Em longas, primitivas e perigosas viagens, os frades descobriram povoados e construíam suas capelas. Dessa imensa paróquia seriam desmembradas diversas outras paróquias grandes, como sejam o Pampã, Machacalis, Urucu, Águas formosas, etc. Em 1914 a paróquia passou para a nova diocese de Araçuaí, sendo seu primeiro bispo outro grande amigo dos Franciscanos, Dom Serafim Gomes Jardim. Desde os primeiros, os nossos Franciscanos têm desenvolvido grandes melhoramentos espirituais e materiais: catecismo, associações, corais, banda de música, Conferências de São Vicente, uma tipografia, editando, entre outros, nosso célebre semanário A Família, desde 1912, fundado e dirigido por Frei Benvindo Poell, sempre combatido por O Mucuri, bastante anticlerical; outros melhoramentos: nossa livraria e biblioteca, a Escola de São Vicente (1913) de Frei Dimas de Kok; grandes Semanas Santas desde 1920; o Hospital para doenças contagiosas (1923). Em 1922, o Provincial da Holanda, Frei Simão Bennenbroek visitou nossos confrades e celebrou em praça pública missa soleníssima pelo primeiro centenário da nossa independência (07/09/1922). Todo mundo gostou, até os anticlericais.
Era uma paróquia cansativa com suas viagens penosas, trabalhos pesados clima úmido e constante hostilidade dos inimigos de Deus, da Igreja e dos Padres. Para dar conta do seu recado, os freis gastavam sua saúde e até sua vida em pouco tempo. Assim o primeiro vigário Frei Gonzaga pediu em 1917 sua demissão por causa da sua pouca saúde. Em 1918, o redator nato de A Família, Frei Benvindo, injustamente denunciado por um artigo ofensivo ao chefe político, intimado e maltratado na Delegacia policial como se fosse um criminoso, poucos dias depois adoeceu, e após oito dias (em 09/10/1918) faleceu de uremia, mas também pelas humilhações sofridas. Foi um duro golpe para A Família e para nós todos. Seu corpo foi sepultado num sepulcro especial contra a parede lateral da matriz, sempre lembrado por orações, velas e flores dos seus muitos admiradores.
Ao lado dele, foi enterrado em 05/10/1926 outro inesquecível benfeitor de Teófilo Otoni, Frei Dimas de Kok, nosso enérgico e diligente confrade. Faleceu de uremia e com apenas 40 anos de idade. Mais trade, por uma reforma da sacristia, os corpos foram exumados e enterrados no cemitério da cidade. A morte prematura e quase repentina de ambos é lamentada pelos paroquianos idosos da Conceição, até o dia de hoje, como um desastre para vida paroquial daquele tempo. (SC. 1974, p.311; 1975, p.195).
Em meio a esses tristes acontecimentos, a chegada das primeiras Irmãs Franciscanas, em dezembro de 1927, foi muito animadora para a vida científico-religiosa.
Penoso, de fato, era ainda o trabalho missionário dos nossos, nas matas virgens, desta paróquia antes de 1930. Tem a palavra Frei Letâncio Vaske: Deus é grande, mas a mata é maior, diz o roceiro... Se não fosse desairoso num franciscano sério e morigerado falar tais palavras, empregava-as eu também no Nordeste de Minas.
Quando se acompanhava o leito sinuoso da Estrada-de-ferro, em direção do Leste ao Oeste, a paróquia media 250 km e não era muito menor a distância, traçando a linha do Sul ao Norte. O padre, que a cavalo enveredava na mata, defrontava ali um mundo sem fim. Podia viajar dezenas de léguas sem receio de descambar em território alheio e somente tinha de interromper a marcha ao chegar a uma zona que exclusivamente era habitada pela anta, onça queixada ou gente de natureza congênere. Seu rebanho, mais numeroso que as célebres manadas de Abraão e Lot juntas, contava ao mínimo 80.000 ovelhas dispersas, aqui e acolá, nos montes e nos vales.
O bispo, Dom Serafim Gomes jardim, que estava mais a par da situação religiosa, na sua visita pastoral de maio de 1929 prometeu padres... nova paróquia... e o nosso visitador provincial, Frei Regalato Hasebroek, acompanhado pelo Padre Comissário, frei Júlio Berten, encontrou-se com o bispo, em certa capela de Poté, e por enquanto, fechou-se a questão... Seis meses Liberto Soppe, logo secundado por Frei Antônio van der Steen (SC 1937, p.40s; SC. 1976, p.26).
O que fazia dó lembrar é que nosso benfazejo semanário A Família deixou de circular: só das assinaturas o jornal não podia viver, não tinha mais os impressos da Estrada Bahia-Minas, poucos avulsos, outras tipografias apareceram em toda parte e o paradeiro, e ainda custaria mais um padre. (SC 1976, p.67. na reunião do nosso Conselho em Cascadura (Rio), em 25/02/1933, foi discutido também sobre a proposta do vigário de Teófilo Otoni, Frei Luiz Geldens, de aproveitar uma boa oportunidade para continuar a edição de A Família. Embora essa proposta agradasse a todos, foi todavia dada a resposta negativa, pois para a continuação do jornal seria necessário mais um padre. (SC 1976, p.53). em 1939 todo o material da nossa tipografia de Teófilo Otoni foi trazido para a nossa gráfica em Divinópolis.
Mas apesar dos pesares, foi muito otimista a opinião do P. Comissário, Frei Serafim Lunter, que em 27/05/1935 visitou Teófilo Otoni, trazendo mais três Irmãs Franciscanas e fazendo a visita canônica à nossa comunidade, anotando na sua Crônica: Desde a chegada dos nossos freis em 1906 a situação religiosa de Teófilo Otoni melhorou muitíssimo. O movimento religioso que no princípio era quase nulo, é agora muito forte. Só os homens das famílias abastadas ainda se distanciam. Seria conveniente que um padre estivesse em Teófilo Otoni para trabalhar exclusivamente entre os homens e moços... A residência é grande, mas a casa é escura e pouco saudável...É necessário que se construa uma nova, mas ventilada. SC 1976, p.67).
Antes, porém, de tratar de nova casa, o vigário, Frei Feliciano Smitz, apoiou com seus paroquianos a idéia de Delegado especial, capitão da polícia mineira, de fundar uma sociedade de angariar contribuições mensais para acabar com a mendicância na rua. Essa sociedade Frei Dimas começou a funcionar em abril de 1936, alojando a maior parte dos pobres em dois albergues. Ficaram muito satisfeitos. Frei Feliciano, desde o primeiro domingo de maio de 1936, começou a celebrar a missa das oito como missa das crianças do Grupo que, com a cooperação da diretora e diversas professoras, tem tido bom êxito. Com a Liga Católica, Frei Feliciano inventou uma reunião fora da igreja para os homens como Ação Católica, sempre com bons conferencistas: o primeiro foi o Dr. Promotor Público, o segundo o Deputado Dr. J. Martins. Foi um sucesso. (SC 1936, p.62).
Você quer ter uma idéia sobre a paróquia da Conceição de Teófilo Otoni na época de 1938? Então veja sua descrição por frei Hilário Verheij que fora vigário de 1917 a 1924 e sendo-o agora de 1936 a 1942: ... dos 70.000 habitantes a maior parte mora na roça. Quase todos são católicos... Há várias seitas, a mais ativa é a dos Batistas. Influência nefasta: a maçonaria, cuja loja Philadelfhia tem 98 membros...; o povo se sente atraído para superstições, coisas misteriosas e espiritismo... Da assistência à Missa não nos podemos queixar muito. O catecismo tomou grande impulso depois do retiro espiritual de Frei Hilário para as Filhas de Maria; além das 33 horas de catecismo nas escolas pelos padres, há aos domingos catecismo em 15 lugares pelas 28 catequistas da Doutrina Cristã. Para melhorar a vida religiosa temos aqui o Apostolado da Oração, as Filhas de Maria, a Ordem Terceira, a Pia União de São José, duas Conferências de São Vicente, a Irmandade do Santíssimo, a Liga Católica, cuja freqüência podia ser melhor, e ainda a Cruzada Eucarística.
Em 1938 finalmente foi renovado o telhado da matriz. Para essa obra gigantesca a matriz foi fechada no dia 18/09/1938 e o Santíssimo retirado para a capela da nossa residência, onde ia funcionar o movimento paroquial, como também na capela do Bom Jesus e no Colégio São Francisco e, com bom tempo, até ao ar livre. O velho telhado foi retirado, graças a Deus, sem incidentes. Para salvar o mais possível a bonita abóboda, fizeram as paredes subirem 80 cm, foi colocado o novo telhado e foi feita uma ornamentação adequada, uma balaustrada: ficou uma beleza. (Veja foto SC 1939, p.860). Só no dia 08 de junho, festa de Corpo de Deus, o Santíssimo foi solenemente transladado da capela do convento para a matriz, completamente restaurada. Desde essa data as funções religiosas são feitas na matriz (SC 1939, p.93).
Agora a nova casa: a planta foi aprovada pelos superiores a 13/07/1938 (foto SC 1939, p.136a). Logo foi iniciada a construção. Trabalharam bem, pois já no princípio de fevereiro de 1940 começamos a habitar nosso novo convento, onde há lugar para 12 religiosos.
A casa paroquial é boa, sólida, bem arejada no andar de cima; os cômodos de baixo, de um lado, são escuros e frios. A capela do Bom Jesus está bem tratada e conservada. Tanto na matriz como no Bom Jesus a freqüência nas missas e das comunhões é notável.
Sem dúvida alguma, Teófilo Otoni tem sido uma paróquia muito importante, não só para a cidade, mas também para todo o Nordeste Mineiro como paróquia-mãe de tantas paróquias vizinhas. E por isso era ali que os confrades se encontravam para reuniões, para retiros, para negócios ou para uns dias de descanso. Por isso, no Capítulo de agosto de 1941 na Holanda, o convento foi promovido à categoria de guardianato e seu primeiro guardião foi um dos nossos pioneiros, Frei Leopoldo van Winkel. No dia 18 de novembro, à noite, de caminhão, ele chegou ao convento, muito abatido pela viagem por péssimas estradas. Embora ele estranhasse o clima e o novo ambiente, começou alegre e animado a desempenhar-se da sua tarefa. Já no dia de Natal passou mal com perda considerável de albumina, mas o bom médico contornou o perigo. No dia 04 teve uma recaída. Foi sacramentado muito lúcido, e no dia 08 de janeiro passou a vida eterna.
No dia 11 de janeiro houve em Belo Horizonte uma reunião do conselho provincial, na qual frei Martinho Tiesselinck foi eleito guardião do convento de Teófilo Otoni (SC. 1942, p.17, 19-21, com foto de Frei Leopoldo p.20a).
O vigário Frei Hilário, sobrecarregado de responsabilidades, estava precisando de repouso e Frei Oto Rijnierse veio tomar conta da paróquia provisoriamente até outubro, quando Frei Rodrigo Verkoijen veio dirigir a paróquia; Frei Hilário foi para Santo Dumont como padre espiritual dos nossos seminaristas. Nesse tempo, sendo Frei Zacarias van der Hoeven comissário interino, houve muitas transferências provisórias. Assim, p.e. em Teófilo Otoni de 1942 a 1944, depois de Frei Hilário, veio (alguns meses), Frei Rodrigo (um ano), então foi nomeado Frei Godeberto Crijns (desaconselhado pelo médico), Frei Pedro Schretlen (a pedido do povo de Pará de Minas pôde ficar lá mesmo), finalmente Frei Rogato Hoogma (um ano) e em 1944 Frei Antelmo Kropman que, como vigário e guardião, ficou até 1953. Nesse ínterim chegaram e saíram alguns coadjutores: Frei Egídio, Frei Helano, Frei Carlos, Frei Teodulfo...
Frei Osório da Silva Santos e Frei Simão Putman fizeram um giro missionário pelas capelas rurais de Teófilo Otoni: missas, pregações, confissões: bons resultados espirituais, mas também financeiros para as vocações franciscanas. De maio a junho Frei Osório fez uma campanha de Páscoa nas igrejas da cidade pregando em todas as missas. Nosso grito de alerta teve eco. O povo correspondeu generosamente ao nosso apelo. Foi grande surpresa e, ao mesmo tempo, uma grande satisfação para o vigário Frei Antelmo e seus auxiliares pelos resultados obtidos. Parece que a benção maternal de Nossa Senhora paira sobre Teófilo Otoni. Nota-se coisa surpreendente. A grandiosa manifestação que o povo prestou à sua Padroeira, em 08 de dezembro passado, em sinal de desagravo pelas investidas protestantes, parece estar retribuída pela Boa Mãe.
A batalha tem sido pesada contra o assalto da maçonaria, do protestantismo e do espiritismo, mas nossos padres continuam firmes nas pisadas dos nossos grandes antepassados: Frei Gonzaga, Frei Dimas, Frei Benvindo, Frei Flaviano, Frei Sabino, Frei Adolfo, Frei Samuel, Frei Luiz, Frei Hilário, Frei Querubim, Frei Canísio Zoetmulder, etc.
Além desses resultados, Frei Osório conseguiu diversas bolsas para as vocações franciscanas
Tudo em linha ascendente, ma também sempre aumentando o número de trabalhadores, como a gente vê na lista capitular da nova Província de Santa Cruz, em 1949: Convento Imaculada Conceição: Frei Antelmo Kropman, guardião, diretor O. III e pároco; Frei Brás Berten, Definidor, vicário conventual, coadjutor; Frei Pacômio Thieman, jubilado, conselheiro, bibliotecário, coadjutor; Coadjutores: Frei Leopoldo Lafeber, Frei Manuel Smeltink, Frei Simão Putman (em Topázio), Frei Jorge Geerlings (preparando a paróquia de Fátima), Frei Constâncio Mallens.
Em 1960 foi criada a nova diocese de Teófilo Otoni.
Aos 31 de agosto de 1966 a paróquia da Imaculada Conceição a pedido do Sr. Bispo foi devolvida à administração do clero secular.
Por Frei Helano van Koppen
Fonte: Livro Nossas Paróquias Mineiras, 1991, p.06 a 10.