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Franciscano/a

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    Identificador:
    11504
    Nombre:
    Fr. Flaviano van Liempt, OFM (Carolus Joannes Josephus van Liempt)
    Sexo:
    Fecha de nacimiento:
    15/09/1876
    Fecha del fallecimiento:
    18/02/1958
    Lugar de nacimiento: ’s-Hertogenbosch, NL
    Lugar del fallecimiento: São João del-Rei, MG
    Estado eclesiástico:
    Notas Biográficas:

    IN MEMORIAM

     

    Frei Flaviano van Liempt. Dos mais antigos da Província.

    Recebeu a ordenação sacerdotal em Weert em 1904. Impôs-lhe as mãos Sua Excia. D. Schrijnen, DD. Bispo de Roermond. Passou os três primeiros anos depois de ordenado em os conventos de Weert e Venray, prestando serviços em paróquias vizinhas. Que dotado de talentos oratórios, era apreciadíssimo. Sabia, entretanto, que sua vocação estava na missão. Como naqueles dias, todos da nossa Província que foram "às terras dos Sarracenos e outros infiéis", ele também já pedira ser missionário. Assim, em 1907, veio para nossa missão: o Brasil.

    Primeira residência foi a casa paroquial Antônio Dias, em Ouro Preto. Logo que adquiriu os conhecimentos necessários da língua portuguesa, começou a vida de sacerdote prático na cidade e nas capelas: pregações muito simples, mas sempre cheias de avisos práticos para os ouvintes. Visitas a doentes, mormente nas capelas distantes três a cinco léguas. Gostava do trato com essa gente inculta. Em pouco tempo ganhou simpatias gerais. Ainda estava em Ouro Preto quando, em 1909, com os RR. PP. Frei Benvindo e Frei Sabino, formou a primeira turma de missões populares. Levaram uns cinco meses. Foi a pedido do Exmo. Sr. Dom Silvério Gomes Pimenta, Arcebispo de Mariana.

    Em julho de 1912 foi removido para Arassuaí. Começou o longo período de 19 anos de permanência no Nordeste de Minas. Período de maiores trabalhos e canseiras. De maior mérito diante de Deus e dos homens. Que nenhuma zona do Estado de Minas maiores dificuldades oferece ao Apóstolo de Cristo no exercício da sua missão. Teófilo Otoni, Arassuaí, S. Miguel de Jequitinhonha, eis aí o quadrângulo formado por estas mesmas paróquias. A superfície de 25.100 km2, a população 133.000. Cálculos aproximativos.

    Nesta imensidade de terreno moravam, já nos dias dos primeiros franciscanos nessa zona, milhares de roceiros. Escondidos no matagal. Católicos por batizados. As mais das vezes, em casa por uma comadre. Por intenção e tradição. Ignorantes em coisas religiosas por falta de quem os instruísse. Sem prática dos sacramentos, porque sem sacerdotes. Destinados todos ao céu por remidos de Cristo. Para estes também vieram os filhos de São Francisco. E começaram a vida apostólica.

    Por que estradas? Sim, de Teófilo Otoni havia uma estrada de ferro até Ponto d´Areia. Única. Havia também umas estradas mal conservadas de um centro ao outro, comunicação entre as três paróquias. As mais, uma picada dando passagem a um cavaleiro, quando muito para a tropa de animais de carga. E se hoje em dia se encontram por ali algumas estradas mais praticáveis, longe a vida está de por toda parte poder passar o jeep ou o auto. Naqueles dias, há uns bons 40 anos, quem quisesse penetrar nesta mata espessa, levasse machado ou ao menos faca de roceiro. Havia, de primeiro, abrir uns trilhos ou limpar o já existente que qualquer passageiro por acaso abrisse. Devia trazer os mantimentos para si, os criados e os animais. E o agasalho para passar a noite ao relento. Que ninguém sabia exatamente, onde podia passar a noite.

    E a mesma cura de almas na sede da paróquia?

    Ah, sim... Catecismo, pregação, visita aos doentes, confissões, devoções, bênção do Santíssimo e mais que conhecemos... Porém as chamadas para doentes fora da cidade ou do arraial... A 10 ou mais léguas..., não eram raridade. Daí a necessidade de a paróquia ter tropa própria, sempre ao dispor do vigário ou coadjutor...

    Tenhamos em conta também o calor sufocante no estio; As chuvas torrenciais na época das "Águas.. Rios, riachos, as correntes secas no estio, cheias a transbordar, transformando em pântano o terreno.

    E a mesma formação do terreno... Toda esta parte do Nordeste é montanhosa. Não são as serras, propriamente falando... são auteiros e mais auteiros, entre os quais se formam clareiros nos vales... E lá vão estradas, e picadas, e trilhos morro acima, morro abaixo...

    E me pergunto a mim mesmo quantas vezes qualquer um deles, a teoteca com o Santíssimo em bolsa de seda ao peito, a caixinha com os santos Óleos no bolso do hábito, fora andando em lombo do animal, mato adentro, afim de em uma choça miserável consolar um doente na última hora...

    Quantas vezes teve de dormir cansado, faminto em um rancho à beira do caminho... Que nem ele, nem os animais agüentavam seguir até o sítio próximo...

    E quantas vezes, ao cair da noite, batendo palmas à porta de qualquer cafua, que um desses heróis, vigários do interior, ainda que pudesse entrar para dormir no chão de terra batida, não encontrou nada que saciar a fome, porque a última broa de milho já haviam comido as crianças famintas...

    São coisas corriqueiras que se dão em qualquer parte deste interior a poucas léguas da sede da paróquia.

    Foi esta propriamente a vida de nosso confrade Frei Flaviano. Em Arassuaí, coadjutor do vigário Frei José. Instituído o novo bispado de Arassuaí, em 1914, foi eleito Secretário da Cúria Episcopal pelo novo Senhor Bispo Dom Serafim Jardim. Acumulando, entretanto, este cargo honroso e difícil, porque era organizar a mesma secretaria. Que não chegou outro que fosse coadjutor da paróquia. Desempenhou os dois cargos até ser promovido para São Miguel de Jequitinhonha. Em 1917.

    Era pároco ali o RP. Emerenciano Alves de Oliveira, sacerdote respeitável sob todos os aspectos. Como já idoso e enfermo não podia continuar sozinho na cura das almas, pediu o Exmo. Sr. Bispo de Arassuaí ao então Comissário do nosso Comissariado, RP. Frei Júlio Berten, desse um dos sacerdotes para cooperador do velho vigário. Foi escolhido o RP. Frei Flaviano. Inegavelmente incumbência algo espinhosa. Por seu trato simples e zelo das almas venceu nosso confrade as dificuldades. Em breve ganhou os corações da população.

    Falecido em 1921 o RP. Emerenciano, Dom Serafim nomeou ao Frei Flaviano pároco efetivo.

    Parte do serviço espiritual da paróquia, já desde 1912, estava a cargo dos Franciscanos na residência provisória de Joaíma, a cinco léguas ao Sul. No fim de 1922 mudaram-se para São Miguel os dois sacerdotes de Joaíma, nomeados coadjutores do RP. Frei Flaviano.

    Quatro anos ainda demorou em São Miguel. Em 1926 foi nomeado pároco de Teófilo Otoni.

    Comparada com Arassuaí e São Miguel de Jequitinhonha apresenta-se mais adiantada a cidade de Teófilo Otoni. Mesmo neste tempo. Além da Estrada de Ferro, havia maior penetração na mata em redor. Havia, então já, a nova matriz. Havia escola católica; havia já um hospital, havia vida religiosa mais bem formada. Havia ainda o Semanário "Família", fundação nossa dos Franciscanos, a pedido do Sr. Arcebispo de Diamantina, Dom Joaquim Silvério de Sousa. Folha utilíssima para propaganda e defesa da religião, e bem quista.

    Contudo, só com pezar desfez-se Frei Flaviano do seu povo da roça, mais rude no trato, sim, porém, mais sincero e leal.

    Neste cargo outra vez mostrou a seriedade acostumada com que tratava os interesses religiosos. Dado o fato de que não gostava de construções novas - não era absolutamente o pároco construtor - meteu-se em consertar o que faltava à Matriz: a torre. Sabe Deus à custa de quanto peditório entre o povo para receber as contribuições para este fim.

    Em abril de 1931 saiu de Teófilo Otoni.

    Aqui inicia-se a segunda parte de sua vida apostólica em nosso país. Igual à primeira quanto ao apostolado, não há duvida. Em ambiente, porém, diferente. Em ocupações às quais viveu de todo estranho. No fundo estão sempre os mesmos fins da carreira sacerdotal. Modos há, contudo, diversos. Ocupação do tempo, de habilidades até então inusitadas.

    Além de coadjutor - durante meses - em algumas paróquias, duas vezes encheu o cargo de Padre Espiritual dos alunos do nosso Colégio de Santo Antônio em São João del Rei: a primeira vez de 3 de julho de 1932 a 14 de março de 1933. A segunda vez de 9 de outubro de 1934 a 12 de março de 1936.

    Removido em novembro de 1936 para Cascadura, residiu quatro anos no Hospício da Terra Santa. Cargo: procurador da nossa. Província da Santa Cruz. Não era uma sinecura. As encomendas das diversas casas em Minas - e eram muitas -; compra dos mais diversos artigos, pagamentos, verificação das mesmas encomendas, despachos por Estrada de Ferro ou por outras empresas... Tudo passou por suas mãos. Daí quatro, cinco vezes por semana tinha que ir à cidade. E cada qual dos nossos sabe o que quer dizer isto nos subúrbios do Rio. Chegando à casa, os apontamentos a se fazerem, as contas a verificarem, pôr-se em correspondência com os confrades no interior. E já não estava no vigor da vida. Já tinha passado os 60... Será de admirar um, que sentindo-se cansado, pedisse remoção para São João del Rei? Obteve. E no dia de São Francisco em 1940 deixou Cascadura.

    São João del Rei... última temporada de 17 anos e 3 meses de uma vida bem empregada para salvar almas.

    Mas não foi descanso, por mais merecido que fosse, que procurou. Quis ser útil até o fim.

    Antes de mais nada, foi trabalhando na Secretaria do Colégio: Assistente do Secretário. Copiando, do relatório que recebia dos professores, as notas dos alunos nos livros oficiais para os arquivos. Milhares de páginas, de nomes e notas.

    Além disso, tomou parte na regência dos menores. E o jeito que tinha de lidar com eles...

    E o confessionário... Ajudava nas confissões dos internos. Mormente aos sábados, nas vésperas de festas e nas primeiras sextas feiras. E ainda na igreja do convento.

    Nos domingos a Santa Missa em alguma igreja da cidade sempre com prática.

    Assim trabalhou enquanto teve saúde. Quis servir. Era seu desejo. Sua paixão. Resultado de sua humildade. Porque foi humilde de fato. Por formação Espiritual. Jamais ambicionou posições salientes, cargos de destaque. Posto que lhe não faltassem talentos e capacidades. Nem era dos que aos homens do momento invejavam a carreira mais em vista. Nem se derramava querendo abarcar mais ofícios, cargos, compromissos, obrigações do que exatamente esses que lhe fossem impostos pela obediência. Preferia passar sem chamar a si a atenção dos demais. De gênio alegre era hóspede ou hospedeiro muito procurado. Em seu bom tempo podia contar fatos, anedotas, historietas inventadas na hora que divertiam. Sem críticas amargas, porém. Razão de sempre ser benquisto quando aparecia, e ser visitado pelos confrades vizinhos quando vigário no interior.

    Cruz pesadíssima, contudo, Deus lhe impôs nos dois últimos anos de vida. Tornando-se escrupuloso, perdeu a calma da consciência... Passava dias sombrios... Sabe Deus como purificar seus servos...

    Se bem que prevista e preparada, foi repentina sua morte. Poucos dias antes do Natal de 1957 adoeceu. Ficou de cama 14 dias. Teve alta de levantar no quarto. Nestes dias pediu a Extrema Unção que lhe administrou o R.P. Frei Geraldo, Vigário do convento. Comungava todos os dias. Levantava, passava o dia todo, até alta noite, na cadeira de repousar, vestido de hábito e capa, terço na mão. Conversava - pouco, porém - com os confrades que o visitavam.

    Nos dias 17 e 18 de fevereiro deste ano mui pouco se alimentou. No dia 18 - meia hora antes do desfecho - visitamo-lo, estando a comunidade a jantar - quando o enfermeiro entrou no quarto afim de perguntar que coisa queria para o jantar, o encontrou deitado no chão, já falecido. Os confrades que correram para o quarto o encontraram ainda com todo o calor do corpo.

    Conhece Deus a hora melhor para chamar os seus servos. E a dulcíssima Senhora de Den Bosch o terá apresentado. Que devotíssimo a Maria Santíssima fora sempre...

    Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1958, p. 63 a 67.

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SATLER, Fabiano Aguilar. Fr. Flaviano van Liempt, OFM (Carolus Joannes Josephus van Liempt). Red Internacional de Estudios Franciscanos en Brasil. Disponible en: http://riefbr.net.br/es/content/fr-flaviano-van-liempt-ofm-carolus-joannes-josephus-van-liempt. Accedido en: 19/01/2025.