Frei Policarpo (José Delvai) nasceu aos 12 de maio de 1859. Era filho de Luís e de Isabel Delvai. Fez parte dos seus estudos no seminário diocesano de Trento, pretendendo seguir vocação para o clero secular. Sua capacidade, porém, era limitada. Deixando o seminário, onde era professor o capuchinho Frei Dionísio de Soraga, o jovem José não sabia que rumos tomar na vida. Dificilmente poderia ser aceito para os estudos superiores exigidos para a carreira sacerdotal.
Estando nesse dilema, certo dia aparece em sua casa um irmão capuchinho fazendo a costumeira “questua” e, sabendo do problema disse ao jovem:
“Faça-se Capuchinho e será feliz”.
O pai viu nas palavras do frade uma revelação da vontade divina e insistiu com o filho para que a seguisse... Bem outro, porém, era o pensamento do jovem que não pretendia ser capuchinho e dizia ao pai: “Não tenho vocação para isso”!!
Contudo, para não desgostar o pai, foi até Trento falar com o Provincial. Ao subir o monte onde se encontrava o Convento, José foi rezando contínuas “Salve-Rainhas”, pedindo a Deus que não fosse aceito... Chamado o Provincial, ficou admirado, pois era seu professor de colégio diocesano, Frei Dionísio, que mesmo sabendo das dificuldades intelectuais do jovem, o aceitou sem qualquer dificuldade para o Noviciado... “De que me valeram, então, as Salve-Rainhas que rezei?!”, comentaria mais tarde, rindo-se...
Tendo vestido o hábito, fez sua primeira profissão aos 12 de março de 1881; solene a 13 de março de 1884. Foi ordenado sacerdote aos 23 de março desse mesmo ano.
Dez anos depois de ordenado foi enviado para o Brasil, aqui chegando a 13 de maio de 1894. Conforme já escrevemos em “Pastoral Missionária” “. Frei Policarpo foi pregador em muitas missões. Assim, já em julho de 1900 nós o temos com Frei Damião pregando em São José do Paraitinga, após uma longa viagem de trem e de 5 horas a cavalo. De 25 de novembro a 16 de dezembro de 1904, com o mesmo Frei Damião prega em Avaré, após terem pregado grandes missões em Descalvado em finais de 1903 e princípios de 1904. Em 1913, de 18 de junho a 15 de setembro, e de 27 de setembro a 8 de dezembro, missiona em Tietê e Porto Feliz, também com Frei Damião. Grandes missões realizara também em 1911, percorrendo Apiaí, Barra do Turvo, Iporanga, Salto do Rio Grande, Ribeira, Morro Agudo, Palmeiras, Capoeira, Tocos...
Frei Policarpo dedicava-se muito ao confessionário. Tendo dificuldades para a pregação, preparou uns quinze sermões que sempre repetia conforme as circunstâncias. Segundo seu colega Frei Damião, era muito delicado de consciência, de grande simplicidade, muito amante da pobreza e da humildade. A todos recomendava muito a devoção ao Anjo da Guarda.
Conta-se que certa vez, em missão, sendo Frei Policarpo o encarregado das espórtulas de crisma, aproximou-se dele uma mulher e o convidou a casar-se com ela. Mas, prontamente respondeu-lhe o Frei: “Vai-te embora, pois já sou casado com a Santa Igreja”!!!
Conta também Frei Damião que, certa vez, estando confessando o povo com Frei Policarpo, sendo longas as filas, este deixou repentinamente o trabalho e foi para a cama deitar-se... Pensando que estivesse doente, Frei Damião foi até seu quarto e perguntou-lhe: –”Está doente, Policarpo?” –”Não”, respondeu ele. – “Então, por que está na cama?” – “Porque já estou condenado ao inferno”, respondeu. E Frei Damião: “Mas, vá... o inferno já está cheio de gente e você não vai caber lá”... – “ Então, vou trabalhar”, concluiu o outro. E voltou para o confessionário.
Outra vez, muito cansado, disse ao companheiro Frei Damião:
– “Quanto trabalho!! Não há tempo nem para comer!! Mas, se eu for para o Céu, ali me deitarei numa cama com um pito na boca e dormirei, e pitarei toda a eternidade”... “Na verdade você se contenta com bem pouco,” –respondeu o companheiro.
Foi sempre muito ativo, sendo muitas vezes convidado pelo Bispo de Campinas e de outros locais para visitas diocesanas, auxiliando nas confissões, o trabalho mais pesado nessas ocasiões.
A 13 de maio de 1922 Frei Policarpo foi acometido de um derrame que lhe paralisou metade do corpo e a língua. Aos 25 de junho de 1923 repete-se o derrame, deixando-o em coma até dia 27, quando falece aos 15 minutos, cercado dos coirmãos de Piracicaba.
Entre outras coisas, dele escreveu Frei Damião:
“Foi sempre um ótimo religioso e verdadeiro missionário, pois empregou toda a sua preciosa vida dando missões por meses até, em cidades e vilas, em fazendas, na vastíssima diocese de São Paulo e na de Botucatu, tanto sozinho como em companhia de outros religiosos, principalmente deste pobre Cronista. Era particularmente nas Missões que o inesquecível Frei Policarpo praticava e revelava suas belíssimas virtudes. Não confiando em si mesmo, mas plenamente em Deus, pregava a Palavra divina alto e bom som. Flagelava com força o vício, máxime o da impureza, tão comum entre os povos e pelo qual muitas almas caem no abismo infernal. Exaltava as virtudes, exortava a todos a que deixassem o pecado e levassem uma vida honesta e digna. Mais ainda pregava com o bom exemplo, com uma vida mortificada e com santa e louvável conversação, de modo que todos os que dele se aproximavam, ficavam altamente edificados. Acolhia com suma amabilidade e com toda doçura os pobres pecadores e, com prudentes conselhos e exortações os persuadia a deixarem o pecado e a mudarem de vida e de costumes.
Os santos votos por ele professados, sempre foram observados até o escrúpulo. Era tão amante da pobreza que tendo um hábito todo remendado, não solicitava outro, sendo preciso que outro o pedisse por ele.
O amor à bela virtude... era realmente extraordinário e podemos dizer sinceramente que soube conservá-la sempre intacta. Sua obediência era sempre pronta e alegre. Obedecia cegamente não só nas coisas fáceis mas também nas difíceis, de tal modo que todos os superiores procuravam tê-lo como súdito.
Profunda era sua humildade, falando sempre bem dos confrades, alegrando-se muito pelo bem que faziam. Porém, falando de si mesmo, com toda persuasão dizia-se mesquinho, incapaz de tudo.
Atingido por um derrame a 13 de maio às 5 horas, na grave enfermidade que se estendeu por mais de um ano foi sempre resignado ao querer celeste e jamais saiu de seus lábios uma palavra de lamento contra a divina Providência ou contra os religiosos que o assistiam amorosamente.
Todos os que o visitavam, vendo-o tão paciente e resignado, ficavam altamente edificados. Todos os dias recebia a santa comunhão, nela encontrando seu conforto e a força para sofrer por amor de Deus as suas não poucas e graves dores.
Finalmente, acometido por segundo derrame, santamente morria, como santamente vivera, voando sua bela alma ao céu, para receber o prêmio de suas virtudes, e nutrimos firme confiança de que rezará por todos nós, seus confrades, para que, igualmente, após esta mísera vida nos seja dado fazer-lhe eterna companhia. Requiescat in pace”. (lº Tombo, pp.145-147)
Segundo consta em “Anais Franciscanos”, Frei Policarpo “foi religioso humilde, manso, agradável, exemplar e de uma rigorosidade para consigo, muitas vezes excessiva, qualidades que lhe cativaram facilmente as simpatias dos que chegaram a conhecê-lo de perto.
Sua vida de verdadeiro filho de São Francisco e de abnegado operário da vinha do Senhor, temos toda a esperança, já deve estar coroada com o prêmio dos justos na mansão da paz”. (agosto 1923, p. 248).
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Identifier:20731Name:Fr. Policarpo de Lévico, OFMCapSex:Date of birth:12/05/1859Date of admission:12/03/1881Date of death:27/06/1923Place of birth: Itália, ITPlace of death: Piracicaba, SPReligious Group: OFMCap – Ordem dos Frades Menores CapuchinhosEcclesiastical state:Biographical Notes:
Institutional Configurations related
how to quote this contentCONFERÊNCIA dos Capuchinhos do Brasil. Fr. Policarpo de Lévico, OFMCap. International Network of Franciscan Studies in Brazil. Available in: http://riefbr.net.br/en/content/fr-policarpo-levico-ofmcap. Accessed on: 19/01/2025.