Frei Olímpio Reichert, então vigário em Três Passos, pensou logo em fundar ali um pré-seminário, já que em Taquari e Agudo, tinham muitos alunos daquela região.
Frei Ivo Kuhn, em artigo na Revista Santa Cruz do início de 1961, escreve um pouco da pré-história da casa:
O nosso pré-seminário por ora será de madeira, 7 por 17 metros, com dois pisos. Até o fim do mês, se Deus quiser, estará pronta a construção. Será mais um campo de lutas, mas esperamos que, no futuro, teremos muitos franciscanos desta região.
Em 1962, uma das resoluções do Capítulo Provincial foi a de abrir, ainda este ano, o pré-seminário de Três Passos.
Frei Agostinho Grings nos conta um pouco mais da história de São Pascoal:
O Seminário de Três Passos (R.G.S.)
Em boa hora foi fundado o seminário São Pascoal em Três Passos. Era pequeno, de madeira, situado num buraco: tudo pode ser, mas o começo foi feito, e na hora H! Se não houvesse iniciado naquele ano, e mesmo naquela modesta condição, agora dificilmente teríamos este belo seminário novo, já apresentável, levantado em outro lado da cidade, num terreno mais alto, mais plano, mais perto da cidade, com água boa e abundante. Aí inaugurou-se no dia 21 de fevereiro deste ano, com grande festa e alegria, o novo seminário São Pascoal, construído graças à generosidade e ao sacrifício dos católicos alemães (movimento do Adveniat): um edifício de linhas sóbrias, modernas, projeto de Frei Ildefonso (Wouters), executado com acréscimos pelo padre construtor Frei Levino (Pothof). Mas repetimos: esse esplêndido resultado não teríamos hoje, se mãos previdentes não houvessem lançado na hora justa a pequenina semente naquele buraco.
Após longa espera, veio do Sr. Bispo de Santa Maria - cuja diocese ainda por uns meses abrangia o Alto Uruguai - a licença de fundar o seminário, e isso num centro como Três Passos, uma das maiores e mais prósperas cidades da serra, a capital do progresso, como ali gostam de gabar-se. E quanto às vocações, que aperto foi cada ano pela volta das férias: saía um ônibus especial de Três Passos e um de Alegria, que em Ijuí dividiam os alunos entre Agudo e Taquari, e cada qual mais lotado, superlotado. Também não é sem razão que na região da Serra já se fundou algum seminário, antes e depois do nosso: Santo Ângelo, Cerro Largo, Crissiumal, Braga, Santo Cristo, Frederico Westphalen. Além de tudo mais, para a construção de um seminário não havia tempo a perder. Entre as primeiras obrigações de um bispo de diocese nova está a de fundar o seu seminário. Quem é que nos ia garantir que o futuro bispo de Frederico Westphalen não fizesse dificuldades a tão preciosa licença dada por Dom Luís Sartori?
Portanto, mãos à obra!
Frei Olímpio Reichert, então vigário de Três Passos, lançou com um ardor febril todas as suas forças na imediata construção de um prédio que provisoriamente servisse de seminário, prédio de madeira mesmo, que ainda é o material de grande parte das casas no Sul, também em cidades. O terreno já estava adquirido pela Província por uma ninharia.
Desejamos aqui pôr em evidência o interesse, digamos, o amor que nosso falecido confrade mostrou à província, seu progresso, seu futuro. O seminário se-lhe tornou uma obsessão. Com o construtor Zeno Junges foi marcado o lugar preciso da construção, suas dimensões, as divisões internas: uma casa de dois pavimentos, 17 metros de comprimento, por sete de largura. E então Frei Olímpio se virou: foi à procura do material, ganhou muitos toros (toras de madeira) dos colonos, e ajudou pessoalmente no transporte até a serraria vizinha do seminário, conseguiu recursos das capelas para comprar outro material e pagar mão de obra. Muitos podem testemunhar do zelo impetuoso com que Frei Olímpio se empenhou nessa obra. Escreveu ao mesmo tempo para todas as nossas casas do Rio Grande, pedindo o auxílio com que pudessem contribuir.
É certo que as labutas e fadigas por que Frei Olímpio passou nesse empreendimento, realizado nos primeiros meses de 1961, tiveram partes na ruína de sua saúde. Em outubro de 1961 foi transferido por motivo de saúde para Porto Alegre, onde veio a falecer em 1º de outubro do ano seguinte. Frei Olímpio Reichert, pioneiro infatigável de umas quantas fundações no Estado do Rio Grande, acabou também sendo, dentre os padres gaúchos, o pioneiro na Jerusalém celeste, e ali, afinal, o descanso lhe será obrigatório.
O Capítulo Provincial, aquele que de dezembro de 1961 foi transferido para janeiro de 1962, destacou Frei Agostinho (Grings) e Frei Edmundo (Hammes) para o pré-seminário de Três Passos, que deveria ser posto a funcionar nesse mesmo ano de 1962. A notícia certa foi recebida no dia 28 de janeiro, e a 7 de março começariam as aulas no ginásio e escola normal Espírito Santo (ramo feminino da S.V.D.), onde os nossos alunos iriam em aula. O tempo era breve e ainda havia um pouco por fazer: uma pequena mudança das divisões internas, a caiação do interior, a pintura do exterior a óleo queimado, de verde; colocar caixa d'água no sótão, fazer o encanamento pela casa; prover de altar e bancos a capela; móveis para a sala de estudo, refeitório, cozinha; camas para dormitório e quartos; um fogão, utensílios, talheres. Alguma coisa já havia, mas não o suficiente. O trabalho mais demorado foi a mudança da casa branca, a residência do antigo morador, da frente para o lado do seminário, servindo de cozinha e refeitório.
Todo esse trabalho, enumerado assim, parece cada qual exigir bastante atenção, cálculos, cuidados; mas foi possível e fácil de realizar no pouco tempo de que se dispunha, graças à poderosa ajuda do novo vigário de Três Passos, Frei Ivo (Kuhn), e seu coadjutor, Frei Donato (Sehn). Esta circunstância, da paróquia e dos confrades, e ainda de bons amigos na cidade, foi muitíssimo feliz para o seminário São Pascoal - Sim! também esse nome, esse padroeiro dado ao seminário foi idéia feliz já adiantada por Frei Olímpio e aprovada em Definitório. Este santo, que entre nosso povo ainda não goza a popularidade de um Santo Antônio, mostrou-se protetor valioso, tanto no princípio da obra lá em baixo, como na construção do prédio definitivo no alto. Que o diga Frei Levino! E não se julgue uma incoerência dar o nome de um santo irmão a uma casa de formação para padres. Pois não é que o Papa mesmo declarou São Pascoal o padroeiro dos congressos eucarísticos? E feita está a ligação mais natural: padre - Eucaristia. Quando algum dia sair a custódia do Sul, haverá votos para que seu titular seja o santo irmão franciscano São Pascoal.
Mas todo aquele trabalho, para que? Para que seminário? Quais serão os primeiros seminaristas? Onde encontrá-los? - Já é outro capítulo.
Para terminar, hoje, só deixamos ainda consignado que no dia 7 de março de 1962, festa de Santo Tomás de Aquino, Doutor da Igreja, foi celebrada na capelinha do seminário a primeira santa Missa, pelo próprio M.R.P. Provincial, Frei Jerônimo. A assistência compunha-se de dois frades, uma cozinheira e cerca de sete alunos (outros oito viriam à tarde e nos primeiros dias). Com isso estava solenemente inaugurado o galpão seráfico de Três Passos (mais respeito), aliás, a Faculdade Eclesiástica de Rivo Torto.
Enquanto se trabalhava no acabamento do Seminário - fevereiro de 1962 - nasceu uma pequena preocupação: para que, ou para quem esta casa? quais seriam os primeiros seminaristas?
Havia uma lista de Frei Olímpio, com o nome de cinco candidatos. Procurando entrar quanto antes em contato com eles, descobriu-se que era uma lista de coroinhas da matriz, acrescida de um sobrinho seu. Foram, em momento oportuno, atacados individualmente:
- Que é que você quer ser mais tarde?
- Não sei; ainda não pensei muito nisso.
- Nunca pensou em ser mais tarde alguma coisa especial e importante na vida? Ou vai ajudar seu pai?
- É... podia ser isso mesmo.
Com estranheza do interpelante não se arrancava nenhuma indicação de ocultar-se aí um futuro confrade nosso. Para certificar-se inteiramente, o recrutador armou-se de coragem e fez por fim a pergunta direta:
- Mas você nunca pensou em estudar para padre?
- Ah! Não! Isto não!
Era de apreciar a franqueza das respostas de um dos constantes na lista, mas com isso não se ia encher o seminário: só um deles deu positivo, aquele seu sobrinho.
Existia também uma lista de cinco candidatos da imensa paróquia de Tenente Portela, em ano anterior visitada por Frei Gervásio (Muttoni), mas que ainda eram muito novos para o seminário de Agudo. Foi necessário fazer uma visita àquelas famílias. Resultado: um dos cinco veio; os outros, ou não queriam mais, ou já iam para o seminário de Carazinho, dos Padres Servos da Caridade (onde quem pode pagar, paga; quem não pode, não precisa = ninguém pode).
Outra viagem se fez à paróquia vizinha de Crissiumal, onde havia suspeita de três candidatos: um só pôde ser aceito.
De tanto falar sobre seminário com pessoas que a toda hora do dia vinham à casa paroquial, ou nas serrarias, nas marcenarias, nas lojas de ferragens e tintas, ou nas visitas às famílias ou nas rodas de chimarrão: afinal o povo ficou sabendo que em Três Passos se estava tramando a abertura de um seminário, ainda que não fosse claro para que servia isso.
Os pedidos de matrícula já lá vinham: Ah! Senhor padre, que bom que os Senhores abriram um colégio aqui; estava precisando mesmo; nossa juventude assim ia perder-se. Tenho dois meninos que quero entregar aos padres.
Também fomos honrados com propostas como esta: Senhor padre, tenho em casa um menino com quem já experimentei de tudo, mas não tem jeito, não quer mesmo trabalhar na roça. Então pensei de por o menino no colégio dos Senhores...
De volta de nossa viagem a Tenente Portela, vem uma juvenista das Irmãs de Três Passos com uma grande revelação: Tenho em Tenente Portela um irmãozinho que às vezes dizia que queria estudar para padre; se ele souber que aqui tem seminário, garanto que vai aceitar de entrar aqui.
Mais uma descoberta: Os Senhores tem seminário? Sei que um filho do meu vizinho, lá em Vista Gaúcha, estava falando em querer estudar para padre.
Nova esperança raiou na visita a certa família no interior de Três Passos, onde Frei Edmundo foi buscar uma peça de couro. Ao despedir-se, o pai fez a sua tentativa:
- Este menino aqui é muito esperto, só que trabalhar não é com ele, mas estudar, sim, é só disso que ele fala. Quero pô-lo no colégio dos Senhores.
- Ah! Muito bem. E quanto tempo já anda com a idéia de querer estudar para padre?
O menino abriu uns olhos; o pai puxou a cadeira que lhe estava mais à mão, tossiu e ficou esperando que saída seu menino muito esperto ia dar nesta situação embaraçosa; até que a mãe lá atrás esclareceu:
- O que ele mais quer, é estudar para pastor!...
Falando em protestante, há recordação de um outro aluno, ao qual demos abrigo, sustento e formação durante um ano, para no outro ser internado pelo pai, cinicamente, no ginásio protestante de Três Passos. Também essa contribuição o seminário já deu.
Recebendo contingentes das nossas paróquias, Três Passos, Tiradentes, São José do Inhacorá, e ainda das paróquias de Tenente Portela e Crissiumal, a matrícula do seminário São Pascoal naquele primeiro ano, de 1962, sempre chegou ao número de catorze.
Pela urgência do tempo, para tornar o edifício habitável dentro de um mês, não foi possível fazer muito trabalho de recrutamento. Depois das informações possíveis, ainda que deficientes, tivemos que arriscar-nos a aceitar vários alunos sem chegarmos, antes, a conhecer a família, o ambiente, sem podermos conversar com vigários, pais, professores ou professoras. Os confrades também compreenderam que, se não foi possível arregimentar para aquele primeiro ano uma grande multidão de eleitos, o importante era começar, começar de qualquer jeito, não deixando escapar a oportunidade única que o Senhor Bispo de Santa Maria nos ofereceu, de podermos fundar seminário em Três Passos. Sempre foi executada a Resolução do Capítulo Provincial de janeiro de 1962 (cfr. S. Cruz, 1962, nº. 1, pág. 14). O começo foi feito! Ainda que não vá ser considerável o número dos que, daquele primeiro ano, chegarão ao sacerdócio.
As férias de julho e as do fim do ano, essas sim, foram inteiramente aproveitadas para o apostolado vocacional em forma de ajuda aos vigários da redondeza, visitando, a pedido deles mesmos, as suas capelas - Missa, pregação, catecismo, confissões, comunhões, batizados - e o resto do tempo era avidamente empregado em visitar famílias de presentes e futuros candidatos. Daí em diante, pudemos alegrar-nos com uma turma já mais selecionada, mais unida, mais religiosa, mais nossa. E para 1963 Frei Vito (Mallmann), em suas viagens e conferências com projeções sobre a Terra Santa, ainda nos descobriu um rico celeiro de vocações na paróquia de Campina, especialmente na capela de Cândido Godói.
Em anos seguintes pudemos obter alunos de mais outras paróquias, além das mencionadas acima: Alegria, Três de Maio, São Martinho, Boa Vista, Campo Novo, Humaitá, Porto Lucena, Santo Cristo, Marau. E o que se está vendo, é que a própria paróquia de Três Passos, agora mais conhecida e mais trabalhada, vem apontando um número sempre crescente de vocações, não da cidade, mas das capelas do interior.
Três Passos já foi terra de bandidos; agora é terra de promissão?
Frei Agostinho Grings.
Em fins de 1964, por ocasião do Capítulo, o M.R.P. Visitador Frei Onésimo Dreyer, em sua exposição, ressalva que um só sacerdote em Três Passos não vai dar conta do recado. O Novo Governo Provincial logo cuidou de corrigir esta falha. Com a saída de Frei Agostinho, para atuar em Daltro Filho, foram nomeados dois frades para seu lugar: Frei Donato Sehn e Frei Martinho Warken.
Estes frades continuaram os trabalhos em São Pascoal Bailão até a entrega do pré-seminário aos cuidados da Custódia São Francisco de Assis, em março de 1966.
Fonte: Revista Santa Cruz
1960 - pág. 80
1961 - pág. 129
1962 - pág. 14
1964 - págs. 273, 286, 292
1965 - págs. 81 a 83 e 157 a 159.