ocupava o cargo de prefeito de disciplina. Em dezembro de 1948 foi transferido para São João del Rei na mesma função.
Não é tarefa fácil descrever a vida de Frei Miguel. As ocupações do seu cargo afastavam-no da comunidade durante a maior parte do ano. Além disso não era pessoa muito expansiva e não gostava de chamar a atenção sobre si. Era trabalhador e cumpridor dos seus deveres, às vezes até o excesso, tomando a si encargos e ocupações que com toda razão podia entregar a outros. Este característico fez com que descuidasse de si mesmo. Apesar de estar sofrendo há bastante tempo os incômodos de sua doença, continuou a trabalhar e somente no fim do ano passado começou a queixar-se.
Uma radiografia em novembro indicou um tumor, que se supunha no fígado e de caráter maligno. Um exame ulterior revelou um tumor canceroso no rim direito. Conforme o seu desejo foi operado em São João mesmo pelo Dr. Ivan de Andrade Reis. Tudo correu bem e em 8 dias estava de volta. A recuperação foi lenta. Veio então uma pleurite, já prognosticada pelo médico, agravar novamente o seu estado. No fim do mês de dezembro apareceram as dores agudíssimas, primeiro esporadicamente depois cada vez mais freqüentes. Tão violentas se tornaram as dores, que pediu ele mesmo, por precaução lhe fosse administrado o Sacramento da Extrema-Unção, o que se fez em 4 de fevereiro. Sorrindo dizia aos confrades: "Inter mortuos reputatus sum No dia 21 de fevereiro, por sugestão do médico, foi transferido para a Santa Casa. O sofrimento não o deixou mais. O câncer atacou o fígado e provavelmente o pulmão.
Todas essas provações suportou-as nosso Frei Miguel com verdadeiro heroísmo. "Tamquam aurum in fornace probavit illum Dominus Fiel ao seu caráter, não gostava de queixar-se, mas preocupava se com os seus confrades que dia e noite ficavam com ele. Agradecia a Deus por essa provação e o seu único temor era de não ter forças para suportá-la. Assim continuou seu estado com altos e baixos, até que no dia 31 de março passou para uma vida melhor. Estavam a seu lado Frei Adolfo e o Dr. Cid Rangel, quando às 7:20 horas da noite Frei Miguel disse que se sentia muito mal. Momentos depois expirou calmamente, deixando-nos um exemplo de cumprimento do dever e de resignação no sofrimento.
Martin - "E os últimos serão os primeiros O nosso querido Frei Miguel, que foi chamado tão tarde à vinha do Senhor, já foi chamado para a recompensa. Ele não é de uma vocação propriamente tardia, pois já estudava como menino no "Colégio Episcopal" da sua cidade natal, com a vontade expressa de se tornar sacerdote. Deus, porém, o provou. Não continuou no estudo. Tornou-se "etaleur Mais tarde queria eventualmente trabalhar em várias capitais da Europa para tornar-se ainda mais competente na sua profissão.
Poderíamos afirmar que o desejo para o sacerdócio o nunca deixou, mas aquele rapaz tinha de contar com a possibilidade que o seu plano elevado sempre ficasse irrealizável. Já adulto, vai para o Seminário de Megen, porque ali aceitavam com mais facilidade os chamados "anciãos", e também porque Megen exigia só que os alunos quisessem ser sacerdotes, e pelo resto dava plena liberdade. Porém, tendo bem refletido, o nosso seminarista chegou à conclusão de que a Ordem franciscana era a melhor para ele. Brincando disse uma vez: "A culpa é deles Mas, se for verdade, que a força, que certamente tem agido sobre ele, tenha tido alguma influência na sua decisão, então devemos dizer: "O felix culpa!" Aproveitou a ocasião das férias de Megen para visitar vários países. Esteve também em Sankt Gallen, na Suíça, onde está sepultado o Santo Abade que se tornou seu Padroeiro no momento em que o nosso Martin, ainda uma vez, homenageou o seu Padroeiro do batismo, livrando-se, com a espadada sua vontade, da veste secular, entregando-a ao pobre Cristo.
Frater Gallus - Quem não gostava dele? Quem dos muitos que viviam com ele, não o respeitava? E eram grandes as turmas dos clérigos, e houve muitos caracteres diferentes; mas todos tinham-no em grande estima, até aquele noviço, que se viu uma vez, durante a reza, agarrado no seu capuz. Parecia que São Roque tinha mesmo rogado ao Senhor para pôr fim àqueles risos, doença contagiosa entre os noviços. Em verdade, Gallus era querido e respeitado. Era respeitado, por causa da sua inteligência, sua palavra acertada, sua experiência da vida, seu talento artístico. Era querido, por causa da sua alegria, sua modéstia, seu interesse fraternal, sua boa vontade em ajudar onde podia. Ele era considerado como pessoa que sabia de tudo, uma capacidade completa, para assim dizer. Talvez que não tenha sido, no começo, tão firme em conservar o tom no coro, mas isso era devido mais ao impulso do seu coração, que ardia quando louvava ao Senhor. Destinado para o Brasil atirou-se com todo o entusiasmo para este novo espaço vital de seus ideais.
Frei Miguel - O curso de Teologia, terminou-o Frei Miguel em Divinópolis. Ficou depois pouco tempo em Abaeté e transferiu-se então para Santos Dumont, onde passou a maior parte da sua vida sacerdotal, educando, como Prefeito de disciplina, meninos, que queriam ser sacerdotes e franciscanos. O seu programa foi simples: "Quero que os meninos convivam como irmãos e saibam obedecer Pensava muito na vida em comunidade: "Pode ser que aquele menino tenha vocação para o sacerdócio, porém para nós não serve, pois dará muitas dificuldades no convento Referia-se aos conventos de clérigos, mas também a muitos outros, pois esperava que talvez, um dia, quase todo o nosso trabalho saísse de conventos. Conhecia bem os meninos, pois era um psicólogo nato e tinha o maior interesse em compreender a alma dos seminaristas; e eles, da sua parte, depositavam grande confiança em Frei Miguel. E, segundo os seus conhecimentos, tratava os meninos, em comum e particularmente. Estava sempre ocupado com os meninos. Raramente saía. Entre os poucos amigos de fora tinha alguns dos mais humildes, por exemplo um ou outro que lidava com passarinhos. Frei Miguel gostava de passarinhos. E porque gostava tanto? Porque os meninos gostavam de passarinhos. Apesar de viver um pouco ocultamente, tinha um interesse intenso em tudo que seus confrades faziam ou podiam fazer. Falou uma vez que, para si, desejava ser professor, e nada mais. Mas perguntado sobre o que faria se fosse vigário, respondeu: "Seria, em primeiro lugar, bom para meu coadjutor Os que viviam com Frei Miguel, lembram-se com quanto prazer - sacrificando a si mesmo - ele facilitava a atividade dos que trabalhavam também fora do seminário. Eram bem preparadas as aulas que dava, e lecionava com entusiasmo. Até no campo ou na horta ouvia-se muitas vezes o seu "então", o então decisivo da matemática. Mas agora, considerando as suas virtudes e considerando também a sua doença em São João del Rei, segue irresistivelmente o grande e último "ENTÃO Achou seu Fim, e, quis ut Deus, Miguel?
Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1952, p. 77 a 80.