IN MEMORIAM
Mês passado S. Cruz deu a notícia do falecimento do nosso caro Irmão fr. Daniel Staacks. Faleceu com 71 anos de idade, no dia 26 de outubro p.p. em São João del Rei ás 20:30 hs. Nasceu aos 12 de outubro de 1876 em Bracht na Alemanha. Filho de pai alemão e mãe holandesa entrou como menino na escola apostólica de Steyl dos Padres do Verbo Divino, mas devia largar por motivos fora de sua vontade de estudos e passou os anos da juventude em Venlo em casa de seu tio ajudando e trabalhando na horticultura. Não podendo realizar seu ideal de ser padre, resolveu entrar no convento como irmão em 1897, fazendo os votos solenes em 1907.
Frei Daniel, de estatura esbelta e gigantesca, mas de coração tão bom e de gênio dócil e humilde trabalhou nos conventos de Wychen e Maastricht na padaria, cervejaria e ia de porta em porta pedindo donativos e auxílios para o convento. Em 30 de outubro de 1913 chegou ao Brasil, tendo sua residência em Ouro Preto até 1923. De 28 de maio de 1923 até 7 de maio de 1924 residiu em São João del Rei. Depois foi para a Holanda em gozo de férias e voltou para o Brasil em 22 de fevereiro de 1927. Nesta segunda época ele permaneceu sempre em São João del Rei até à sua morte, santificando os dias com trabalhos de sacristão e muitos outros serviços domésticos.
Quem não conhece em São João del Rei o "Daan", o sacristão da igreja São Francisco? Muito estimado por todos, dentro e fora do convento, fr.Daniel pertencia à categoria dos irmãos que souberam a arte de pôr em perfeita harmonia e síntese contínua os preceitos da nossa regra de trabalhar e orar.
Desde 1945 começou a adoecer e foi operado no Rio duas vezes. Estava sofrendo de um tumor maligno que tornou necessário fazer uma via artificial de excreção.
A primeira operação, que se complicou por causa de uma congestão pulmonar o levou à beira do sepulcro e fr. Daniel foi ungido, mas a sua constituição forte venceu a crise e se restabeleceu de tal maneira que o operador ficou admirado encontrando seu cliente em 1947 cheio de vida ainda e aos 9 de julho, a data em que foi celebrado o seu jubileu de 50 anos de vida religiosa, estava ainda forte e bem disposto. Sujeitou-se a uma segunda operação para tirar um defeito na via artificial que o incomodava.
Em setembro entrou na fase de plena decadência. Considerando a sua idade e o grave incômodo que sofria Pe. Guardião fr. Osmundo achou conveniente ungí-lo pela segunda vez. O médico constatou grande dilatação da aorta. Todas as tentativas da medicina porém não valeram. O corpo ficou inteiramente envenenado tornando-se-lhe os dedos arroxeados e lívidos. Não se queixava de dores, somente de aflição e nenhuma posição podia dar ao doente algum alívio. Sofreu com paciência e bastante lúcido de espírito sabia que a hora derradeira estava próxima. Plenamente confirmado morreu na paz do Senhor.
A Irmandade da ordem III ofereceu ao sacristão da igreja de S. Francisco um sepulcro bonito, e no dia 27 os restos mortais foram enterrados. Todo o clero secular da cidade estava presente e os Padres Salesianos mandaram representantes. O comércio fechou mais cedo por causa do seu enterro. As exéquias foram celebradas com toda a solenidade e grande freqüência do povo.
Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1947, p. 179-180.