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Franciscano/a

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    Identificador:
    11492
    Nombre:
    Fr. Bonifácio van Emmerik, OFM (Hermanus Dominicus van Emmerik)
    Sexo:
    Fecha de nacimiento:
    18/12/1875
    Fecha del fallecimiento:
    07/08/1957
    Lugar de nacimiento: Haarlem, NL
    Lugar del fallecimiento: Cabo Verde, MG
    Estado eclesiástico:
    Notas Biográficas:

    IN MEMORIAM

     

    Frei Bonifácio (Hermanus Dominicus) van Emmerik, nasceu aos 18 de dezembro de 1875, em Haarlem, na Holanda, Fez o curso de humanidades no ginásio de Megen. Tomou o hábito franciscano no convento de Wychen, aos 3 de outubro de1898. Fez aí a profissão simples, na festa de São Francisco, no ano seguinte. Três anos depois emitiu os votos solenes e aos 2 de abril de 1905, recebeu a ordenação sacerdotal.

    Depois de ter trabalhado por vários anos como confessor e pregador do convento de Maastricht, veio ao Brasil, chegando a Niterói aos 28 de outubro de 1913. A sua primeira residência, no Brasil, foi Ouro Preto, onde chegou aos 8 de novembro de 1913. De lá, foi transferido para Cabo Verde, em maio de 1914, para ajudar a Frei Martinho como coadjutor. De fevereiro de 1915 a 7 de março de 1917, esteve outra vez em Ouro Preto. De lá foi transferido para Cascadura, onde ficou até 21 de setembro de 1919. Foi então nomeado vigário da paróquia de Cabo Verde, onde permaneceu até 28 de maio de 1941, quando seguiu para o Rio Grande do Sul, nomeado guardião - o primeiro - do novo convento de Daltro Filho; como tal, permaneceu nesse convento até fins de 1949. De 1950 até junho de 1953 foi guardião do convento de Carlos Prates, em Belo-Horizonte. De lá foi transferido para Cabo Verde, como capelão do Hospital São Francisco, onde faleceu, aos 9 de agosto. Foi sepultado no cemitério de Cabo Verde.

    Posto que, desde rapazinho mostrasse vontade de ser padre e certos indícios de chamamento precoce de Deus - como sejam zelo para ouvir a Santa Missa em dias de semana, zelo em decorar as lições do catecismo, obediência aos pais, proceder pacato, sem burlas com amiguinhos, tais e semelhantes - apenas aos 18 anos começou os estudos relativos a esse fim. É que o pai não se resolvia a dar licença. Não por falta de fé. Nem por deficiência de recursos financeiros. Ambos tinha. Só por espécie de escrúpulo, pois na família não havia sacerdotes de que ele se lembrasse. Vendo porém, que Germano continuava nos mesmos bons costumes e aconselhado pelo coadjutor, diretor espiritual do filho, concordou. Assim o moço foi ao ginásio franciscano de Megen estudar humanidades. Terminado o curso com resultado feliz, entrou na Ordem de São Francisco, tomando o nome de Bonifácio. Ordenou-se em 1905.

    Nota: quando por ocasião da ordenação de frei Bonifácio, seu irmão mais moço pediu ao pai licença para ser sacerdote também - fôra coroinha da primeira Missa do irmão mais velho. Imediatamente o pai concordou, e o colocou no seminário diocesano. Sacerdote este também, padre secular, vive ainda em sua freguesia.

    Os primeiros anos de sua vida sacerdotal passou-os Frei Bonifácio como "assistentiepater", no convento de Maastricht. Sem designação de paróquia fixa, prestando serviços onde fosse mandado ou convidado para a cura d'almas. "Padre avulso", diríamos aqui. Mas um ser avulso, com trabalhos incessantes, fora do convento, à disposição sempre dos párocos ou capelães de hospitais que precisassem. Naquele tempo, o M. R. P. Provincial Frei Simão Bennenbroek estava em procura de "missionários" para o Brasil e convidou também frei Bonifácio. Este quis refletir primeiro sobre o convite; um ano depois, por ocasião da visita canônica, o Pe. Provincial renovou seu pedido e resolveram fazer uma novena para solucionar o caso. Como era de esperar, pouco depois, frei Bonifácio partiu para o Brasil, chegando a Niterói aos 28 de outubro de 1913.

    A primeira residência foi Ouro Preto. Depois Cabo Verde, coadjutor do já falecido frei Martinho Tiesselinck. Estava ele aí alguns meses quando, em Monte Belo, apareceu um padre infeliz, apóstata da Igreja Católica, aderente à então recém-fundada Igreja Brasileira, em São Paulo. Ia dizendo a Santa Missa na capela - pequenina, da roça - e administrando os sacramentos. O povo pouco entendia de apostasia, de suspensões eclesiásticas. Nem percebia as heresias que o infeliz transverso pregava. O perigo, porém, existiu. Remédio? Mandar outro sacerdote do bispado que ensinasse a verdade. Razão de o Exmo. Revmo. D. Antônio Augusto de Assis, bispo de Guaxupé, pedir ao vigário de Cabo Verde, mandasse a Monte Belo seu coadjutor. Fê-lo, claro está, o frei Martinho. Desta arte nosso frei Bonifácio ficou residindo - provisoriamente - no dito lugar. E foi feliz. Pregava com calma. Os paroquianos compreenderam a questão. Já não iam mais à missa do infeliz apóstata e... em breve este saiu de vez. Mas era conveniente ficasse aí mais algum tempo nosso confrade. Ficou até princípios de 1915 quando foi removido para Outro Preto.

    Dali saiu em março de 1917. Foi residir em Cascadura, onde se ocupou na cura d'almas. Foi diretor da Associação do Apostolado do Sagrado Coração de Jesus. Cargo de que gostava. Zelava o incremento das comunhões às primeiras sextas-feiras. E aumentou muito esta praxe em nossa igreja.

    Não era sem esforço extraordinário que se aplicava aos deveres de seu cargo. Pregava ainda todos os domingos na missa das oito horas. E que sacrifício para ele, essas práticas! Porque o frei Bonifácio não tinha o dom da palavra. Já por índole comedido, tímido até, já por não confiar em si para subir o púlpito sem ter escrito a prática toda, já por exagerar no seu íntimo a falta de conhecimento da língua portuguesa... Seja porque fosse, certo é - dou testemunho do que vi - que não pregava, nem explicação do Evangelho, nem prática do Sagrado Coração que não a tivesse, ele mesmo, escrito e decorado palavra por palavra. Em sua bagagem trouxe para Cascadura não sei quantas - também cento e tantas - explicações evangélicas, e práticas para a primeira sexta-feira. Confiava seus trabalhos a um confrade cada semana, para lhes passar os olhos. Corretos que fossem - e não havia muito de corrigir - pregava-os aos domingos. Neste domingo descançava... Segunda-feira de manhã, depois da Santa Missa... invariavelmente começava a decorar a prática do domingo seguinte. Decorava em alta voz, ora no seu quarto, ora no jardim... Isto todos os dias, uma a duas horas da manhã, e muitas vezes mais uma hora antes do jantar. Para as exortações da primeira sexta-feira o mesmo trabalho.

    Admiramos, os que com ele conviviam em Cascadura, sua perseverança, tenacidade, espírito de sacrifício. Contava ele mesmo que, ao recitar seu sermão, em sua memória o lia página por página, a tal palavra virava a página, seguia a primeira palavra da página seguinte. E assim por diante. Por fim, já não precisava tanto. Porém nunca confiou em si. Neste particular nosso confrade foi um exemplo para todos nós. E não duvido de que, por esse sacrifício constante, tenha alcançado do Sagrado Coração de Jesus muitas bênçãos para seus trabalhos apostólicos. Era aliás, nesta questão, de uma humildade extraordinária... Em Cascadura seu confessionário era bem freqüentado. Já por sua paciência, já pela calma com que dava seus conselhos, muitos penitentes o procuravam, mormente na ocasião da primeira sexta-feira.

    De Cascadura em 21 de setembro de 1919 foi removido para Cabo Verde e nomeado pároco daquela paróquia. Frei Martinho terminara a igreja e a casa paroquial. Esta precisava os últimos retoques, mas o vigário já morava aí. Como vigário de Cabo Verde começou frei Bonifácio o primeiro grande período de sua vida, ficando mais de vinte anos nesse cargo, fazendo o que um homem de sua têmpera podia fazer, para o bem do povo. Também em Cabo Verde, segunda-feira de manhã, invarialvemente começava a decorar a prática do domingo seguinte. Era estimado e respeitado pelos caboverdenses, mesmo pelos não-católicos. Procurou, não só melhorar a vida religiosa do povo, como também, a vida econômica e social do lugar. Trabalhou muito na catequese das crianças; esforçou-se para espalhar a Ordem Terceira (na paróquia). Chamou para Cabo Verde as Irmãs de Alfenas para fundarem uma escola católica, onde as crianças pudessem receber uma educação genuinamente católica; pois quase todas as professoras do único grupo do lugar eram protestantes. Ao lado dessa escola construiu o amplo e moderno Hospital de S. Francisco. Porém a maior lembrança que deixou em Cabo Verde foi a construção de umas dezenas de casas para famílias pobres. No intuito de perpetuar sua memória e em prova de gratidão, o governo municipal "batizou" uma das ruas da cidade com o nome de Frei Bonifácio. Um motivo de justo orgulho para ele foi também o fato de ter encaminhado dois candidatos ao seminário de Taquari, que hoje em dia são dois membros valiosos da Província, Frei Daniel e Frei Maurício.

    Em 1941, sentindo-se cansado - frei Bonifácio era diabético - pediu exoneração do cargo de vigário de Cabo Verde. Estando para ser inaugurado o novo convento de Daltro Filho, para noviciado e curso de filosofia, o governo do então Comissariado nomeou frei Bonifácio como primeiro guardião. Assim começou o segundo grande período de sua vida: guardião, de Daltro Filho, durante oito anos e meio, de meados de 1941 até o fim de 1949; e de Carlos Prates durante três anos e meio, de princípio de 1950 até o capítulo de junho de 1953.

    Apesar de ter sido quase vinte e dois anos consecutivos como vigário, soube adaptar-se admiravelmente bem à vida conventual. Querendo exercer um pouco de apostolado, fundou a Ordem Terceira na paróquia de Daltro Filho (saudades de sua florescente Ordem Terceira em Cabo Verde) e tomava conta do Apostolado da Oração das Senhoras. Não tendo muitas ocupações como guardião, tornou-se benemérito do novel convento, desbravando o mato em redor do mesmo, fazendo estradas e escadas, com o auxílio dos noviços. Os anos de seu guardianato em Daltro Filho foram, sem dúvida, os sete anos das vacas magras: falta de luz, falta de água, poucos recursos econômicos. E, apesar de tudo isto, soube conservar seu bom humor. Não se perturbava muito com tais incômodos já por sua natureza um tanto fleumática, já por um otimismo franciscano e quase ingênuo.

    A pontualidade predominava em sua vida toda, e era também uma de suas características como guardião. Com certo orgulho, podia afirmar que não houve dia em sua vida de cura de almas, que não houvesse antecipado as Matinas e Laudes. A não ser por motivo de doença, não faltava nunca aos exercícios da comunidade. Sem dúvida alcançou a idade avançada de quase oitenta e dois anos, também devido a essa pontualidade. Durante muitos anos, desde 1936 mais ou menos, observava religiosamente a dieta e tomava as injeções de insulina, para combater a sua doença, a diabete.

    Além desta pontualidade frei Bonifácio caracterizava-se por uma índole alegre pela qual sabia cativar o povo. Assim, em Cabo Verde conseguiu dos fazendeiros dos arredores os meios para construir o hospital e as casas para os pobres; também em Daltro Filho tornou-se amigo íntimo do Dr. Ito Snel, protestante muito decidido e médico da vizinha vila de Seca, de sorte que este sempre estava pronto para, desinteressadamente, atender aos doentes do convento. E, quando era necessário construir uma nova ala do convento, abraçando efusivamente com um sorriso irresistível ao construtor, Dr. Heitor Mazzini, repetia ingenuamente: "Dr. Mazzini, tudo de graça, tudo gratuitamente..." "Que frei simpático!", reagia Dr. Mazzini, e... fez tudo de graça. Assim também soube impor a sua vontade e dar certas lições aos súditos sem os aborrecer. Na hora de recreio, apesar de não levar muito a sério os problemas filosóficos que, às vezes se discutiam, não irritava e não oprimia o ambiente.

    Dominava ao frei Bonifácio o medo de tudo quanto fosse incerto: "Safety first", era a sua máxima. Portanto, gastava o menos possível e custosamente saía dum programa pré-estabelecido. Exceções e novidades eram-lhe um tormento. Sempre bem conservado entre as paredes de um convento ou casa paroquial, faltava-lhe a faculdade de sair de si mesmo e de compreender caracteres opostos ao seu. Apesar de nunca ter sido um homem de grandes problemas - era decidido - vivia muito voltado sobre si, lembrando-se da eternidade. Gostava de falar da morte; afirmava que estava pronto, mas atrás desta convicção, se ocultava um certo receio, aliás bem compreensível: "quos contristat certa moriendi conditio Qualquer indisposição bastava para chamar o médico e frei Bonifácio ficava satisfeito com um diagnóstico como "pâncreas dolorido" ou qualquer outro sem graves conseqüências. Tinha seus problemazinhos como p.e. se a grande quantidade de charutos que fumava, aliás, marca "mata-ratos", estava em conformidade com a pobreza. Tendo uma concepção de vida um tanto unilateral, acentuava exageradamente certos aspetos da vida sacerdotal e franciscana e perdia de vista outros aspetos importantes. Mas nosso Pai S. Francisco que chamava de bons frades menores os tipos mais diversos como frei Junípero, frei Masseo, frei Silvestre... sem duvida reservou este título também para o nosso frei Bonifácio, um homem simples sem pretensões e sem ambições.

    Terminado o seu guardianato de Carlos Prates, em princípios de julho de 1953 foi morar, como capelão, no Hospital de S. Francisco, em Cabo Verde. Nos últimos anos teve que sofrer bastante por causa de vários incômodos da velhice; ia-se-lhe escurecendo pouco a pouco a vista e assim precisava, para a celebração da santa Missa, usar o "Missale pro caecutientibus

    Concluímos a esta necrologia com o que o Pe. Vigário de Cabo Verde nos escreveu sobre os últimos dias e a morte de nosso confrade.

    "Recebeu frei Bonifácio a extrema-unção aos 24 de junho Chegando a Cabo Verde aos 10 de julho, encontrei-o sentado na cadeira de braços, fumando corajosamente. Piedoso como era, rezava todos os dias o coroa franciscano e o rosário inteiro (três terços). Uns dias depois começou a queixar-se. Sentia-se bem - disse só esse incômodo da velhice; melhorasse este, o mais se arranjaria. Aos 22 de julho já não se levantou. Foi piorando aos poucos. Ainda não era perigosa a situação, a Irmã Afonsa, sozinha, daria conta. Daí em diante frequentemente desandava em gritos; é de crer fosse pelas dores desse incômodo.

    Sábado, 3 de agosto, foi dia de confissão da Ordem Terceira. No domingo seguinte todo o meu tempo estava tomado. Por telegrama, pedi ao vigário de Muzambinho nos cedesse frei Efrém, momentaneamente aí para a instalação do pré-seminário; podia o mesmo ficar aqui com nosso doente. Assim se fez. Demorou-se até quarta-feira, quando teve que voltar a Muzambinho, por motivo de questão relacionada com o pré-seminário. Durante o dia, regularmente senhoras e demais pessoas visitavam o enfermo no hospital.

    Nessa mesma quarta-feira, 7 de agosto, às pressas me chamaram da casa do Major Pedro de Melo Sousa, velho amigo dos franciscanos, que muitíssimo ajudou ao frei Martinho na construção da igreja. Na volta, passei pelo hospital. Eram 10:30 horas. Disse a frei Bonifácio: "vai primeiro o Major Pedro Almocei em casa; dirigindo-me ao meio-dia à igreja, eis o telefone do hospital que avisa: "frei Bonifácio está morrendo Ao chegar, já tinha falecido. A comunidade das Irmãs rezou as preces dos moribundos. Morreu sem agonia, qual vela que se extingue à falta de cera...

    Logo que correu a notícia, fechou-se o comércio. Quis o Sr. Prefeito tomar tudo por sua conta: enterro e o resto. Disse apenas que desejava tudo simples e segundo nossa posição social. Resultado desta recomendação: esquife de Cr$6.000,00 para frei Bonifácio. O povo fazia questão de esmerar-se.

    De tarde, trouxeram o cadáver da capela do hospital para a matriz do ex-pároco. A noite inteira a matriz ficou aberta, e sempre gente a fazer vigília. Marcamos a santa Missa do sepultamento para as 10 horas, avisando os confrades vizinhos, alguns padres seculares, amigos de frei Bonifácio e a Cúria de Guaxupé. De madrugada o Sr. Bispo mandou avisar que ele mesmo ia celebrar a missa de exéquias. Convidamos Mons. Majela, de Poços de Caldas, para dizer umas palavras por ocasião da santa Missa. Com assistência dos confrades vizinhos frei Alfredo, Henrique, Tarcísio, Antônio, Efrém e 6 sacerdotes seculares, o Exmo. Sr. Bispo celebrou a santa Missa, fez a encomendação, acompanhando o enterro até o cemitério. Estavam presentes a Ordem Terceira e grande massa de povo. Entre parênteses: faleceu às 18 horas desse mesmo dia o "Major Pedro

    Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1957, p. 142 a 147.

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SATLER, Fabiano Aguilar. Fr. Bonifácio van Emmerik, OFM (Hermanus Dominicus van Emmerik). Red Internacional de Estudios Franciscanos en Brasil. Disponible en: http://riefbr.net.br/es/content/fr-bonifacio-van-emmerik-ofm-hermanus-dominicus-van-emmerik. Accedido en: 31/01/2025.