No domingo, 23 de janeiro de 1955, o R.P. Custódio Frei Brás procedeu à benção da nova casa paroquial, ou seja, residência de Nossa Senhora de Fátima em Teófilo Otoni. O novo prédio, que é de dois andares, está situado à esquerda da igreja paroquial e pertence à Ordem.
Santa Cruz, 1955, p.16
Uma paróquia sofrida.
A história da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima fundada em 1952 por frei Jorge, não tem sido das mais brilhantes nos seus doze anos. Párocos e vigários cooperadores se sucedendo quase ano após ano, desentendimentos com o Bispo e clero local, uma experiência prometedora de 'Equipe Rural' interrompida, trabalhos iniciados sem continuidade defecções de confrades... Em suma, muito sofrimento de pessoas e comunidades, por motivos de limitações humanas, incompetência, descompasso de opiniões e condicionamentos objetivos de uma paróquia difícil, de uma Diocese insegura apenas no início de sua existência e de uma Província em fase de retração. Considere-se, portanto, que a resolução definitorial de 17/10/1973 é o epílogo de uma peça com muitos atos.
Minha experiência em Teófilo Otoni foi de três anos apenas. Neste período se revezaram três párocos, um dos quais eu, como substituto, e cinco vigários cooperadores. Naturalmente, que estes não se substituíam imediatamente. Sempre havia um espaço de tempo reservado às 'consultas e auscultas' para arranjar novo confrade disponível e disposto a se transferir para o lugar vago. No inicio de 1973, prevendo suas férias na Holanda em julho p. f., o vigário frei Cornélio advertiu o Padre Provincial sobre a necessidade de providenciar um substituto para ele. Padre Provincial lhe prometeu arranjar um vigário substituto 'de qualquer jeito', pois esta paróquia já sofreu demais. De fato ele cumpriu o prometido. O definitório realizou várias nomeações, entre as quais a do vigário substituto. Eu diria que o relatório daquela sessão definitorial seria cômico, não provocasse, antes de tudo, em quem vê com idealismo o futuro da Província uma profunda melancolia.
Ainda antes da partida de frei Cornélio, em reunião com a presença do vigário provincial, pensamos seriamente em pôr a Paróquia nas mãos do Definitório, pressionando assim a Província a tomar uma atitude mais clara. Esse pensamento se tornou realidade ajudado pelas circunstancias surgidas no segundo semestre, como se pode ver no calendário abaixo.
Os passos da entrega
13/09/1973 - Reunião do Padre Celestino Grillo, Manoel Bastos e Belisário que, a pedido do Sr. Bispo, formavam uma comissão encarregada de estudar a integração de um Padre português recém chegado, na Pastoral da Diocese. Nesta reunião estuda-se também a situação precária da Paróquia de Fátima. Surge a possibilidade de os Padres da Missão Portuguesa virem ocupá-la. A comissão deixa bem claro, no entanto, que prefere a continuidade da Paróquia nas mãos da Província Franciscana, caso esta disponha de pessoal.
14 e 15/09/1973 - São consultados os frades de Teófilo Otoni, um por um. Opinião comum: A continuar de modo precário, é preferível entregar; alguns chegaram a afirmar: Isso já deveria ter sido feito há mais tempo. É enviado carta a frei Cornélio, inteirando-o da situação e pedindo-lhe a opinião
25/09/1973 - Frei Diogo passa pela cidade e entrevista-se com o Sr. Bispo.
03/10/1973 - Reunião definitorial à qual compareci nos primeiros vinte minutos, a pedido do Padre Provincial. Os Srs. Definidores pediram-me alguns esclarecimentos, depois dos quais me retirei. A julgar pelo tempo gasto nas discussões, a decisão definitorial não foi fácil: 8 às 11 e das 14 às 17 horas. Após o jantar, Padre Provincial me comunicou a decisão: entregar a Paróquia até o dia 15/12/1973; encarregados da entrega: Freis Conrado e José Belisário.
Mês de outubro e novembro - Comunicação progressiva aos movimentos paroquiais e ao povo em geral a respeito da resolução.
18/12/1973 - A administração dos bens paroquiais é entregue aos Padres Mamede, Jerônimo e Manoel, em ata própria lavrada no livro de tombo da Paróquia, com a presença dos mesmos padres e ainda, Monsenhor Otaviano de Magalhães, Frei Conrado, Frei Márcio e José Belisário.
27/12/1973 - Freis Márcio e Belisário se retiram de Teófilo Otoni; este, com nomeação em Santos Dumont e aquele, aguardando nomeação. Os formandos já tinham se ausentado desde o princípio do mês.
E agora?
Lamento profundamente a retirada da Província da Paróquia de Fátima. Teófilo Otoni é a cidade mais importante do Nordeste Mineiro. Por vários fatores, essa importância tende a aumentar. Se levássemos em conta apenas considerações teóricas, nunca deveríamos ter saído de Fátima. No entanto, as circunstâncias coagiram o Definitório a chegar a uma resolução oposta. Por isso julgo que, apesar de tudo, a decisão do abandono da paróquia foi clarividente e oportuna. Clarividente, porque obedeceu a uma série de acontecimentos; oportuna, porque saímos sem deixar e sem levar ressentimentos e a Paróquia não ficou um dia sequer sem assistência de padre.
Resta-nos tirar algumas lições do acontecimento talvez válidas para toda a Província.
Por Frei José Belisário da Silva
Fonte: Revista SPI, 1974, p.9 a 14.