IN MEMORIAM
Sofreu duro golpe o Comissariado no dia 9 de setembro p.p. pela morte do nosso querido confrade Frei Júlio Berten. Se algum dentre nós é conhecido de todos e se igualmente a um de nós todos são devedores por algum serviço de fraternidade prestado, é sem favor este confrade, o qual durante muitos anos tem estado às ordens de todos no convento de Cascadura.
Nasceu ele em Rotterdam aos 31-12-1870, de uma família tradicionalmente católica de sorte que na sua alma desenvolve-se facilmente o tenro broto das vocações religiosas e sacerdotal, com o resultado que terminados os estudos em Megen com a idade de 18 anos recebeu o hábito franciscano. Feito sacerdote foi quase logo destinado para a Terra Santa onde passou maior espaço de tempo na ilha de Rhodes em companhia do pranteado bispo Mgr. Hofman. Mais tarde, em 1907, trocou essa missão pela do Brasil, conservando ele, porém na alma tantas saudades dos Lugares Santos que até o último foi o seu supremo desejo findar a vida na Palestina, possivelmente pertinho do S. Sepulcro. Deus não o satisfez nisso, mas em troca, lhe deu ampla ocasião de trabalhar para a Terra Santa, pois que desde a chegada no Brasil, tem servido como Comissário não só pela província holandesa, mas também juntamente, às vezes, ou em separado, tem sido Comissário da Terra Santa, e nessa qualidade faleceu. Além disso, como já ficou dito, até a pouco era procurador da missão no Rio de Janeiro, cargo esse que tão pouco é uma sinecura que por causa dele e dos negócios da Terra Santa, quase todos os dias precisava ir "à cidade" e mover-se ali em todos os sentidos. Quem conhece ao Rio de Janeiro, entende o que isso significa. Nada obstante, porém, tantas preocupações de caráter terrestre, o Frei Júlio era muito sério como religioso, fiel e edificante na vida espiritual; afável e manso para todo o mundo; tinha muito tato e prudência no governo e na convivência. Por ser isso bastante notório foi escolhido diversas vezes para visitar oficialmente a outras províncias da Ordem.
Embora de constituição robusta e resistente sofreu nos últimos anos diversas operações cirúrgicas e sérios abalos da saúde; causas essas que acabaram minando-o inteiramente, de sorte que por fim os melhores médicos não souberam dizer qual a foi a verdadeira causa de sua morte. Em julho passado foi vitima de uma crise de angina pectoris a qual o prostrou na cama donde no prazo de dois meses foi levado para o cemitério. Deve ter sofrido muita dor, se bem que não o desse a conhecer enquanto em uso dos sentidos, ficando sempre calmo e alegre. O enterramento que saiu da igreja do S. Sepulcro em Cascadura foi testemunho evidente de quanto era querido e venerado. Houve representação de S.Excia, o Sr. Cardeal Arcebispo; estavam presentes religiosos e irmãs de diversas congregações e grande multidão de povo, seguindo todos com ele até à sepultura.
Sim, o Frei Júlio era muito benquisto; a sua personalidade que tanto se destacava, não cairá tão cedo em olvido. Praza a Deus que as bodas de ouro como religioso que ele ia celebrar neste mês de outubro agora se realizem no céu com brilho infinitamente maior. Assim seja.
Notas biográficas:
Frei Júlio tomou o hábito franciscano aos 3 de outubro de 1889, profissão solene 8-X-93, ordenou-se 21-III-96.
Em São João del Rei 13-VII-1907 a 20-V-09
Niterói 20-V-09 a 30-III-10
Em São João del Rei 30-III-10 a 30-IV-11
Teófilo Otoni 6-V-11 a 23-X-11
Niterói 4-XI-11 a 25-VI-12
São João del Rei 25-XI-12 a 25-V-17
Casca dura 25-V-17 a 9-IX-1939
Comissário Provincial 26-VIII-1911 a 16-XII-1922
Comissário da Terra Santa 15-III-1917 a 16-XII-1922
Vice Com. T.S. 3-II-1923 a dezembro de 1934
Com. T.S. dezembro de 1934 a nove de setembro de 1939
Praeses Niterói 30-V a 18-VI-1912
São João del Rei 1-I-1913 a 7-X-1916
Cascadura 25-V-1917 a 2-IX-1931 e 5-IX-1934 a 9-IX-1939
Vigário Teófilo Otoni 6-V a 23-X-1911
Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1939, p. 148-149