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Place of presence and action

  • Identifier:
    11972
    Descripcion:
    OFM/PSC Paróquia Franciscana Cristo Rei
    Type of presence:
    Initial date:
    1945
    Final date:
    1966
    Notes about this place of presence/action:
    Artigo escrito por Frei Otávio Reichert, na Revista Santa Cruz de 1959, a pedido do M.R.P. Provincial, Frei Jerônimo Jansen.

    Este artigo, que o caro confrade agora vai ver se lê ou não, foi sugerido pelo M.R.P. Provincial em sua última visita canônica. Sem dúvida, o apostolado, tanto dos padres como dos leigos, nesta paróquia, merecia algo mais do que umas ligeiras notícias na Santa Cruz, pelo muito que de interessante e problemático se apresenta na conservação e difusão da Verdade Católica. Restringimo-nos, porém, de momento ao que aí vai exposto, para no futuro, se Deus quiser, voltar ao assunto.

    Dados Históricos

    A história de Não Me Toque começa no ano de 1897 com os primeiros colonizadores de origem alemã, vindos das Colônias Velhas. O nome pitoresco, é verdade, já constava na prehistória, quando moravam aqui somente alguns gaúchos, estancieiros confinados à zona do campo. A história do nome, sua origem e razão de ser, pode fornecer matéria para mais um artigo; por isto passarei por alto esta questão.

    Desde logo, Não Me Toque, sede da Colônia Alto Jacuí progrediu bastante, mas foi um progresso fictício, construído a base do comércio do pinho, que uma vez vendido ou simplesmente queimado, porque os colonos queriam fazer a sua roça, deixou a terra em petição de miséria. Alguns fizeram assim grandes fortunas, mas grande parte, depois de plantar alguns anos em terras vermelhas, de si não muito resistentes, tiveram que emigrar para em outra parte continuar a obra vandálica contra as riquezas naturais do país.

    Num livro, conservado na paróquia, de 1909, intitulado Gemeinde Não Me Toque, lê-se a Ata da fundação da Comunidade Católica. Já em 1904 fora construída uma capelinha de madeira, num terreno de fronte à Praça, doado pelos Srs. Schmidt e Cia., mas não havia nem Estatutos para a Capela e Cemitério nem contribuição anual dos sócios. Ora, sem isto uma Gemeinde (que traduzido do alemão quer dizer paróquia ou congregação) não pode existir. Regularizou-se tal situação em 1909 por meio dos Estatutos um das Gemeindewesen besser zu regeln, zu ordnen und zu festigen como diz o velho alfarrábio.

    Contam alguns sobreviventes que os Padres vinham a cavalo de Passo Fundo, duas ou três vezes por ano, fazendo a zona que hoje compreende as paróquias de Carazinho, Não Me Toque, Tapera, Selbach, Espumoso e Colorado. Entre outros, o Padre Valentim Rumpel, de quem todos admiram o zelo apostólico, atendia também os protestantes, que na falta do Pastor, recorriam a ele para batizar-lhes as crianças, etc. Posteriormente continuou esta política de boa vizinhança em forma mitigada, tanto assim que, há dez anos, (assim referem as testemunhas) era comum que a turma dos protestantes viesse assistir as nossas cerimônias e vice versa, principalmente no Natal. Alguns protestantes, lembrando os velhos tempos, contam entusiasmados da amizade entre Pastor e Vigário, chegando o Pastor até a rodar filmes, que eram explicados pelo Vigário. A consequência disto sentimos ainda hoje, pois não raro um que outro católico, sente-se escandalizado porque os padres não aceitam padrinhos protestantes e desde 1951, por preço nenhum, fazem casamentos mistos, quando antigamente era tão fácil.

    A vida paroquial de Não Me Toque, começou no ano de 1914, por decreto de Dom Miguel de Lima Valverde, então Bispo de Santa Maria, criando o Curato da Sagrada Família do Alto Jacuí, cuja sede foi Não Me Toque. O mesmo Sr. Bispo, a 27 de fevereiro de 1919, elevou este Curato a categoria de Paróquia, tendo como Padroeiro principal Cristo Rei. O tempo percorrido desde então é relativamente curto para a vida de uma paróquia, mas o saldo favorável ao Catolicismo é animador. Construiu-se em 1931 a atual igreja Matriz que, em relação ao número de católicos de então, era simplesmente monumental. Hoje, ela se tornou pequena, com três missas aos domingos. A Escola Paroquial, postulado dos Estatutos de 1909, aí está, dirigida por Irmãs, com uma frequência de 250 alunos.

    Desde 1918 trabalham aqui os Franciscanos, primeiro os da Província da Imaculada e desde 1945 os da Província de Santa Cruz. O primeiro Vigário da nossa Província, como é do conhecimento público, foi o Frei Olímpio (Reichert). Este fez explodir os brios católicos, desanimados e apáticos, entregues a verdadeiros complexos, e dinamizou assim a vida da Paróquia. Levantou-se um hospital católico para fazer frente ao hospital Alto Jacuí: caído nas mãos da Maçonaria e do Protestantismo. Surgiu o São Francisco Solano (Ginásio), discutido, mas a despeito de tudo um baluarte de valor inestimável para a Religião. Os católicos, vendo isto, começaram a confiar novamente em si mesmos e crer na vitalidade de sua Igreja. Na gestão do atual vigário (Frei Gustavo Driessen), cumpre ressaltar, em matéria de construção, a Casa Canônica e o Salão Paroquial.

    O sinal dos tempos

    Atualmente Não Me Toque está se preparando para uma nova fase de sua história. O progresso material voltou a acenar, agora, porém, sobre base mais sólida, que é a cultura racionalizada e mecanizada dos campos. Terras depauperadas tornaram a mostrarem-se dadivosas sob a ação dos adubos químicos e orgânicos. As indústrias só esperam por uma oportunidade, que terão em breve com o aumento de energia elétrica. O ensino secundário ficou garantido e completo com a fundação do Ginásio Feminino anexo ao São Francisco Solano, mas funcionando provisoriamente na Escola Paroquial. Por toda parte surgem construções novas e fazem-se loteamentos urbanos. A vida continua num ritmo acelerado de progresso. Mais do que nunca a vigilância dos Pastores faz-se necessária para enfrentar os novos tempos. O nosso objetivo é ainda o mesmo. Combater o indiferentismo. Definir posições. Chamar os católicos a responsabilidade. Enfim criar o verdadeiro espírito católico do sentir-se igreja.

    Dois são os fatores principais porque encaramos com esperança o futuro da paróquia. Um deles é a Juventude Católica, organizada em associações de tipo inteiramente diverso dos padrões tradicionais, sem contudo fugir à finalidade religiosa que deve ser visada em qualquer associação paroquial. O Grêmio Recreativo Minuano é a entidade que congrega a quase totalidade da Juventude Católica de ambos os sexos e tem por finalidade, conforme rezam os Estatutos, promover a educação integral da Juventude no campo religioso, social, artístico-cultural e esportivo. Todas as semanas se reúnem no Salão Paroquial, onde tem a palavra os mais diversos oradores e entre eles sempre também o Padre Assistente. Depois da sessão há jogos e passatempos. O regime desta associação é constituído de uma Diretoria Mista. Para descentralizar porém os trabalhos, foram criados Departamentos ou Secretarias Auxiliares autônomas, cada qual com sua finalidade. Assim a Secretaria dos Esportes promove jogos e competições de toda espécie. A Secretaria Social tem a seu cargo a vida social, como passeios, piqueniques, reuniões dançantes, etc. É preciso notar entre ( ) que os sócios do G.R.M. de vez em quando fazem uma reunião dançante!

    A mais ativa das Secretarias até agora foi a Secretaria Artístico-Cultural. Por ela já foi editada uma revista e periodicamente é editado um jornal mural interno. Uma Biblioteca de mais de 300 volumes foi organizada. Sob os auspícios desta Secretaria estudam-se o folclore e as Tradições Gaúchas. Representam-se peças teatrais e convidam-se oradores especiais. Para breve esta Secretaria programou algo inédito numa cidade interiorana: uma sabatina aos candidatos a Prefeito desta cidade.

    Assim procuramos despertar o espírito católico destes moços e moças, que em grande parte não recebem estímulo dos pais para o cumprimento do dever religioso, ou porque os pais são indiferentes ou porque estão casados com dispensa de mixta religio. De vez em quando promove-se uma comunhão geral, com cânticos e orações em comum durante a missa. Se o G.R.M. continuar melhorando e preencher sempre mais suas altas finalidades creio que dentro de uns anos se terá renovado o aspecto da vida paroquial.

    O segundo motivo de esperanças vemos nas famílias holandesas. A grande maioria, felizmente, prima por conservar e transmitir à numerosa prole os costumes genuinamente cristãos da oração e frequência assídua aos Sacramentos. A exemplo deles já se nota também maior frequência entre os nativos, que sentem certo ciúme por verem a igreja que nós construímos assaltada, desta vez pacificamente, por estes batavos meio rudes e grosseiros, mas confiantes e satisfeitos com a vida.

    Outros problemas existem, porém, de molde a preocupar seriamente. Entre eles quero me referir ao ensino religioso nas escolas do interior, como no Grupo Escolar, que este ano alcançou uma frequência recorde. Nas capelas, encontra-se boa vontade da parte dos professores para ensinar do catecismo o que eles mesmos sabem. Mas isto, na maioria dos casos, não passa de fórmulas decoradas que a criança repete sem compreender. A correção desta falha requer muito idealismo e abnegação. Medidas capazes, ao meu ver, de fazer sair o professorado de seu trote costumeiro e semear remorsos, seriam cursos intensivos de religião ou retiros espirituais para todo o professorado católico, na sede da Paróquia. Neste sentido, o Frei Pacífico tem dado passos decisivos... A situação do próprio sacerdote, no desempenho de explicar a doutrina às crianças como é seu dever, tem sofrido bastante, principalmente em nossas paróquias, por causa do automóvel ou jeep. O que se ganhou em velocidade perde-se em eficiência, porque a disposição moral e física não convida a dar longas explicações catequéticas, quando num domingo se tem que percorrer três capelas, confessando, pregando e batizando. A ajuda dos leigos deve ser promovida a qualquer preço.

    O vigário citado acima ideou ainda sociedades recreativas nas capelas sob a direção dos fabriqueiros, com salão e campos esportivos, para despertar o interesse do povo pela capela e obstar outros divertimentos menos sãos na colônia. Outra iniciativa de real importância, pois as sociedades recreativas pululam pela colônia e quantas vezes, ao notar a pouca frequência nas missas de domingo de tarde, é-se informado de que a maioria está no campo de futebol ou nas carreiras. Uma observação somente eu teria sobre tais sociedades. Elas podem fazer grande bem, mas sob a condição de serem exclusivamente de católicos para católicos. Do contrário, todos estes perigos decorrentes da convivência pacífica entre as várias religiões continuam e até se agravam. Certas formas de colaboração, pacificamente aceitas, principalmente em festas de igreja, fortificam o conceito, largamente divulgado entre os protestantes, de que todas as religiões são boas. Reuní-los portanto numa sociedade recreativa, embora sob a orientação nossa, seria apoiar esta mentalidade.

    Conclusão

    Em janeiro próximo, Frei Vito (Mallmann) e Frei Anselmo (Arenhart) pregarão Missões aqui. Nós e o povo católico muito esperamos do zelo e do tato destes missionários. Que a Virgem Santíssima, honrada em muitos lares nãometoquenses pela recitação do terço, abençoe os seus trabalhos e os inspire para acharem as palavras exatas que toquem afinal os corações dos nãometoquenses.

    Foram vigários em Não Me Toque os seguintes frades:

    Frei Olímpio Reichert (1944 - 1953)

    Frei Gustavo Driessen (1953 - 1960)

    Frei Otávio Reichert (1960 - 1964)

    Frei Lino Kunz (1964 - 1966)

    Em 1966, a paróquia foi entregue aos cuidados da recém criada Custódia de São Francisco de Assis.

    Fonte : RSC 1959 - págs. 153 - 156

    Arquivo Provincial.

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SATLER, Fabiano Aguilar. OFM/PSC Paróquia Franciscana Cristo Rei. International Network of Franciscan Studies in Brazil. Available in: http://riefbr.net.br/en/content/ofmpsc-paroquia-franciscana-cristo-rei. Accessed on: 31/01/2025.