IN MEMORIAM
Frei Hilário nasceu em Haia aos 23 de janeiro de 1883. Fez o curso de humanidades no ginásio de Megem. Recebeu o hábito franciscano, na idade de 19 anos no convento de Wychen. Fez a profissão solene em Weert aos 9 de setembro de 1906. Foi ordenado sacerdote em Roermond aos 21 de março de 1909. Depois de ordenado sacerdote, trabalhou durante um pouco mais de cinco anos na Holanda. Aos oito de julho de 1914 veio ao Brasil, onde se consagrou ao cuidado das almas durante quase quarenta e quatro anos. Seu primeiro campo de apostolado foi a cidade de Ouro Preto, onde esteve de 11 de julho de 1914 a 26 de fevereiro de 1915. Em seguida passou 9 anos de trabalho apostólico em Teófilo Otoni, de 26 de abril de 1915 a 14 de julho de 1924. Veio depois para Divinópolis como seu primeiro vigário franciscano e ficou aí de 10 de agosto de 1924 a três de novembro de 1931. De Divinópolis Frei Hilário foi transferido a Pirapora, permanecendo ali de 5 de novembro de 1931 a 16 de novembro de 1936. Aos 4 de dezembro de 1936 recebeu-o pela segunda vez a cidade de Teófilo-Otoni, onde permaneceu até 1942. Foi diretor espiritual dos alunos do ginásio de Pará de Minas e do seminário seráfico de Santos Dumont. De maio de 1948 a janeiro de1949 foi capelão do leprosário na Colônia Santa Isabel. Seguiu-se depois um período de férias e restabelecimento na Holanda; um ano de descanso bem merecido e de recuperação da saúde e forças perdidas. De janeiro de 1950 a abril de 1950, Frei Hilário passou no Preventório S. Tarcísio. Os últimos anos de vida Frei Hilário os passou em Teófilo Otoni, Santos Dumont e Divinópolis, precisando da assistência carinhosa dos confrades, perdendo aos poucos e sempre mais a memória e sua capacidade de ajudar-se a si mesmo. Aos 17 de junho veio a falecer no convento de Divinópolis com 75 anos de idade. No dia seguinte foi sepultado no cemitério do mesmo convento.
Frei Hilário, que sempre quis ser tudo para todos, afim de ganhar todos para Cristo:- o homem BOM, de pura bondade, misturada com um pouco de sentimentalismo:-a alma, em alto grau sensível, de uma sensibilidade que lhe tornava, às vezes, difícil esquecer-se de uma palavra um pouco dura ou de um trato menos fraternal:- o bom filho de S. Francisco, contente com seu cigarro de palha e cachimbinho, não dando que fazer aos Superiores, e o que reparei muitas vezes, tomando a peito o dizer da Imitação "Não tenhas familiaridade com mulher alguma, mas em geral encomenda a Deus todas as boas":- o companheiro nas alegrias e nas tristezas:- o "Danado'" sempre imaginando como podia pregar uma peça a um confrade.
Hilário, apóstolo zeloso; sim: narrent hi qui sentiunt, dicant Paduani: T.Otoni, Divinópolis, Pirapora: com seus 70 anos não tinha medo de andar 4 léguas a pé para dar o Viático a um pobre doente da roça.
Homem bondoso, demais até: incapaz de dizer: "O Senhor chegou fora do horário" ou "Amolação!" - Convencido da fraqueza do seu bom coração, pediu ao superior uma proibição por escrito de emprestar dinheiro, afim de mostrá-la aos tais pidões, mas na hora H, faltava a coragem. - "Danado" para pregar peça aos companheiros. Um exemplo entre mil outros. Deu-se na nossa viagem à Holanda em 1937. Frei Lourenço, s.m. gabava-se de entender bastante de bandeiras nacionais (cor, desenho etc.). Quando passava no mar um navio, o comandante do nosso vapor dava ordem de saudar o navio, içando a bandeira do respectivo país. Bartje foi procurar frei Lourenço, que estava no camarote e pediu que viesse ao bordo afim de explicar qual o país a que pertencia o vapor que passava, pois fizeram içar uma bandeira muito esquisita. Frei Lau foi ver e viu... suas ceroulas e camisa flutuando ao vento no alto do mastro!
Trabalhou muito, o nosso frei Hilário. O que fez em Divinópolis foi muito bem contado na "A Semana" do dia 22 de junho.
Em T.Otoni (onde o povo nunca se esquecerá dele) foi o mesmo trabalhador incansável. Introduziu os festejos de Semana Santa; fundou ou deu nova vida a Arquiconfraria da Doutrina Cristã, fez florescer a Pia União das Filhas de Maria, A Liga Católica. Aqui como em Divinópolis não faltaram (maçons e alguns confrades de S.Vicente!) que lhe deram ossos difíceis de roer. Com o auxílio das Irmandades conseguiu construir um novo telhado da Matriz. Com licença dos Superiores vendeu (que pena! fruto de sua excessiva bondade e, como um dia ele me contou, de um escrúpulo) a casa velha situada no melhor ponto da cidade e construiu o atual convento.
Nos últimos anos ia perdendo a memória, isto já começou faz uns 10 anos. Eu me lembro que na última viagem à Holanda era um não acabar: "onde está meu cachimbo, meus óculos, meu breviário etc.etc." Nos últimos anos que ele passou em T.Otoni, Santos Dumont, e Divinópolis perdeu a memória por completo e aos poucos a capacidade de ajudar a si mesmo.
Agora frei Hilário foi descansar e podemos esperar que: "Ouviu uma voz do céu que dizia: "Escreve: Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor. De hoje em diante diz o Espírito, que descansem dos seus trabalhos, porque as suas obras os seguem Apoc. 14, 13.
Frei Brás Berten
Fonte: 1958, p. 96 a 98