IN MEMORIAM
Nosso Commissariado perdeu pela morte um dos seus ex-missionários, Frei Gonzaga Gouverneur. Se não merece o título de fundador do Commissariado, este, graças a Deus, ainda vive -, foi um dos três pioneiros que iniciaram os trabalhos dos franciscanos hollandezes no Brasil. A 18 de dezembro de 1889 Frei Gonzaga, com Frei Adalberto Woolderinck, Superior, e o irmão Frei Otto Vervoort chegaram a Manaus. Pouco tempo alli trabalharam. Uma doença grave, o beri-beri, obrigou os 2 sacerdotes a repatriar, e Frei Otto foi unir-se aos seus coirmãos no Sul, onde as condições climatéricas eram mais favoráveis. Quatro annos depois Frei Gonzaga voltou ao Brasil, onde se incorporou ao Commissariado que já começava a expandir-se sob a direcção de Frei Rogério. De tudo quanto os franciscanos do Commissariado fizerem para a glória de Deus e bem das almas, Frei Gonzaga poderia dizer: quorum pars magna fui, - mas não o dizia. Foi coadjutor e vigário, vigário foraneo, superior local, presidente de seminário episcopal, conselheiro do Commissariado e Visitador de Províncias. Em todos esses cargos mereceu o maior elogio que um franciscano pode appetecer: foi um religioso observante. Sua pobreza era extraordinária. Não gastava nunca sem verdadeira necessi-. dade. Guardava pedaços de papel para escrever seus sermões. Viajava sem capa de chuva, sem guardapó, até sem chapéu de cabeça. Era muito devoto e piedoso, muito rezador. Era de genio folgazão e alegre, gostava de uma piada, nunca descambando, porém, para escurrilidade. Era muito trabalhador, não media trabalhos e cansaço quando se tratava de soccorrer às necessidades espirituaes do povo. Mas o que o distingue especialmente era sua simplicidade e bondade. Era para todos os seus collegas, conforme as circunstâncias, um bom pai ou um bom irmão, cuidadoso com os doentes, mostrando interesse cordial nos seus trabalhos. Não fazia facilmente mao juízo de ninguém, nem mesmo dos seculares. Além desses dotes morais, tinha appreciaveis qualidades intellectuaes. Além dos conhecimentos necessários a todo sacerdote, era bom latinista, mas bom mesmo, versificando com facilidade na língua de Cicero. Quando o Dr. Tristão da Cunha, na campanha eleitoral, se gabava de ex-discípulo dos franciscanos, podia e devia ter dito: de Frei Gonzaga. E toda a latinidade de que esse Deputado gosta de fazer certo alarde, deve-a a seu mestre Frei Gonzaga. Era também Frei Gonzaga, não digo artista, mas não deixava de ter multa queda para as bellas artes. Esculpia, pintava e, como já foi commemorado, fazia versos. Numa palavra, Frei Gonzaga foi um bom, gozava de sympathia geral, do povo e dos seus confrades. Todos quantos o conheceram aqui sentiram muito quando o estado da sua saude não lhe permittiu mais voltar ao Brasil, que elle amava tanto. E mais sentiram quando o correio nos trouxe a infausta noticia do seu fallecimento.
Rezemos para este bom irmão e amigo.
Faleceu em Rotterdam, Holanda, aos 09/06/1936, com 68 anos de idade, 46 anos de vida franciscana e 40 anos de sacerdócio. Viveu no Brasil de 1899 a 1928. Frei Gonzaga é um dos pioneiros da missão em Manaus.
Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1936, p. 78
