Frei Vigílio de Breguzzo (Félix Bonazza) nasceu aos 19 de novembro de 1862. Era filho de André Bonazza e de Maria Tês. Vestiu o santo hábito a 15 de outubro de 1880; fez a primeira profissão a 16 de outubro de 1881 e a profissão solene aos 21 de outubro de 1884. Ordenado sacerdote aos 11 de julho de 1886.
Destinado ao Brasil, Frei Virgílio chegava a Santos aos 26 de agosto de 1891 e a Piracicaba aos 27 de agosto. Foi, pois, um dos primeiros missionários em nossas terras. Não teve muito descanso de viagem, pois já em 1891 atendia Capivari, os sítios ou fazendas de Augusto Jeremias Ferraz, de Luís Gonzaga, de José Ribeiro Almeida Leite, de Teodoro e Maneco Ferraz.. Em 1892 seu Diário já registra Monte Alegre, Faz. Doutor Moraes, Água Branca, Limoeiro, Xarqueada e Xarqueadinha, Faz. de Conrado Hebling, Serra Negra, Francisco Alves, Sr. Olímpio, Tietê... Posterionaente, Lagoa Nova, de Limeira, Rio Claro, Leme, Porto Ferreira, Saltinho, Sete Quedas, Juca Ribeiro, Joãozinho Penteado, Campestre, Paredão Vermelho... e muitíssimos outros locais, iniciando todo um desfile de nomes que são uma constante em seu Diário de Missas.
Ao mesmo tempo que percorria tantas localidades, Frei Virgílio mudava também de convento. Até setembro de 1897 está em Piracicaba; depois, vai para o Largo São Francisco. De 1901 a 1903, novamente Piracicaba. De 1903 a agosto de 1907, está em Taubaté. De 1911 a 1913 foi guardião em Taubaté. No período de 1908 a 1919 residiu nessa cidade, em Botucatu, Piracicaba e São Paulo. De janeiro de 1920 até janeiro de 1921, reside no Convento do Morro do Castelo, no Rio de Janeiro, em auxílio aos religiosos daquele local, que estavam doentes. Passa, em seguida, ao Colégio dos Jesuítas de Nova Friburgo, sendo operado da úlcera e lá tratado com “caridade acrisolada” por aqueles religiosos. De 1923 a 1933 está em São Manoel, depois Botucatu, Piracicaba; esta última parece sempre ser o centro de suas andanças. De 1933 a 1942, Piracicaba; de 1948 em diante, Taubaté.
Homem de profunda fé, de oração e grande zelo apostólico, Frei Virgílio estava sempre em atividade. Era bom pregador, de estilo catequético e linguajar fácil. Voz clara, bonita, compassada e penetrante. Durante a pregação gostava de interpelar alguém. Assim, certa vez, dizia: “As crianças sabem o Catecismo mais que os adultos”... e perguntou a uma menina: “Menina, Jesus está vivo ou morto na Santa Comunhão?” – “Morto”– respondeu ela. “Oh, Mamma mia, nem ela sabe o Catecismo”, concluiu decepcionado.
Quando, de 24 de março a 7 de junho de 1915 atendeu Caxambu de Minas e lá pregava o mês de maio, Rui Barbosa fazia questão de ir todos os dias ouvi-lo. E comentava com seus amigos que ouvia com prazer a palavra simples e persuasiva do missionário e que todos deviam pregar como ele...
Era incansável em suas excursões missionárias. Conforme registra seu Necrológio, percorreu todas as nossas roças, viajou, andou por diversos Estados pregando missões e auxiliando vigários no pastoreio das almas. (A. F. julho, 1949, p. 2l5).
De fato, seu Diário de Missas é um tecido contínuo das mais variadas cidades e dos mais distantes lugares que percorre às vezes num só e mesmo mês. Podemos denominá-lo “missionário ambulante”: um tempo em convento e outro tempo em peregrinações. Não permanecia por muito tempo no convento, preferindo suas missões. Quando podia, estava em ação e dizia: “Mamma mia, até que enfim me deixam sair”!!
Onde, em nosso Estado, Frei Virgílio não pregou? Também no Estado de Minas, especialmente na diocese de Campanha permanecia quase sempre por dois meses pregando.
Estes poucos dados de seu Diário nos dão uma idéia de suas atividades: De 1º de maio a 8 de junho de 1908 está em Fartura e Piraju. De 3 de maio a 5 de junho de 1911, Dois Córregos. De 24 de março a 7 de junho de 1915, Caxambu (MG); de 30 de março a 30 de abril 1917, Rifaina, Pedregulho, Cristais, Bela Vista (dioc. Ribeirão Preto). De 13 de julho a 13 de outubro de 1919, na diocese de Campanha (que visitava todos os anos)...
De 19 de junho a dezembro de 1928, com breves intervalos de recolhimento conventual (agosto), percorreu 12 capelas em Itapira, Mombuca, Rio das Pedras e outros locais. De janeiro a setembro de l934, percorre os bairros e capelas de Penápolis. De junho a outubro de 1932 está em São Gonçalo, Minas Gerais, depois de ter passado por Campanha, de fevereiro a abril...
Onde morasse, permanecia vários dias em capelas rurais, pregando e atendendo o povo. Aliás, todos os frades preocupavam-se muito com a pregação, não se reduzindo, como os demais, a simples atendimentos de batizados e de casamentos (costume de antigamente).
Alto, franzino, Frei Virgílio se preocupava com a alimentação. Um detalhe marcante são as muitas quedas que sofreu, a tal ponto de os íntimos o chamarem de “Frei Vigílio das Sete Quedas”. Seu Diário as registrava... Assim, já em 1º de julho de 1907 aludia a 1º aniversário da queda do carro, com o SSmo. Sacramento. Pregando em Porangaba, de 11 a 30 de julho de 1926, registra o “grande tombo” do dia 30. Tais acidentes o levaram a usar bengala.
Embora não dado a gargalhadas, Frei Virgílio tinha sempre um alegre sorriso, como também suas “saídas”: tendo recebido um apreciado doce caseiro de “Minas”, agradeceu à benfeitora dizendo: “o doce estava tão gostoso que até os anjos olhavam com inveja quando o comíamos” ...Sem segundas intenções... é claro!!
Dele foi escrito:
“Na predicação, era o protótipo do frade afeito ao múnus apostólico. Conhecia o caminho que, sem prejuízo do raciocínio, conduz diretamente ao sentimento. A unção de que se imantava o seu verbo missionário era tão natural, tão espontânea, que, para logo, envolvendo, atraía, e, convencendo se impunha; suas palavras, pausadas, claras e mansas, eram a chave sonora que, penetrando e compenetrando os ouvintes, lhes abria de par em par as comportas do coração!
“Integrava simultaneamente as três manifestações da santa simplicidade: a de atitudes, a de espírito e a de coração. Tinha, por isso, presente o ‘Sermão da Montanha’ e nele, sempre novo mandamento que condicionava a Bem-aventurança: ‘Se não vos tomardes semelhantes às crianças, não entrareis no reino dos Céus’... O seu conselho, sempre apostolicamente persuasivo, demovia os trânsfugas e reanimava os opressos...(...)
“Durante o desenvolvimento de sua tenaz peregrinação, jamais se quedou abatido ante a prova, ou vacilante ante o difícil. Ao contrário, em todas as vicissitudes, principalmente as físicas que o estigmatizaram corporeamente, revelou-se ainda mais animoso e muito mais feliz!
“Estruturada no “dom inefável” que é a vocação segundo o coração de Deus, a sua fibra apostólica nunca se poderia alterar com os traumatismos dos acidentes, nem jamais se ressentir com os esclerosismos da idade... À semelhança dos arautos da primitiva catequese, seu dinamismo e técnica polifórmica, correspondiam ao próprio nome do religioso com que fora admitido na Ordem Capuchinha, pois era, por Deus, um “Vigilio” do amor de Deus, e ao mesmo tempo, para Deus, um “Vigilio” do amor entre os homens...
“Poucos Apóstolos o excederiam em compenetração, raros o ultrapassariam em tenacidade – compenetração e tenacidade de que deu múltiplas provas, consagrando-se durante mais de meio século ao “Bandeirismo” das almas por Nosso Senhor Jesus Cristo... (...)
“Interpelado, há pouco tempo, pelos co-irmãos sobre a possibilidade de recompor particularizando os mais notáveis lances de sua vida como subsídio para a história de sua Ordem se escusava sob a alegação de estar muito esquecido do seu passado e, a propósito, reduzindo-se edificantemente, informava que do muito que o Divino Mestre merecia, apesar dos esforços, não havia feito nada!
“Frade sertanista, como nosso Pai São Francisco, amava a natureza sentindo-a sua irmã enlevava-se pela fauna brasileira tão bem dotada por Nosso Senhor! (...)
“Como o nosso Pai São Francisco usava de palavras para mover, entretanto, mais e melhor soía arrastar pelo exemplo.
“Seu renome firmou-se e pairou no apogeu principalmente quando, sobre a feição prática e oportuna, clara e simples, aberta e franca na arte concionatória, realizou durante o mês de Maio, na concorrida cidade de Caxambú, as “Missões”, em piedoso louvor à gloriosa Rainha das Três Ordens Seráficas! Era um “vigilio” de Maria.
“Nessa “Missão”, conta-se que entre os numerosos convertidos e fiéis assíduos, durante todo o mês, o gênio da América Latina, Rui Barbosa, fora ouvir, edificado, o simples e humilde frade Capuchinho.
Mantinha, assim, em sua plenitude o teor de “Homo Dei”: autêntica luz da verdade para os espíritos e o sal da purificação para as almas. Firme em pensamento, sentimentos e vontade, sua Fé monástica sólida e viva ardia incandescente pelo amor e pelo sacrifício – ‘Deus meus et omnia’.
“Encontrando-se ultimamente na clausura do Convento Santa Clara da cidade de Taubaté, ali, dotado como era de uma consciência delicada, vígil e pura, depois de, nas ‘vésperas’, por uma rigorosa e geral confissão, se haver preparado para as incertezas da hora extrema, aguardou-a serenamente. Na manhã seguinte, apresentando sintomas de estar próximo o fim... recebeu enternecido, na própria cela, o Santíssimo Corpo Eucarístico do seu amor e, em seguida, a ‘Extrema Unção’ ...”
Essas e outras considerações, embora prolixas e floreadas, do Irmão Henrique M. das Dores encontram-se em “Anais Franciscanos” de 1949, pp. 316-319; 347-350; num estilo hoje ultrapassado, o Irmão Terceiro revela algumas características pessoais de Frei Virgílio.
Atendido fraternalmente por Postulantes, Frei Virgílio faleceu em Taubaté aos 16 de maio de 1949, por volta das 17 horas. Sua última enfermidade deixou-lhe a pele como que esfolada – uma espécie de eczema por todo o corpo; as paredes do quarto ficaram brancas, como atingidas “por uma leve geada”. Não se queixava. Andava de um lado para outro, recitando a Ladainha dos Santos. Uma hora antes de morrer, disse, olhando em volta: “Uma, duas, três... Como são lindas”! E: “Quem é esse jovem tão belo a meu lado?” Silenciou; minutos depois, um profundo suspiro. Foi o fim.
-
Identificador:20742Nombre:Fr. Vigílio de Breguzzo, OFMCapSexo:Fecha de nacimiento:19/11/1862Fecha de entrada:15/10/1880Fecha del fallecimiento:16/05/1949Lugar de nacimiento: Itália, ITLugar del fallecimiento: Taubaté, SPGrupo Religioso: OFMCap – Ordem dos Frades Menores CapuchinhosEstado eclesiástico:Notas Biográficas:
Configuraciones Institucionales relacionadas
cómo citar este contenidoCONFERÊNCIA dos Capuchinhos do Brasil. Fr. Vigílio de Breguzzo, OFMCap. Red Internacional de Estudios Franciscanos en Brasil. Disponible en: http://riefbr.net.br/es/content/fr-vigilio-breguzzo-ofmcap. Accedido en: 19/01/2025.