Frei Caetano (Antônio Chêmoli) foi o primeiro Irmão que trabalhou em nossa Missão; seu companheiro Frei Virgílio de Trento faleceu na viagem que os trazia para o Brasil como missionários.
Nasceu aos 12 de novembro de 1846; vestiu o santo hábito aos 19 de junho de 1880; profissão simples aos 21 de junho de 1881, e solene aos 28 de julho de 1884. Era filho de Antônio e Domingas Chêmolí.
Cresceu numa família religiosa, sempre honesto, prudente e morigerado. Com 20 anos foi prestar o serviço militar por 3 anos, segundo as leis da Áustria. Como soldado visitava muitas vezes o Convento e a Igreja dos capuchinhos de Arco.
De caráter manso, sempre franco e aberto, soube manter-se decisivo na vida cristã, mesmo em meio à agitada vida militar. Deixada esta, entra para a Ordem, conservando-se sempre fiel aos compromissos assumidos, sempre garboso e aprumado em seu porte militar.
Por seus dotes e virtudes foi um dos escolhidos para vir fundar a nova Missão de São Paulo, juntamente com Frei Félix de Lavalle, Frei Luís de São Tiago e Frei Virgílio de Trento. Embarcaram em Gênova aos 27 de agosto de 1889, pelo “Napoli” e chegaram definitivamente ao Rio de Janeiro aos 6 de outubro, após rápida passagem por Montevidéu.
Antes de partirem para o Brasil os missionários foram recebidos pelo grande papa Leão XIII que os exortou a serem perseverantes e corajosos. Frei Caetano, em sua simplicidade, disse ao Papa: “Eu não tenho medo, pois fui soldado no Exército Austríaco!” E de fato, como os demais, não teve medo de enfrentar as grandes dificuldades iniciais e perseverar até o fim.
Chegados definitivamente a Piracicaba aos 16 de abril de 1890, Frei Caetano soube em tudo desempenhar seu papel de bom Irmão: porteiro, cozinheiro, sacristão, esmoler, alfaiate... salientando-se sua dedicação por ocasião da construção da igreja de Piracicaba. Arrecadou madeira e todo o material necessário.
Os mais antigos piracicabanos conservaram sempre viva a imagem do bom Irmão que com toda humildade e simplicidade saía a esmolar, sempre bem acolhido por sua delicadeza e santidade. Raras vezes – como se refere – teria sofrido oposição de um ou outro anticlerical.
Conforme relata Frei Damião no Livro Tombo de Piracicaba, é impossível descrever as “belas e heróicas virtudes de nosso confrade... praticadas nos 26 anos que residiu em Piracicaba...
“Sem temor de errar podemos dizer que de certo modo ele reproduziu em si mesmo a vida de São Félix de Cantalício. De fato, fazia suas delícias a exata e plena observância dos santos votos. Obedecia... com toda a presteza, sem discutir, cegamente... pois sabia perfeitamente que obedecendo aos superiores obedecia ao próprio Deus. Sua pobreza era realmente evangélica, pois não tinha qualquer afeto às coisas terrenas. Contentava-se com o estritamente necessário, e, se por vezes faltava até isso, mantinha-se alegre e satisfeito. Sua virtude predileta era a castidade. Para poder conservá-la integralmente não cessava de pedi-la com freqüentes súplicas ao Cordeiro Imaculado e à Virgem Maria para com a qual nutria sincera, especial e real devoção (...)
“Embora devesse, por seu cargo de esmoler, estar sempre em contacto com o mundo, sempre conservou pura e ilibada a castidade. Sua vida pode ser resumida no lema: Ora et labora. Frei Caetano rezava, rezava sempre. Sua oração era humilde, cheia de fervor, de confiança em Deus, perseverante. Especialíssima era sua devoção para com Jesus Sacramentado, com o qual se entretinha em doces e suaves colóquios. Pedia esmolas com tal graça, com tão boas maneiras que não havia quem pudesse negá-las” (pp. 115 a 120 do citado Tombo).
Também Frei Ricardo deixou extenso elogio de Frei Caetano no citado manuscrito “História da Missão dos Capuchinhos da Província Monástica de Trento no Estado de São Paulo no Brasil”- às páginas l6v-l7v. Aqui ficam registradas suas palavras, mantendo a grafia original e o estilo:
“E impossível descrever as fadigas, os suores derramados, os sacrifícios, as privações sofridas, as viagens sem conta por atalhos impraticáveis e por mattas cerradas, de dia e de noite, debaixo de chuvas pesadas ou cristado pelos ardentes raios do sol, que este óptico religioso fez para angariar os madeiramentos necessários. Pela sua modéstia e exemplaridade gozava de grande veneração entre o povo e por isso todos iam a porfia para favorecê-lo nos seus pedidos. Presentava-se humildemente aos fazendeiros ou aos colonos já proprietários de mattas virgens, pedindo plantas apropriadas para taboame, vigamentos, mão de obra, carretões e animais afim de conduzi-las às serrarias ou no lugar das obras e era certo de ser attendido pronptamente e de boa vontade e assim ajuntou tanta madeira que não só deu para fabrica da igreja e convento de Piracicaba, mas também, em parte, para construir o nosso convento de São Paulo...
“Quem animava este Santo religioso a sustentar com alegria tantos padecimentos e tantas fadigas era o seu grande amor à oração e a regular observancia. E, com efeito, eu o vi bastantes vezes no meio dos seus labores murmurar preces, atos de amor de Deus, fervorosas jaculatórias, sem contar que estando em casa era sempre pronto aos atos da vida comum e especialmente ao coro. A sua obediencia era sempre pronpta e alegre, na pobreza admiravel, na castidade ninguém teve a menor nota em contrario; a guardava zelosamente com a custódia dos sentidos evitando a menor familiaridade com pessoas de sexo diferente...
“Nunca ouvia-se da bocca dele a menor murmuração a cargo do próximo, antes desculpava a todos. Nas suas viagens entre os seculares era edificante pela humildade e pela santa conversação. A todos dava bons conselhos de paciência e resignação à vontade de Deus, consolava os afflictos, animava os doentes a sofrer por amor de Deus com a esperança do premio eterno, a receber os Sacramentos a conformar-se com a vontade de N. Senhor, enfim era um verdadeiro apóstolo do bem.
“Quanto N. Senhor estimasse esse seu fiel servo, o demonstrou com um grande pródigo. Um dia, pouco antes de por o sol, embrenhou-se em uma extensa matta virgem em procura de plantas para a construção. Depois de ter percorrido para cá e lá, viu que principiava annoitecer, então tractou de sair da matta para ir a jantar e pousar na fazenda do dono da mesma.
“Foi-lhe impossivel, pois desorientado não achou o caminho, e ja estava escuro. Que fazer? Conformado com a vontade de Deus e confiado na bondade do Mesmo, depois de ter rezado as suas orações quotidianas se deitou debaixo d’uma arvore e dormiu o sono dos justos sem preocupar-se de perigos noturnos.
“Quando accordou já principiava a clarear o dia. Levantou-se bem descançado, rezou as suas preces matutinas e tinha apenas acabado, quando viu uma onça pintada que estava perto dele. Antes do que assustar-se, lhe acariciou a cabeça dizendo-lhe: ‘Muito bem, você veio em oportuno para me ensinar o caminho da fazenda. Vamos, pois!! A onça, como fosse um manso cachorrinho sacudindo a cauda pela alegria foi-se adiante e elle atrás e depois de uma meia hora, quando já avistava-se a fazenda a onça voltou para o matto e elle agradecendo a Deus por tão inesperado e prodigioso auxílio foi a reficiar-se na fazenda que já estavam todos sobressaltados não vendo-o comparecer à janta e a pousar na noite antecedente como lhes tinha prometido”...
E tal fato é contado até nossos dias.
Segundo também Frei Isidoro de Telve em seus escritos esparsos, quando, certa vez, Frei Caetano ia pela mata, pisou em venenosa serpente e esta nada lhe fez... “Então, ele, como bom filho de São Francisco lhe falou familiarmente: ‘Visto que não me fizeste mal algum, nem eu quero matar-te: vai em paz’. E lhe deu a Santa Bênção”. Prossegue: “E destes fatos e semelhantes aconteciam-lhe freqüentemente. Mas é que ele, por humildade não os contava a não ser alguma vez, por necessidade... Caiu, pois, doente, e bem compreendeu que tal doença era ‘prolixitas mortis’ e ele, sem tanto preocupar-se com médicos e medicina tratou de preparar-se para morrer bem. Fez com a devida preparação a Confissão Geral e recebeu com a maior devoção possível o Santo Viático. Renovou a Profissão Religiosa e pediu perdão e orações ao Padre Guardião e demais Religiosos. Recebeu, enfim, o Sacramento da Extrema Unção e a Absolvição Geral e assim bem preparado placidamente morreu a 4 de Maio de 1917 em Piracicaba, tendo 71 anos de vida natural, 37 de vida religiosa e 29 de vida missionária. Todos os que o conheceram e tiveram ocasião de tratar com ele dizem que era realmente um santo”...
Frei Damião no citado Tombo fala de Frei Caetano dizendo que ficou doente desde janeiro até maio e era tratado pelo Dr. André dos Santos; anota que ele faleceu às 16 horas de um sábado, 4 de maio; descreve os mesmos fatos e virtudes com outros detalhes relativos ao bom Irmão. Entre outras coisas diz:
“O pio religioso, que tinha a prudência da serpente e a simplicidade da pomba, foi, durante toda a sua vida mortal, um grande e insigne pregador a seu modo. Pregava sempre; pregava com a oração, com boas exortações, com bons conselhos, e especialmente com os exemplos de uma vida santa. Sua lembrança não se extinguirá, mas permanecerá imperecível nas futuras gerações: ‘In memoria aeterna erit justus’.
“Oh, grande Deus, Deus de imensa bondade e de infinita misericórdia, concede o eterno repouso ao teu fiel servo que tanto e tão ternamente Te amou neste exílio terreno. Réquiem aeternam dona ei, Domine. Oh, Senhor, não negues a este digno filho de São Francisco aquela luz que ilumina a Celeste Jerusalém onde tu Te revelas face a face aos teus eleitos e deles tu és o gozo, a alegria, a recompensa. Et lux perpetua luceat ei... e contigo permaneça em paz por todos os séculos eternos... Requiescat in pace... Amen.” (Tombo, pp.115 a 120).
Frei Gabriel Forti que fazia o Noviciado nesse mesmo ano em Piracicaba, declarou que seu coirmão era de grandes virtudes e de grande dedicação, tendo ficado um tanto esclerosado nesse período de sua enfermidade em 1917.
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Identificador:20684Nombre:Fr. Caetano de Pietramurata, OFMCapSexo:Fecha de nacimiento:12/11/1846Fecha de entrada:19/06/1880Fecha del fallecimiento:04/05/1917Lugar de nacimiento: Itália, ITLugar del fallecimiento: Piracicaba, SPGrupo Religioso: OFMCap – Ordem dos Frades Menores CapuchinhosEstado eclesiástico:Notas Biográficas:
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cómo citar este contenidoCONFERÊNCIA dos Capuchinhos do Brasil. Fr. Caetano de Pietramurata, OFMCap. Red Internacional de Estudios Franciscanos en Brasil. Disponible en: http://riefbr.net.br/es/content/fr-caetano-pietramurata-ofmcap. Accedido en: 19/01/2025.