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Franciscan

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    Identifier:
    11517
    Name:
    Fr. Leão Stoffels, OFM (Franciscus Cornelius Stoffels)
    Sex:
    Date of birth:
    19/02/1872
    Date of death:
    21/09/1954
    Place of birth: Meerlo, NL
    Place of death: Divinópolis, MG
    Ecclesiastical state:
    Biographical Notes:

    IN MEMORIAM

     

    "Morreu aquele Irmão velhinho que sempre rezava no Santuário atrás do arco Assim era conhecido lá fora o nosso Frei Leão. No convento de Divinópolis, onde passou os últimos oito anos, o víamos todos os dias, a horas certas, fazer a sua viagem para o Santuário, devagarzinho, pé ante pé, encetando com dez minutos de antecedência a caminhada de uns cinqüenta metros para chegar na hora ao seu sempre respeitado cantinho no presbitério, escondido ao povo, atrás do grande arco, mas afinal, aos muitos que subiam o presbitério ou iam à sacristia não podia passar despercebida a veneranda figura do Irmão recolhido em oração. E isto era de manhã, na Missa das 7 horas, depois, às 11 para uma longa adoração, e igualmente pelas 3 horas. Depois do jantar, no escuro, não se arriscava mais a sair, pois o mínimo sereno lhe fazia mal.

    Nos exercícios da comunidade que se realizavam à rez do chão estava invariavelmente presente, e até antes dos outros, para não ser atropelado no meio da multidão. Quanto apreciava a visita dos confrades que após o jantar vinham dar um dedo de prosa! Então se podia admirar o seu conhecimento de pessoas e coisas, sua memória que com facilidade evocava ao vivo situações e pessoas dos primeiros decênios do Comissariado. Lembremo-nos de que Frei Leão, o sênior da nossa Província, chegara ao Brasil em princípios de 1906. Em outras horas do dia, porém, quando íamos bater à sua porta, era encontrado com o crucifixo nas mãos a meditar sua Via-Sacra, ou com um livro piedoso, ou com a coroa do rosário; também lia revistas e jornais e ocupava-se com selos, mas no último ano cada vez menos.

    A sua grande devoção era mesmo o Santíssimo Sacramento, diante do qual fica- va todos os dias largos espaços de tempo em adoração e meditação. Por sua fé viva e simples, descortinava, sentia a realidade de Cristo na S. Eucaristia e com Ele se entretinha longamente com grande facilidade. Seu livro predileto de meditação eram três volumes de considerações sobre o SS. Sacramento, coligidas de sermões, conferências e apontamentos do Ven. P. Juliao Eymard.

    Também tinha uma terna devoção a Nossa Senhora, de que deu várias mostras. A um confrade que nos últimos dias o ajudava em sua extrema fraqueza lendo também após a S. Comunhão algumas orações em ação de graças, observou no fim: "Sabe duma coisa que eu ainda sempre fazia, e que não devíamos deixar? É rezar o Magnificat; pois ao S. Coração de Jesus deve causar grande satisfação a gente se lembrar depois da Comunhão também de sua Mãe Santíssima

    Sozinho quis levar a pesada cruz de sua velhice, sem queixas e reclamações, sem exigências e mesmo sem fazer valer a sua idade e experiência. Sereno, imperturbável e sempre satisfeito seguia devagarzinho adiante. Admiravam-se os confrades de que Frei Leão, com sua idade e com seus achaques, sempre evitou dar trabalho e ser de incômodo aos outros.

    Sentindo-se cada vez mais fraco, pediu no dia 31 de julho a Extrema-Unção. Pediu no mesmo dia que um dos padres passasse as noites no seu quarto: ânsias e falta de ar lhe faziam as noites longas e penosas, e a cada momento esperava o fim. Pedia a S. Comunhão nas primeiras horas do dia, a qual sempre recebia com grande fervor, trazendo-lhe verdadeiro alívio. Houve ocasiões para um "religiose colloquamur" em altas horas da noite ou às primeiras horas da madrugada, quando Frei Leão, todo ofegante, se levantava para sentar-se uns dez minutos na sua cadeira. Passados os momentos piores ele começava a contar... Contava como recebera uma educação muito severa, que em seus tempos de menino apanhou bastante, porque era muito maroto... Em casa rezavam todos os dias o terço em comum; às vezes, durante o terço, ele brincava com o gato, mas quando o pai o percebia, ralhava energicamente. Antes de entrar no convento trabalhava na lavoura. Seus pais eram de poucos recursos. Cada dia de novo iam ao campo com a enxada às costas, ganhando o pão de cada dia com trabalho pesado. Quando entrou na Ordem como Irmão, contava quase 25 anos. Apresentando-se em Maastricht, foi-lhe indicado entrar em Alverna-Wychen. Etc., etc. - E o interlocutor devia cuidar de também não perguntar demais, pois uma noite após um tal colóquio Frei Leão levantou o dedo num gesto significativo dizendo: "Ah! eu já sei por que o Senhor me está fazendo essas perguntas... é para publicar depois de minha morte..." Não era propriamente para isso, mas a idéia foi boa. Ainda outra coisa disse Frei Leão numa dessas ocasiões, que muito o recomenda: "Sempre rezei muito pelos padres, por causa dos perigos em que se encontram

    E os dias e as noites iam-se arrastando. Frei Leão, cada vez mais enfraquecido, devia por fim continuamente ficar de cama. Achava que Nosso Senhor estava demorando em vir buscá-lo, mas sempre repetia: "Seja feita à vontade de Deus", Recuperando-se de mais uma dessas crises do coração teve estas palavras: "E apesar de tudo eu sou um homem imensamente feliz. Oh! Como Deus é bom para conosco!"

    Nos últimos quinze dias os confrades, revezando-se, lhe fizeram companhia dia e noite, e ele lhes agradecia de todo o coração os cuidados. Os últimos dias lhe foram pesadíssimos. Acometido de desinteria, sentia-se cada vez mais exausto e enfraquecido. Por fim todo o corpo estava dorido, sem ter forças para mais nada, e tudo em lucidez de espírito até o fim. Frei Leão atravessou uma prova que Nosso Senhor certamente só reserva aos mais fortes. No meio de tanta miséria, sofrimento, fraqueza, o valoroso Irmão não murmurou, mas ao contrário, conservou heroicamente a paciência e muitas vezes até mostrou bom humor. Se aí não houvesse uma virtude robusta, adquirida em tempos melhores, teria sido para abater a gente. Frei Leão permitirá, para nossa admoestação, deixar aqui consignado o peso, o cansaço e o tédio que no fim tudo lhe causava. Então eram lembrados os pobres pecadores, que adiam sua conversão para o fim, para tais horas... infelizes! Referiu-se também uma vez aos que lhe pediam suas orações: "Eles me pedem orações e dizem: Agora o Senhor tem muito tempo para rezar, não pode mesmo fazer outra coisa senão isso. - Coitados eles não sabem o que é estar doente e ruim como eu, não têm experiência... "

    Depois de outra noite penosíssima, em que o velavam dois confrades (também o Padre Guardião), veio Frei Leão a falecer calmamente, pelas 5 horas da manhã de 21 de setembro. E foi assim mesmo como alguns predisseram: "Ele ainda nos vai deixar sem avisar a gente, sem ninguém perceber Tão calma foi a sua partida deste mundo que não se percebeu o momento justo de seu desenlace. Mas estava preparado para dar o grande passo: poucas horas antes ainda recebera com toda a lucidez e devoção o Pão dos Fortes na S. Comunhão: "Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia" (Jo. 6,55).

    Às 10 horas o Padre Guardião celebrou Missa solene de corpo presente no Santuário, cantada pelos clérigos. Na hora o cadáver foi levado para aí da sala paroquial do convento, transformada desde as 6 horas em câmara ardente. Pelo alto-falante da torre se havia espalhado a notícia, de modo que muita gente assistiu à Missa. Às 16,15 cantaram-se no Santuário Matinas e Laudes de defuntos, com toda a solenidade. Também vieram assistir confrades de Pará de Minas, o R. P. Def. Frei Concórdio, os R R. Padres Pacômio e Frei Canísio. A igreja estava cheia de fiéis. Logo em seguida houve lugar o enterro no cemitério do convento.

    Frei Leão (Franciscus Cornelius) Stoffels nasceu em Meerlo, na Holanda, a 19 de fevereiro de 1872; ingressou na vida religiosa a 1º de fevereiro de1897; fez profissão na 1ª Ordem a 1º de fevereiro de 1903, chegou ao Brasil a 4 de março de 1906. No Brasil trabalhou sucessivamente nos lugares seguintes: em Ouro Preto, de março de 1906 até junho de 1908; em Niterói, até fevereiro de 1909; em s. João de Rei, até abril de 1915; em Belo-Horizonte, até abril de1916; em Ouro-Preto, novamente, até abril de 1918; em Cascadura, até junho de 1923; em Pirapora, até outubro de 1935 - onde organizou uma pequena tipografia sob a direção de Frei Brás, e editou o boletim paroquial "S. Francisco"; em Divinópolis, de 1935 até março de 1938, dirigindo a tipografia, que de Pirapora fora transladada para Divinópolis; em Pirapora, novamente, até agosto de 1946, quando retornou à sua última residência, Divinópolis.

    Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1954, p. 136 a 138.

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SATLER, Fabiano Aguilar. Fr. Leão Stoffels, OFM (Franciscus Cornelius Stoffels). International Network of Franciscan Studies in Brazil. Available in: https://riefbr.net.br/en/content/fr-leao-stoffels-ofm-franciscus-cornelius-stoffels. Accessed on: 21/04/2025.