À página 177 da Santa Cruz 1939 lê-se a seguinte notícia: por S. Excia. Revma. D. João Becker foi criada em 13 de setembro uma nova paróquia com sede em Vila Progresso (antiga Gramado), desmembrada da paróquia de Bela Vista do Fão. A nova paróquia continua a ser administrada pelos Franciscanos. O primeiro vigário (Frei Florino) tomou posse no dia 8 de outubro. Em 23 de setembro deste ano a paróquia de Vila Progresso completou, portanto, 25 anos de existência. O vigário, Frei Constantino van Rijn, e seus paroquianos já, meses antes, estavam de acordo de que esse jubileu de prata de sua paróquia devia ser celebrado condignamente.
Naqueles dias Frei Constantino estava empenhado em angariar esmolas para a construção da Escola Normal Rural, que será fundada em Vila Progresso. Para esse fim pensava em fazer uma grande festa no dia da Assunção de Nossa Senhora quando, de costume, há maior afluência de povo. Assim se resolveu que no dia 15 de agosto se realizasse uma festa em benefício da escola como também para celebrar o jubileu de prata da paróquia.
Do seminário de Taquari foram convidados, para assistir à festa, os padres Frei Mauro (Brancher) e Frei Clemente (Borelli), ambos filhos da paróquia de Progresso. À tarde de 14 de agosto eles saíram de camioneta acompanhados de sete alunos que são da sede da paróquia; os seis outros, que são das capelas, não foram.
Foi enorme decepção de todos quando, na madrugada do dia da festa, ao levantar-se, ouviram o ruído monótono da chuva que a cântaros caía do céu nublado, e que continuou o dia todo. Essa chuva vai me diminuir a renda da festa ao menos pela metade; não virá vivalma de fora pensou triste o vigário. Contudo, quando às dez horas começou a missa cantada, a matriz estava repleta. Na hora do sermão o vigário fez uma ligeira exposição dos trabalhos materiais e espirituais que, com a copiosa benção de Deus, durante os 25 anos passados puderam ser realizados na paróquia. E glorioso destacou que entre todas as nossas paróquias a de Progresso deu o maior número de religiosos à Província: os padres Freis Celso (Brancher), Mauro (Brancher), Fidelis (Mafficioni), Clemente (Borelli), Luís (Brancher), Arno e o Irmão Terceiro Hilário Battisti, que em fevereiro p.f. espera entrar no noviciado.
Fizeram-se presentes à festa as autoridades municipais de Lajeado, a que Progresso pertence, e um deputado estadual; este na hora do churrasco entregou ao vigário 6 milhões em apólices, prometidos pelo Governador Ildo Meneghetti para a Escola Normal Rural. Esta será dirigida pelas Irmãs da Divina Providência, que desde 1953 estão tomando conta do hospital de Progresso. E não obstante a chuva inclemente, a festa sempre rendeu a quantia apreciável de perto de Cr$ 300.000,00.
A maioria dos leitores de Santa Cruz muito pouco saberá da paróquia de Progresso, perdida lá longe no interior do Rio Grande do Sul. No entanto já desde 1926 os nossos padres estão exercendo um apostolado profícuo naquela região. Por isso não acho fora de propósito dar algumas notícias históricas a respeito dessa paróquia jubilar.
Aos 7 de agosto de 1926 os padres Frei Tiago Scheffers e Frei Floriano Groen fixaram residência em Bela Vista do Fão, para encarregar-se da cura de almas naquele território que, com mais de 20 capelas, fazia parte da extensa paróquia de lajeado. Uma das principais capelas, não muito longe de Vila Fão, era a de Gramado, lugar esse que desde 1938 passou a ser chamado Vila Progresso. Devido à importância da Vila, a capela de Gramado era desde o princípio atendida mais assiduamente. Assim nos primeiros anos, de 1926 em diante, os padres coadjutores de Bela Vista do Fão - os Freis Floriano (Groen), Teodoro (Ouwendijk), Samuel, Sofonias (Balvert) - permaneciam em Gramado desde a tarde de sexta-feira até a tarde de domingo. Mas em janeiro de 1930 Frei Sofonias foi definitivamente encarregado dessa capela e aí morava a maior parte, embora continuasse a pertencer à residência de Fão. Em setembro do mesmo ano Frei Sofonias já foi transferido para Corinto MG e teve como sucessor Frei João (Brouwer), que permaneceu em Gramado até fins de 1931, quando foi nomeado vigário de Vila Sério.
Aos 8 de janeiro de 1932 Frei Hilário Broekhuyse, que em 1930-1931 com Frei Matias (Teunissen) tinha construído o seminário em Taquari, veio estabelecer-se em Gramado, mas sempre como coadjutor de Bela Vista do Fão, ou seja, da paróquia de Lajeado. Morava numa casa de madeira junto à capela, feita do mesmo material, ambas bem toscas. O novo padre de Gramado quis que fosse a sua casa uma verdadeira canônica com própria cozinha. A já idosa avó de Frei Clemente (Borelli) - os padres sempre a chamavam La Nona - aceitou com boa vontade o convite para cuidar da cozinha e casa.
O ano de 1933 foi memorável por três acontecimentos. Em janeiro, quatro professores do seminário de Taquari pregaram missões nas capelas de Boqueirão e de Pedras Brancas e, se não me engano, também em Vila Sério. Creio que foram os primeiros padres de nosso então Comissariado que pregaram missões no Rio Grande do Sul. Foi um modesto princípio do que nos últimos anos se tornou uma das atividades de destaque dos franciscanos no Rio Grande, principalmente desde que os padres da turma de missionários de Porto Alegre pregam missões, tríduos e retiros em todos os recantos do Estado.
Outro acontecimento, mais importante, foi a ereção canônica da paróquia de Nossa Senhora de Lourdes de Bela Vista do Fão, que assim com todas as suas capelas - também a de Gramado - ficou definitivamente desmembrada da paróquia de Lajeado (o Documento tem a data de 13 de setembro de 1933). Já em 3 de abril de 1926 o Padre Edmundo Rambo fora nomeado primeiro vigário da paróquia do Rio Fão e pouco depois oficialmente empossado como tal; igualmente Frei Tiago Scheffers, aos 8 de agosto do mesmo ano, como sucessor do Padre Rambo; mas nunca essa paróquia tinha sido ereta canônicamente, continuando a pertencer à paróquia de Lajeado. Os nossos padres eram portanto até então coadjutores de Lajeado, mas com amplas faculdades para a cura de almas.
Foi um fato menos auspicioso que Frei Hilário (Broekhuyse), em março desse ano de 1933, fôra nomeado primeiro vigário franciscano da paróquia de Taquari, sem ter sucessor em Gramado. Assim não residiu lá um padre próprio desde 25 de março de 1933 até 2 de fevereiro de 1934! O novo vigário de Fão, Frei Feliciano Smitz, ficou então sozinho na extensa paróquia que tinha 29 capelas. Para Gramado essa situação era bastante penosa, visto que justamente nos últimos anos ela era melhor atendida e as outras 9 capelas menores visitadas com maior frequência e regularidade: em 1930 foram distribuídas 5.721 s. comunhões (só em Gramado 4.212) e desde 1930 existia em Gramado a Ordem III. Felizmente Frei Onésimo (Timmermans), vigário da paróquia de Vila Sério, ereta em janeiro de 1930, prometeu ajudar.
Aos 2 de fevereiro de 1934 veio Frei Florino estabelecer-se na canônica de Gramado, que assim tinha de novo seu padre próprio, e que havia de continuar mais de sete anos até abril de 1941. Já em 1920 os Gramadenses reclamaram um padre próprio, como escreveu nesse mesmo ano, o Padre João Ricks em Historiches aus Bela Vista. Agora que Fão era paróquia e Gramado capela da mesma, começaram a pensar em emancipar-se de Fão e construir paróquia própria. Dom João Becker, em 1937, mais ou menos, prometeu: Se os Gramadenses construírem uma nova e boa igreja, Gramado com suas capelas será ereta em paróquia.
O entusiasmo apoderou-se dos Gramadenses e em fins de 1937 começaram os trabalhos de construção da futura matriz. Em maio do ano seguinte, na festa da Padroeira Nossa Senhora Auxiliadora, realizou-se, entre festividades animadas, a bênção da primeira pedra. Todos ajudaram na construção com as suas carroças puxando pedras, areia, etc. A igreja era construída ao redor da antiga capela e em setembro de 1939 ela estava pela maior parte pronta e em condições de funcionar. Aos 13 de setembro foi então criada a nova paróquia e no dia 1º de outubro veio o Padre Leopoldo Loch, vigário forâneo de Lajeado, para fazer a bênção da Igreja e empossar Frei Florino (Verhagen) como primeiro vigário. Agora Gramado, que pouco antes mudara seu nome em Vila Progresso, era paróquia de fato, com 13 capelas: 1. Lagoa Dutra, 2. Forquetinha, 3. Boqueirão (mais tarde também ereta paróquia), 4. Campo Branco, 5. Constantino (São Miguel), 6. São Roque, 7. São Francisco, 8. Tiririca, 9. Selim, 10. Xaxim, 11. Alto Tamanduá, 12. Orlando Novo, 13. Santa Gema.
Já antes da ereção canônica Gramado, com seu padre próprio, era como uma paróquia e as coisas iam bem material e espiritualmente. Durante a gestão de Frei Florino algumas capelas foram reformadas e fundou-se na vila uma Cooperativa de Vinho. É que todos os colonos tinham o seu parreiral, consumindo eles mesmos todo o vinho, pois este não servia para o comércio. Custou convencer os colonos da grande vantagem de uma cooperativa, mas afinal chegou-se a fundá-la. Durante dois anos, na época da vindima, vinham técnicos de Garibaldi para ensinar os colonos como fazer vinho bom e durável, próprio para o comércio. A cooperativa funcionou e continuou funcionando muito bem: vendia-se muito vinho, bebia-se menos.
Em abril de 1941 veio o novo vigário, Frei Constantino (van Rijn), que no dia da Páscoa tomou posse. Com entusiasmo continuou a obra de seus antecessores e deu o último retoque à matriz, pintando-a e mobiliando-a. Em 1946 Frei Remi (Hendriks) construiu a nova canônica. Já nesse ano o vigário começou a procurar uma Congregação de Irmãs que quisesse tomar conta do hospital que se queria fundar na Vila. Em 1949 a paróquia adquiriu um jeep; isto encurtaria muito o tempo que o vigário gastava nas suas viagens às capelas, de sorte que não precisaria mais tantas vezes, por dias inteiros, ausentar-se da sede, podendo assim também atender melhor às necessidades espirituais das futuras Irmãs do hospital quanto à Santa Missa e Comunhão. Essas, as Irmãs da Divina Providência, chegaram afinal em 1953 e até hoje estão tomando conta do hospital Santa Isabel, que foi muito ampliado primeiro em 1956 e depois em 1960. Em 1955 o Jardim de Infância, que pertence à paróquia, abriu as portas à petizada de Progresso.
De 1956 até 1962 Frei Onésimo ajudou na paróquia. Frei Paulo (Stein) também passou lá os últimos anos de sua vida desde 1956 até o falecimento em 1960; pregava todos os domingos na matriz.
Em junho de 1963 Dom Alberto Etges, Bispo de Santa Cruz do Sul, a que agora pertence a paróquia de Progresso, lançou a idéia que a paróquia de Progresso já estava madura para coisas maiores, podendo bem fundar uma Escola Normal Rural. O vigário imediatamente pôs mãos à obra, já adquiriu um amplo terreno e espera poder começar em breve a construção da escola.
Iam bem as coisas da paróquia, espiritual e materialmente. Durante os últimos 25 anos, todas as capelas foram reformadas e metade delas foi construída de alvenaria. Além das suas 13 capelas, o vigário cuida de uma capela da paróquia de Fão e reza a Santa Missa em 6 escolas. Existe na matriz a Ordem Terceira, na matriz e nas capelas a JAC, o Apostolado para homens e senhoras, a Cruzada. Em 1963 foram distribuídas 33.000 santas comunhões e batizadas 350 crianças. A paróquia não só deu até agora 8 religiosos à nossa Província, mas também um padre de Salette e dois Irmãos Maristas; 24 filhas da paróquia entraram em congregações religiosas.
Eis aqui em poucas pinceladas, desenhada, a pujança da paróquia de Progresso. A semente do Divino Semeador caiu em terra boa, fértil em vocações, formando os fiéis tradicionalmente religiosos de costumes patriarcais, uma paróquia com boa vida espiritual. Que continue assim! Vivat, Crescat, Floreat!
Frei Serafim Lunter.
No final de 1964, Frei Constantino ganhou a ajuda de um coadjutor, Frei Renato Kehrwald.
No mês de 1965, Frei Constantino foi transferido e Frei Renato assumiu o lugar de pároco, continuando o bom trabalho nesta paróquia.
Em 1966, a paróquia foi incorporada à Custódia de São Francisco de Assis.
Fonte: RSC 1964 - págs.224 - 227
RSC 1964 - pág. 291.