Frei Modesto de Taubaté (Francisco Miguel Gonçalves de Rezende), filho de Paulino José Gonçalves e de Cecília Maria de Rezende, nasceu aos 3 de outubro de 1884. Foi batiza do no dia 15, pelo Padre Antônio do Nascimento Castro. Crismado a 7 de abril de 1897 por Dom José Pereira da Silva Barros, no palácio episcopal. Primeira comunhão no convento Santa Clara, aos 16 de julho de 1893.
Fez seus estudos ginasiais no Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Taubaté, de 1897 a 1900. Não freqüentou o Colégio Seráfico mais que uma semana. E salientava isso, não sabemos porque...
Vestiu o hábito em Piracicaba aos 13 de junho de 1900, tendo como Mestre Frei Félix de Lavalle, fundador da Missão. Votos solenes na mesma cidade, aos 21 de junho de 1904, perante Frei Bernardino de Lavalle, comissário provincial. Estudos filosóficos em Piracicaba, de 1901 a 1903. Teologia também nessa cidade (1904 e 1905) e em São Paulo (1906 e 1907). Recebeu a Ordem do Diaconato na antiga Sé paulistana a 13 de janeiro de 1907, das mãos de Dom José Marcondes Homem de Mello. Na mesma Sé foi ordenado sacerdote por Dom Duarte Leopoldo e Silva, a 16 de junho de 1907; foram as últimas ordenações na antiga Catedral. Concluiu os estudos no fim do ano de 1907.
No ano seguinte já lecionava Latim, Dogmática, Eloqüência Sagrada para seus colegas clérigos. Em 1909 foi residir em Piracicaba. Já em abril foi residir em Botucatu, para acompanhar o bispo diocesano Dom Lúcio Antunes de Souza em suas visitas pastorais e praticamente inaugurando aquela nova residência dos frades. Depois, residiu em São Paulo por certo tempo. Aos 27 de julho de 1911 está novamente em Botucatu onde exerce ofício de guardião até 1914, e acumulando o ofício de Secretário do Bispado, Consultor diocesano (1911 a 1916), Cura da Catedral (por um ano). Foi também Procurador da Mitra, por dois anos, e Governador do Bispado, por seis meses.
Como superior em Botucatu, deu início à igreja Na. Sra. de Lourdes. Aos 30 de julho de 1914 vai para as Missões às margens do Ribeirão das Marrecas, próximo aos Xavantes e Coroados. De junho a dezembro de 1920 foi visitador na Diocese de Botucatu, sendo oficialmente nomeado para tal cargo em maio de 1923, com honras de Monsenhor. Consultado pelo Núncio Apostólico, fez as demarcações das dioceses de Sorocaba, Cafelândia e Assis e prestou valiosas informações sobre a diocese de Santos (4 de julho de 1924), conhecedor que era dessas regiões pelas suas andanças em visita com Dom Lúcio.
Paroquiou as freguesias de Bofete, Embú (onde construíu casa paroquial), Praínha, Juquiá, Catedral de Botucatu, Vila Rezende de Piracicaba (onde renovou e reanimou a juventude católica e a catequese paroquial em 1919, ao substituir o vigário). Foi cura da Catedral de Lorena( 1915) e vigário geral em Taubaté (1941), cargos que exerceu por nomeação especial.
Muito bem informado sobre a diocese de Botucatu e seus problemas, em junho de 1938 atendeu um emissário do Papa, o Arquiabade de Treves, o qual estava a colher informações sigilosas.
Foi redator da Revista “Anais Franciscanos” (1915-1916; -1930-1931) e diretor do Externato de Piracicaba (1924-1926). Como delegado provincial da O.F.S. visitou as fraternidades de Taubaté, Caçapava, Itapetininga, Avaré, Botucatu, Barretos, Araraquara, Atibaia, Jundiaí, Franca, Palmeiras, Campinas.
Com Dom Lúcio e comitiva, visitou a extensíssima diocese de Botucatu por várias vezes; visitou-a também sozinho, em nome do bispo, ressaltando-se que Botucatu abrangia, de início, também a atual diocese de Santos, além das atuais dioceses de Lins, Assis, Bauru, e outras. Frei Modesto registra uma intensa e extensa visita feita com Dom Lúcio, de 24 de abril de 1909 a lº de maio de 1910. De trem, a cavalo ou em troles visitaram 66 freguesias e paróquias (providas ou não de vigário). Deixou interessante relato das peripécias dessas viagens, descrevendo a situação geral de cada localidade visitada, como também de seus bons ou maus pastores.
Consignamos aqui algumas das Missões pregadas por Frei Modesto e seus companheiros:
Aos 16 de abril de 1921 dá início a grandes missões em Santa Bárbara, Americana, Ressaca, Monte-Mór, Valinhos, Rebouças, Rocinha. Teve como companheiro Frei Liberato de Gries e chegaram a Santa Bárbara após várias horas de trole.
Em 1920 missionara por cerca de 20 dias as capelas e o Centro de Ribeirão Preto, com Frei Afonso de Condino. Em 1922, grandes missões no litoral paulista, com Frei Tiago de Cavêdine. Partem de São Paulo dia 26 de junho, e após uma parada em Santos missionam Juquiá, Xiririca, Porto Cabral, Capinzal, Araquara, Pinduva, Costão do Ribeira, Juréia, Rio Verde, Barra do Icaparra, Iguape. Ao todo, um mês e meio, pregando e atendendo o povo. Quatro mil confissões, 156 casamentos legitimados ou realizados. Somente os dois poderiam contar o quanto sofreram nessas missões, entre doenças e mil privações...
De 24 de julho a 19 de setembro de 1923, com Frei Vito, novamente missiona o litoral, em visita pastoral: Iguape, Eldorado Paulista, Itaúna, Iporanga, Apiaí, Itapeva. Sobre tudo o que realizou prestou minuciosas contas ao Bispo amigo Dom Lúcio, o qual veio a falecer a 19 de outubro desse ano.
Em 1926, Santos tem seu bispo: Dom José M. Parreiras. Sabedor da grande atividade missionária dos capuchinhos pede que Frei Modesto e Frei Lourenço missionem novamente a diocese. Partem para São Vicente aos 24 de abril desse ano, percorrendo São Vicente, Itanhaém, Peruíbe, Itariri, Alecrim, Praínha, Juquiá, Ariri, Cananéia, Iguape, Santo Agostinho, Registro, Sete Barras, Eldorado, até 20 de setembro... Igualmente aqui, somente os dois missionários poderiam relatar os sacrifícios feitos nessa longa peregrinação por terra e mar, a pé, em canoa, em trole... sãos e doentes...
No ano seguinte, 1927, Frei Modesto missiona São João da Boa Vista, Barro Preto, Alfenas, Gimirim, Barra, Paço Fundo, Quatis, Areia, Conceição Aparecida, Lambari, Carvalho, Fama, localidades de Minas e de São Paulo. Isso, de 10 de abril a 27 de junho.
Mas, as visitas pastorais de Frei Modesto não se reduzem a São Paulo. Visitou toda a diocese de Guaxupé, por vezes acompanhando o bispo, ou em nome dele. Nove bispos tiveram o auxílio de Frei Modesto em suas visitas.
Era apreciado pregador, catequista, músico, poeta, historiador. Compôs mais de 50 peças musicais a uma, duas ou três vozes. Escreveu livros de piedade. Amou a Ordem. Contou-lhe as glórias de quatro séculos, escrevendo, de parceria com Frei Fidélis, OS MISSIONÁRIOS CAPUCHINHOS NO BRASIL e CAPUCHINHOS EM TERRA DE SANTA CRUZ. Sobre seu apostolado predileto, escreveu: COMO PREGAREMOS AS MISSÕES (1937) e NA ESCOLA DAS MISSÕES (1955), onde conta as mais interessantes experiências nesse apostolado popular. Colaborou também com artigos em revistas e jornais.
Seu “Diário de Missas” é um contínuo desfile de nomes de cidades em que pregou missões, novenas, tríduos, retiros, para as mais diversas classes de pessoas: religiosos, seminaristas, padres, associações, colégios etc. Apenas para um visual, damos aqui algumas anotações de seu Diário, e nas quais percebemos por quantos locais transitava no mesmo mês:
1928: - Julho: Pouso Alegre, Alfenas, Fama, Conceição Aparecida, Barro Preto, Santa Rita do Sapucaí, Campinas, São Paulo, Caxambu...
Em Setembro: - Passos, Alpinópolis, Carmo do Rio Claro, Conceição Aparecida, Campinas, Itapira, Jacutinga, Esp. Santo Pinhal, Atibaia.
1929: Outubro: - São Paulo, Barretos, Botucatu, Taubaté, Aparecida, Carmo do Rio Claro, Monte Belo, Colônia Mineira (Paraná): três Estados...
1933: Agosto: - Poloni, Colombo, M. Aprazível, Macaúbas, Montedouro, Sebastianópolis, Nhandeara, Castilhos, Araçatuba, Penápolis...
Esses poucos exemplos de cidades percorridas pelo missionário em um mês apenas, nos dão a idéia de seu Diário, todo um tecido de cidades visitadas, percorridas, levando sempre a Palavra Divina... Grande missionário!
Frei Modesto tinha o dom de conversar e relacionar-se com os irmãos protestantes. Nunca os atacou. Com eles fez muitas amizades e com eles gostava de trocar idéias. Conforme Frei Epifânio, que o conheceu bem, Frei Modesto tinha muita facilidade para pregar, voz clara e bonita. Muito comunicativo. Ressentia-se muito quando algo não lhe agradava e o dizia para quem quisesse ouvi-lo. E guardava ressentimento. Era moreno escuro, trigueiro. Tinha uma técnica especial para atrair as pessoas às Missões: ajuntava os meninos, ensinava-lhes cânticos e percorria a cidade cantando e avisando a hora do sermão... Sua missa era rápida, cerca de 20 minutos, pois como dizia, “no altar é para se rezar, não para se dormir”. Seu irmão Frei Ângelo era o oposto, pois sua missa era de 45 minutos, “pois no altar não se deve correr”...
Deixou interessantíssimos escritos sobre suas peregrinações apostólicas, com finas e argutas observações que nos dão uma idéia exata de lugares e pessoas da época. Está registrado em seu necrológio:
“Dono de invejável cultura lingüística, religiosa e humanística, suas pregações e conferências faziam sucesso e deixavam marca nas almas. Não contente de semear a palavra de Deus pela pregação, deixou várias obras escritas, num belo estilo e repletas de sabedoria. Foi professor de numerosas gerações de frades da Província de São Paulo, que ainda o veneravam como o “Padre Mestre”. E das qualidades artísticas de Frei Modesto, nem falemos. Quantas peças de música religiosa deixou espalhadas pelos seus caminhos de missionário, pelas casas religiosas; quantas poesias de puro quilate deixou escritas, espalhadas por aqui e ali. Mas Frei Modesto era muito despretensioso; suas produções não viram publicação e até se perderam, infelizmente”. (REB, setembro 1960, p. 845).
Frei Modesto faleceu repentinamente em São Paulo, aos 11 de julho de 1960, logo após ter rezado a santa Missa da manhã, na casa das Irmãs de Jesus Crucificado. Subia para o quarto quando foi atingido por um ataque fulminante. Na noite anterior o pregador fizera a abertura do retiro anual, considerando que aquele poderia ser o último retiro para qualquer um dos presentes. E o foi, para Frei Modesto.
Outros dados sobre missões de Frei Modesto podem ser consultados em seu Diário (um deles, que sobrou), e no livrinho que escrevemos: “Pastoral Missionária , – 1890-1980”.
(Cf. AOMC. 76, 271; R. V. - julho - 1960, p. 62; REB, setembro 1960, p. 845)
-
Identificador:20726Nombre:Fr. Modesto de Taubaté, OFMCapSexo:Fecha de nacimiento:03/10/1884Fecha de entrada:13/07/1900Fecha del fallecimiento:11/07/1960Lugar del fallecimiento: São Paulo (São Paulo de Piratininga), SPGrupo Religioso: OFMCap – Ordem dos Frades Menores CapuchinhosEstado eclesiástico:Notas Biográficas:
Configuraciones Institucionales relacionadas
cómo citar este contenidoCONFERÊNCIA dos Capuchinhos do Brasil. Fr. Modesto de Taubaté, OFMCap. Red Internacional de Estudios Franciscanos en Brasil. Disponible en: http://riefbr.net.br/es/content/fr-modesto-taubate-ofmcap. Accedido en: 19/01/2025.