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Place of presence and action

  • Identifier:
    12022
    Descripcion:
    OFM/PSC Casa e Paróquia Franciscana Cristo Libertador
    Type of presence:
    Place: Ipatinga, MG
    Initial date:
    1983
    Final date:
    1993
    Notes about this place of presence/action:
    Chegando em Nanuque, depois de ter vivido três anos na Comunidade Inserida de Ipatinga, resolvi contar alguma coisa desta nova experiência.

    No mês de fevereiro há três anos (1983), Eduardo, Jaime e eu chegávamos a Ipatinga. Chegamos justamente numa quarta-feira de cinzas. Por sinal, um dia significativo para esta mudança. A nossa casa era de aluguel e estava totalmente vazia. Não havia nenhum móvel lá dentro. Quase sempre, quando a gente é transferido, vai para uma casa, geralmente casa paroquial, totalmente mobiliada e recebe um quarto onde encontra tudo o que necessita. Felizmente tínhamos algum dinheiro à nossa disposição para comprar as coisas mais necessárias para tornar a casa mais habitável.

    Eu me lembro de duas coisas a que nos devíamos acostumar, no início. Não havia cozinheira. Nós mesmos tínhamos que preparar o café da manhã e o almoço. Para quem nunca mexeu com cozinha era uma tremenda dificuldade. A outra coisa era que a nossa casa estava rodeada de outras casas. E de manhã, às 6:00 h., já se escutava o rádio dos vizinhos com música sertaneja bem alta. Depois de algum tempo, entramos num certo ritmo, dividimos as tarefas e assim a situação tornou-se mais fácil

    A oração em comum é muito importante na comunidade seja inserida ou não. Sempre achei que nós rezávamos pouco, só uma vez por dia, depois do café. A nossa vida de oração foi sempre assunto de revisão em nossas reuniões (Capítulo Conventual). Ninguém entre nós estava muito satisfeito com esta situação. Aos poucos, os compromissos de trabalho começaram a aumentar e ficou mais difícil ainda encontrar mais tempo para a oração.

    Eu posso até dizer que a vida comunitária ficou prejudicada pelo número de compromissos assumidos. Os momentos em que a gente se encontrava eram na parte da manhã, na hora do café e da oração, na hora do almoço e, à noite, depois das 10:00 ou 10:30 h. Às vezes um ou outro ficava dias fora por causa de viagem.

    Em termos de pobreza, continuamos firmes. Queríamos viver mais ou menos como os pobres, em solidariedade com os pobres. Não tínhamos carro, nem telefone, nem televisão. Descobrimos que não se pode ser pobre igual aos outros pobres do nosso bairro. Acho que por causa de nossa educação e formação, não temos condições de descer muito. Depois tem sempre a província que nos garante muita coisa. E os pobres não têm esta garantia. Havia entre nós uma certa tendência a facilitar um pouco. P. ex., já tínhamos uma casa onde telefonávamos e pagávamos a conta no fim do mês. Às vezes, alguém emprestava um carro. Era mais rápido do que a pé ou de lotação.

    Os trabalhos correspondentes à expectativa. Perto onde morava, havia três comunidades maiores e umas 12 comunidades menores. Nestas comunidades trabalhávamos, adotando uma caminhada mais libertadora. Fazíamos os trabalhos comuns como missa, casamentos, batizados, sempre colocando dentro da celebração a situação real e o sofrimento do povo.

    Além desses trabalhos nas comunidades, havia a Pastoral Operária, a Pastoral da Terra e as CEBs na diocese toda. E através destas formas de pastoral, ficávamos ligadas também às pessoas dos sindicatos, das associações de bairro, dos partidos políticos, da associação de lavadeiras e domésticas, etc. Acontecia que também esses grupos, que não são diretamente movimentos de Igreja, faziam um apelo a nós no sentido de darmos uma assessoria. E assim, dentro de pouco tempo, tínhamos contacto com um grupo grande de pessoas, seja das comunidades, seja dos movimentos populares, comprometidas com a mudança da sociedade. Desta forma, os trabalhos e os compromissos aumentaram sempre mais.

    Olhando para trás, para esses três anos, posso dizer que conseguimos realizar uma caminhada junto com os pequenos, pobres, oprimidos, operários, lavradores, domésticas, lavadeiras, favelados, injustiçados. Prova disto era o fato que não éramos bem vistos por certas pessoas e certos grupos, p. ex., o governo municipal, o delegado de polícia, a empresa de ônibus, Usiminas, etc. Recebíamos também cartas ameaçadoras de fora.

    Toda esta caminhada de três anos foi para mim uma nova experiência. Eu gostaria de mencionar três momentos desta caminhada que me impressionaram mais.

    Em primeiro lugar, a viagem a Belo Horizonte com os desempregados do Vale do Aço. Fomos com 16 ônibus. E não apenas a viagem em si ficou na lembrança, mas também toda a preparação e principalmente a véspera. Corriam os mais diversos boatos: Não iriam mandar os ônibus; a polícia não iria deixar sair do Vale do Aço e nem entrar em Belo Horizonte. Na noite antes da viagem, quase ninguém dormiu. Havia um verdadeiro pânico. E cada vez se inventava alguma coisa para criar mais pânico ainda. Começamos a viagem a Belo Horizonte com este espírito apreensivo. A viagem, entretanto, foi boa e tranqüila e não aconteceu nada daquilo que a gente esperava. Aprendemos com isto.

    Outro momento que me impressionou foi outra viagem a Belo Horizonte. Fomos eu e um rapaz da Pastoral Operária. Iríamos acompanhar um grupo de operários da empresa Montreal. Eles estavam em greve e iam tentar uma audiência com o governador Hélio Garcia. Nós ficamos em frente das grades do Palácio. O portão foi fechado. Não era um grupo muito grande. De um lado, senti a falta de força dos operários diante do poder. Este poder que tinha à sua disposição a força militar para oprimir esses operários. Este poder que podia ou não receber esses operários conforme o momento político. Do outro lado, senti a ansiedade dos operários em serem recebidos, atendidos e apoiados nas suas reivindicações. O momento político foi favorável. Os portões se abriram. O governador os recebeu. Prometeu entrar em contato com a empresa. Na mesma tarde, a greve foi declarada ilegal. Dias depois, a maioria desses operários foi demitida. Ninguém jamais ouviu falar do apoio do governador.

    O terceiro momento foi na época da eleição da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga. A Chapa I, apoiada abertamente por nós, era a chapa da oposição. Havia mais 5 chapas. Foi uma verdadeira batalha com perigo de vida. Pessoas andavam armadas. Havia ameaças. A gente devia vigiar as urnas. Chapa I ganhou no primeiro escrutínio. Alegria e euforia. Mas a Chapa I não tinha conseguido a maioria absoluta. Outra eleição. Quatro chapas se retiraram. Agora a luta era entre as Chapas I e II. Uma pressão psicológica enorme por parte da Usiminas em cima dos operários. Outra batalha. Novas ameaças. E, no fim, a derrota. Muita gente chorou. Porém, não foi uma derrota definitiva, pois a caminhada valeu a pena e a luta continua.

    Concluindo este artigo, digo com sinceridade; esta caminhada em Ipatinga foi muito válida para mim. Com pesar, deixei Ipatinga. No relatório do Padre Provincial, li que tanto no CPO de 1983, como também no Capítulo Geral de 1985 se pede ao menos uma comunidade inserida no meio de um povo pobre. Ao meu ver, tanto para a vida em comunidade como para a continuação dos trabalhos, em Ipatinga, são necessários ao menos três confrades. Por isso, eu espero que o Governo da Província encontre quanto antes um terceiro confrade para a Comunidade inserida de Ipatinga

    Entrega da paróquia

    No dia 27/07/1993, Frei Adelmo, Frei Antônio Francisco, Frei Cristóvão Pereira e Frei Flávio, deixaram Ipatinga, entregando a paróquia Jesus Cristo Libertador aos cuidados da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano.

    Por Frei João José van der Slot

    Notícias do Provincialado

    Fonte: RSC, 1986, p.119-123 e 1993, p. 113.

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SATLER, Fabiano Aguilar. OFM/PSC Casa e Paróquia Franciscana Cristo Libertador. International Network of Franciscan Studies in Brazil. Available in: http://riefbr.net.br/en/content/ofmpsc-casa-e-paroquia-franciscana-cristo-libertador. Accessed on: 31/01/2025.