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Franciscan

  • Alt
    Identifier:
    11514
    Name:
    Fr. José de Haas, OFM (Josephus de Haas)
    Sex:
    Date of birth:
    04/01/1877
    Date of death:
    01/08/1956
    Place of birth: Eersel, NL
    Place of death: Araçuaí, MG
    Ecclesiastical state:
    Biographical Notes:

    IN MEMORIAM

     

    À tarde de 1° de agosto, véspera da Porciúncula, entregou sua alma a Deus o nosso ilustre Confrade Dom Frei José de Haas, segundo Bispo de Araçuaí. Em vida hão conheceu descanso. Trabalhou até o fim, até que Deus mesmo o viesse chamar ao descanso.

    Chegando ao Brasil em 1906, esteve seis anos em São João del Rei, e em 1912 foi transferido para Araçuaí como primeiro vigário franciscano dessa paróquia, que a Ordem estava aceitando. A esta cidade, como a toda a zona do Nordeste, ficaria desde então ligado até o fim de sua vida: como pároco da extensa freguesia; desde 1914 como Vigário Geral do primeiro Bispo de Araçuaí, Dom Serafim Gomes Jardim; em 1934 como Vigário Capitular da Diocese, e nos últimos 19 anos como seu Bispo.

    Como Vigário foi testemunha de duas enchentes, que inundaram a cidade e deixaram sinais por muito tempo. A pobreza existente é também ainda conseqüência dessas enchentes. Uma vez reconstruiu a sua igreja, que quase fora derrubada, e outra vez começou em outro local, mais alto, sua igreja matriz, que era também a igreja catedral.

    A maior parte das esmolas necessárias para a reconstrução da igreja ele as arranjou com parentes e amigos na Holanda.

    Por ocasião das enchentes de 1918 caiu doente com paratifo e por muitos dias esteve às portas da morte, mas seu coração forte agüentou bem os estragos que a doença fazia no seu corpo. Incansável no trabalho da cura de almas, teve um amor especial pelos pobres. Seu trabalho de vigário ganhou tanta fama que Araçuaí era considerada entre os confrades como a paróquia de maior número de confissões ou chamadas para doentes. Ergueu a vida espiritual dos fiéis; a devoção a Santo Antônio, o padroeiro da paróquia, ganhou importância na vida espiritual da paróquia.

    Como Vigário foi incansável nas viagens por sua extensa paróquia. Este zelo pelas almas será também o distintivo de Frei José, depois de elevado sólio episcopal Apesar de já estar com mais de sessenta anos quando eleito Bispo, nunca teve medo de iniciar viagens de meses a cavalo, em Visita Pastoral. Cada cinco anos percorria toda a sua imensa diocese, e não há lugar onde não tenha estado diversas vezes. Na sua simplicidade gostava de tratar com os pobres e humildes; assim acontecia que diversas vezes, quando visitado por pessoas de mais destaque, ele logo atendia aos pobres que o chamavam, deixando esperar os abastados. Seu coração bondoso não podia ver nem ouvir miséria, e assim, havia muitos que abusavam de sua bondade porque não podia negar a ninguém o seu auxílio. Em todo o seu governo de Bispo se podia reconhecer o antigo Vigário, que, solícito, quer ajudar a seus paroquianos em todas as necessidades.

    Assim era capaz de dar suas esmolas com mãos largas, capaz de dar tudo aos pobres, também àqueles que se diziam necessitados sem o ser, não indagando se havia alguma verdade no que diziam. A sua bondade era muitas vezes explorada por pessoas sem escrúpulos. Considerava bons a todos, e achava que todos deviam receber sua esmola. Desde o dia de sua sagração e, posse da Diocese, por força de uma promessa que fizera naquele, dia, nunca deixou de dar sua esmola, e por isso antes de partir para uma viagem, deixava nas mãos de outros, dinheiro para os seus pobres. Muitas vezes avisava-os do dia de seu regresso, e então logo à sua, volta, já estavam aí na porta chamando: "Dom José, ó Dom José, ó Sr. Bispo!"

    Como Vigário alcançou dois incalculáveis benefícios para a Zona do Nordeste mineiro, a instalação dos dois colégios femininos: "Nazareth" de Araçuaí e "São Francisco" de Teófilo Otoni. Como Bispo da Diocese, chegou a conhecer o abandono em que se encontrava a juventude masculina de Teófilo Otoni, e, resolveu então começar o Ginásio São José, que depois de alguns anos, a pedido do próprio clero diocesano, passou para a nossa Ordem; Abençoou de modo especial a instalação de colégios em Mantena e Jequitinhonha, reconhecendo a grande necessidade que deles, havia nas duas cidades. Durante muito tempo não quis que se fundasse um colégio feminino em Jequitinhonha para não prejudicar o Colégio de Araçuaí. Mas quando viu que ao lado do Colégio "Nazareth" poderia subsistir um colégio em Jequitinhonha, insistiu com os Padres Capuchinhos, para que as Irmãs que eles tinham trazido para Mantena, também fossem tomar conta de uma escola em Jequitinhonha, que futuramente devia crescer e tornar-se ginásio. No tempo do seu governo de Bispo foi instalado o ginásio de Almenara. Mandou iniciar um ginásio em Carlos Chagas, ajudou para começar uma escola paroquial em Nanuque, que logo mudou, em Escola de Comércio, porque o Governo Federal não quis dar a inspeção prévia para ginásio. Igualmente em Malacacheta começou-se com uma escola que futuramente deve ser Escola de Comércio ou Ginásio. Itaipé neste tempo ganhou também sua escola paroquial. Em Araçuaí mandou começar uma Escola de Comércio, uma vez que era impossível obter a inspeção prévia para um ginásio masculino. Deste modo a educação da juventude em o Nordeste Mineiro ganhou muito durante o governo de Dom José.

    Para os doentes, os pobres e abandonados ele tinha seu hospital em Araçuaí, que era a pupila de seus olhos. Era ele o provedor perpétuo deste hospital. Há uns anos o seu sonho realizou-se e o hospital de Araçuaí recebeu irmãs, da mesma Congregação que havia na Escola Normal. Transformou-se completamente o hospital, de modo que agora ricos e pobres dele aproveitam. Um pouco mais de um mês antes de morrer escreveu, já na cama, com muito sacrifício, uma carta ao. Presidente da República, pedindo uma maternidade para o hospital. A resposta do Presidente chegou quando Dom José estava em Belo Horizonte e esta resposta consolou-o imensamente no seu leito de dor, de tal modo que muitas vezes nas horas em que já não estava conhecendo as pessoas, falava do hospital é da promessa que recebeu do Presidente.

    No tempo em que Dom José ficou encarregado com a Diocese, havia uma angustiosa falta de sacerdotes e as necessidades aumentavam cada vez mais porque havia grandes zonas de mata que o povo flagelado das zonas da seca começou a povoar. Em suas viagens à Holanda conseguiu Dom José entusiasmar diversos sacerdotes e seminaristas os quais atraiu para sua Diocese. Esforçou-se para que os religiosos franciscanos e capuchinhos multiplicassem suas residências para que deste modo aumentassem o número de sacerdotes na cura de almas e melhor fosse atendido o povo necessitado. Agora, no fim de sua vida, podia dizer que as paróquias estavam mais ou menos regularmente providas de sacerdotes e no seminário de Diamantina se prepara uma turma esperançosa de candidatos ao sacerdócio, que dentro de poucos anos poderão ocupar diversas paróquias que ainda devem ser instaladas principalmente na zona contestada, onde o aumento da população é tão grande que em breve devem ser criadas aí diversas paróquias.

    Vendo que faltavam padres e recursos para um seminário próprio mandava seus seminaristas para outras dioceses. Muitas vezes falou que no princípio do ano vindouro queria começar comum seminário próprio nas instalações da Escola do Comércio São José. Mas este sonho não pôde realizar mais.

    A grande preocupação de Dom José foram sempre as visitas pastorais. Nos primeiros anos do seu governo as visitas pastorais todas deviam ser feitas a cavalo e apesar dos seus sessenta e tantos anos nunca esmoreceu nesta tarefa difícil de um Bispo que tem amor pelas almas. Os companheiros de Dom José às vezes deviam abandonar o campo de trabalhos, e ele com sua saúde de ferro não se entregava. Nos primeiros tempos ouvia confissão como qualquer um dos padres, pregava e ajudava em tudo que era possível. Depois que começou a sentir a idade, deixou de ajudar nas confissões. Viajava meses, quase sem parar, atendendo deste modo seu rebanho numeroso. Somente depois de ter recebido alguns avisos de que sua saúde não era mais como nos tempos da mocidade, durante algum tempo deixou de fazer a visita pastoral e mandava visitadores. No ano santo mariano, viajou de carro com a imagem de Nossa Senhora da Lapa por toda a Diocese, incansável apesar de seus 77 anos. Ultimamente ainda fez a visita pastoral de 10 de abril até 10 de maio deste ano na paróquia de Itaipé, visita toda a cavalo, que quase lhe custou a vida, como ele mesmo reconhece na declaração, uma espécie de testamento espiritual que deixou. Aí, todavia agradece a Deus por ter podido fazer esta visita na paróquia onde encontrou tanta gente de boa vontade. Quis morrer como Bispo, trabalhando pelas suas ovelhas. Esta visita foi o princípio do fim, porque voltou completamente esgotado. Mesmo assim quis ir de carro a Itaobim no dia de Pentecostes onde fez em três dias 1050 crismas. Mas depois de cada visita à igreja, devia deitar-se porque as dores nas costas eram quase insuportáveis. Voltou para Araçuaí, quase sem forças. Poucos dias depois caiu durante a santa Missa. Começou o último estádio de um homem que trabalhou com os talentos que tinha recebido do seu Divino Mestre e ganhou o dobro.

    A maior parte do dia ficava acamado, mas não quis saber que sua saúde estivesse abalada, achava que tudo fosse conseqüência de diabete e que sua constituição forte podia com o tempo vencer. Mas as dores nas costas continuavam fortes e por fim deixou convencer-se de que devia procurar recursos melhores em Belo Horizonte. No dia 10 de junho embarcou no avião que ia levá-lo para lá. Ficou primeiro em nosso convento de Carlos Prates, depois foi levado ao Hospital "Felício Rocho", mas não havia recurso médico para sua doença. Devagar começou a perder forças até que os médicos chegaram à conclusão de que não havia mais recurso nenhum da medicina. Voltou no dia 22 de julho para Araçuaí, chegando mais morto que vivo. Todos se assustaram vendo em que estado ficou o amigo de todos. Começou uma romaria para o palácio. Todo o mundo lhe queria fazer uma visita, queria ver Dom José, mas o médico proibiu todas as visitas. No dia seguinte, 23 de julho, Frei Venceslau administrou-lhe os santos Óleos. A S. Comunhão ele a recebeu todos os dias até dois dias antes de sua morte. Custou convencê-lo da utilidade de receber os santos Óleos. Por fim deixou convencer-se pelo médico Dr. Múcio. Estiveram presentes nesta hora Frei Antelmo, Frei Valério, Frei Constâncio, Frei Afonso e diversas irmãs do Colégio "Nazareth" e pessoas da casa. Logo depois começou Dom José a 1alar agradecendo o beneficio que tinha recebido e o conselho do médico.

    Devagar começou a piorar. No outro dia recebeu a visita do Sr. Arcebispo de Diamantina que veio de avião fornecido pelo Governo.

    Na primeira semana quase todos os padres da diocese, que podiam sair da sua paróquia, vieram fazer uma visita ao doente. Reconhecia quase todos. No sábado antes de morrer teve meia hora de plena lucidez em que ele se sentia melhor. Então recebeu primeiro os padres Capuchinhos que vieram de Itambacuri. Depois mandou chamar o Pe. Simão, com quem se entreteve bastante tempo, e pediu que lhe desse a carta que ele tinha escrito em Belo Horizonte, a qual depois começou a ler. Devido ao cansaço o Pe. Simão continuou a leitura. Em seguida deu ordem de fechar a carta, que devia ser aberta depois de sua morte. É o "testamento espiritual" a que acima nos referimos.

    Segunda-feira de noite os médicos acharam que não ia alcançar o outro dia, mas seu coração forte - pulso forte e regular com pressão de 12-13 - agüentou mais tempo do que eles pensavam. Mas parece que desde à tarde da segunda feira perdeu completamente os sentidos, somente de vez em quando parecia compreender ainda alguma coisa. Na terça-feira de tarde rezamos as orações dos moribundos, repetidas mais uma vez na tarde da quarta-feira. Calmamente expirou na quarta-feira dia 10 de agosto às 17 horas, rodeado por diversos sacerdotes e seminaristas, irmãs do colégio e as irmãs da casa e algumas pessoas amigas. Antes de morrer tinha recebido a Bênção Apostólica do Santo Padre, Ainda mandou agradecer à pessoa que tinha pedido esta Bênção e ao próprio Santo Padre.

    Logo depois da morte de Dom José seu corpo foi revestido dos paramentos pontificais e colocado numa mesa na Igreja-Santuário de São José e Santa Teresinha. Os seminaristas da Diocese foram incansáveis e velaram a noite toda, rezando como povo. Às 9 horas do outro dia começou a Santa Missa de corpo presente celebrada pelo sacerdote mais velho do conselho diocesano presente, Pe. Otaviano Magalhães, com assistência do Pe. Frei Venceslau Nouwen como diácono e Pe. Henrique van der Feesten como subdiácono. O clero, os religiosos e as religiosas presentes cantaram a Missa de Requiem. O enterro, acompanhado de enorme multidão de povo, realizou-se na capela lateral do Santuário. A beira do túmulo, à porta de fora, falaram Dr. Nuno da Cunha Meio, Dr. João Dantas Milanez em nome de Teófilo Otoni e por fim o Pe. Otaviano agradeceu.

    Ao enterro somente poucos sacerdotes de fora puderam assistir porque por ordem médica não houve prazo. Estiveram presentes os confrades Frei Antelmo, Frei Valério, Frei Hugo, Frei Brás, Frei Acário, Frei Marino e os padres seculares Pe. Sebastião Gomes da Costa, Pe. Otaviano, Pe. José Antônio, e os de Araçuaí Pe. Simão, Pe. Henrique, Frei Afonso, Frei Constâncio e Frei Venceslau. Pouco depois do enterro chegou ainda o Côn. Carlos de Oliveira, Vigário de Itinga.

    Agora Dom José descansa dos trabalhos apostólicos em que mostrou ser um grande Bispo, um Apóstolo deste Nordeste Mineiro.

    Todos os dias diversas pessoas sobem o morro do Santuário para rezar o terço junto ao túmulo de Dom José e invocá-lo nas suas necessidades.

    Dom Frei José de Haas O.F.M., nasceu em Eersel, na Holanda, aos 4 de janeiro de 1877, recebendo já no batismo o nome de José. Seus pais eram Antônio de Haas e Cornélia van der Velden. Recebeu o hábito na Província de Holanda aos 3 de outubro de 1895, emitiu profissão de votos temporários a 6 de outubro do ano seguinte, e de votos solenes a 8 de outubro de 1899. Foi ordenado sacerdote a 9 de março de 1902. Chegou ao Brasil a 4 de março de 1906. Daí até 15 de setembro de 1911 esteve em S. João del Rei, onde também dirigiu o Asilo S. Francisco; até 16 de dezembro do mesmo ano em Niterói; até 4 de março de 1912 em Teófilo Otoni; desde 8 de março de 1912 em Araçuaí. Eleito Bispo desta Diocese a 20 de março de 1937, aí foi sagrado a 25, de julho do mesmo ano.

    Por Frei Wenceslau Nouwen

    Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1956, p. 83 a 88.

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SATLER, Fabiano Aguilar. Fr. José de Haas, OFM (Josephus de Haas). International Network of Franciscan Studies in Brazil. Available in: http://riefbr.net.br/en/content/fr-jose-haas-ofm-josephus-haas. Accessed on: 31/01/2025.