Mesmo empregados em uma Fazenda de uma Ordem religiosa, as pessoas escravizadas tinham suas condições de vida limitadas pela vontade senhorial e pela lógica de uma sociedade que dependia do trabalho escravo para existir e funcionar. Nesta obra, ao analisar as famílias de escravizados da Ordem de São Bento distribuídos na Fazenda de Iguassú, no entorno da Guanabara, o autor identificou laços de afetividade e proteção que favoreceram a sobrevivência no cativeiro. Para isso, foram interpretados diferentes registros históricos que apontaram o casamento, o compadrio e a participação na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário como formas de agenciamento dos africanos no contexto em que experimentaram viver a escravidão. Com base em registros paroquiais, inventários, testamentos, jornais e utilizando uma metodologia que conjuga a demografia histórica com a micro-história, o autor apresenta uma pesquisa capaz de problematizar as relações que as ordens religiosas não tinham apenas com a escravidão, mas com os escravizados. Essa questão é fundamental, pois esse exercício metodológico possibilita conhecer as identidades, os interesses, e os projetos de homens e mulheres que, mesmo desterrados do continente africano e submetidos ao trabalho escravo, recompuseram parte de suas vidas, ressignificaram suas existências e estabeleceram laços familiares e comunitários que os humanizaram, mesmo em uma sociedade que lhes viam apenas como mão de obra escrava.
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Identifier:58757Type:Type of Bibliographical Reference:Reference title:Escravos da Religião: Família e Comunidade na Fazenda São Bento de Iguassú (Recôncavo do Rio de Janeiro, Século XIX)Author(s):MONTEIRO, Vitor HugoNotes about this reference:
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MONTEIRO, Vitor Hugo. Escravos da Religião: Família e Comunidade na Fazenda São Bento de Iguassú (Recôncavo do Rio de Janeiro, Século XIX). Curitiba: Appris, 2021.