Irmão leigo. Chamava-se no século Antônio Anes, da Freguesia de Fife de Santa Catarina, termo de Viana do Castelo, arcebispado de Braga, e filho legitimo de Joane Anes e de sua mulher Margarida Alves. Sendo já mancebo de mais de 20 anos passou ao Brasil e ficou na Bahia. Deixou o ofício de pedreiro que anteriormente havia aprendido e se aplicou ao estudo da gramática. Movido, porém, de superior impulso, resolveu buscar o estado de religioso. Foi aceito à Ordem pejo lr. Custódio Frei Brás de São Jerônimo. Tomou o hábito no Convento de São Francisco da Bahia e professou para frade Irmão leigo no dia 1º de setembro de 1602, na madura idade de 33 anos. Com a sua arte de pedreiro foi de muito préstimo para diversos conventos. Por último o mandou a obediência para o Convento e São Francisco de Vitória. Foi nesta casa que lhe sobreveio a moléstia que ia acrisolar as suas já sólidas virtudes. Declarou-se o mal primeiro nas mãos, caindo-lhe parte dos dedos, para depois produzir chagas em todo o corpo. Uns viam o mal no constante manejo com a cal das ostras, ao passo que outros diziam tratar-se do mal de S. Lázaro (lepra). Assim viveu ainda alguns 15 anos. Jamais se queixou, nem mesmo ao notar que os demais religiosos o evitavam, de medo do contágio, bem como do asqueroso de sua moléstia. De bom grado se sujeitou às medidas profiláticas tomadas pelos prelados: para fazer as suas devoções postava-se à porta do púlpito e a uma tribuna da capela-mor para ouvir as missas. No mais, conservava-se na cela absorto em oração mental ou rezando pelas contas — presente ainda de sua avó, dizia — ou por um livrinho de meditações, que seus dedos mutilados mal podiam segurar e manusear. Como se não lhe bastasse o sofrimento causado pela doença, guardava todos os jejuns da Igreja bem como da Regra, acrescentando-lhes muitos outros de sua devoção. Gozava do carisma de previsão de acontecimentos futuros. Munido dos sacramentos do Viático e Unção dos Enfermos, entregou nas mãos de Deus suavemente o seu espírito no ano de 1633. Houve grande concurso de povo ao seu enterro. Pela muita devoção que tinham ao religioso falecido, lhe levaram a maior parte do hábito em retalhos, sem que os religiosos o pudessem defender. Para não ficar descomposto o cadáver, foi necessário cobri-lo com um manto. Ao toque e aplicação do seu hábito, das contas porque rezava, repartidas por várias pessoas, e de algumas coisas com que haviam tocado o seu corpo defunto, aconteceram vários prodígios não só em racionais cristãos, mas também em brutos animais. Seis anos depois da sua morte, abriu-se no claustro junto à sua outra sepultura para um religioso de Nossa Senhora do Carmo, falecido no mesmo convento de São Francisco de Vitória. Foi fama pública que se viu o corpo do Servo de Deus inteiro e incorrupto. Por isso o prelado local, que na ocasião era Fr. Paulo de Santo Antônio, não consentiu que se tirasse mais terra daquela parte e mandou assinalar com uma cruz a sepultura de Fr. Antônio de Santa Maria.
Na referência bibliográfica Religiosos Franciscanos da Província da Imaculada Conceição do Brasil na Colônia e no Império, de Fr. Sebastião Ellebracht, é o frade nº 019.
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Na referência bibliográfica Livro de Óbitos da Província de Sto. Antônio - 1584-1957, de Fr. Menandro Rutten, tem a seguinte descrição:
Frade leigo, natural do Brasil. Pedreiro. Faleceu no dia 10 de maio de 1633.