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Franciscan

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    Identifier:
    11513
    Name:
    Fr. Jorge de Boer, OFM (Dirk de Boer)
    Sex:
    Date of birth:
    22/03/1885
    Date of death:
    30/06/1938
    Place of birth: Westerblokker, NL
    Ecclesiastical state:
    Biographical Notes:

    IN MEMORIAM

     

    Chegou o telegrama, dizendo laconicamente: Jorge fallecido...

    Prompto para a viagem à Holanda, com passa-porte e licença da saúde arrumados, Deus o chamou.

    Lá longe, a velha mãe já contava os meses e as semanas e os dias; e naquele dia talvez desse graças a Deus: "hoje meu filho embarcou para a casa paterna", e Deus, lá no céu, o repetiu: "Sim, Jorge, hoje para Casa Paterna E nós, que tivemos a felicidade - mas felicidade mesmo - de viver com Jorge muitos annos na mesma casa, nós, espontaneamente, nos lembramos da vida do bom Frei Jorge.

    Pois, bom, elle era.

    Bom elle era no tempo de "frater"; os companheiros de aula estão ahi para atestá-lo. Atentados - no curso theologico não faltam estudantadas - contra a sua paciência ficavam sem resultado: Jorge ria, e depois ria, e afinal ria. E se ser "servus servorum Dei" fosse a única qualidade requerida para ser bom Superior, o Jorge podia ter sido Papa

    Bom, elle o era no tempo de Padre Missionário. Vivemos com elle muitos annos na mesma parochia, e sabem como elle era?

    Quando estavam à porta da casa parochial os acostumados "dois cavallos" - signal de chamado para doente - o portador era recebido por Frei Jorge com cara alegre (sacrifício, às vezes!): "sim senhor, eu vou já..

    E quando tinia de noite a campainha - e lá tinia tantas vezes! - e estavam esperando umas mulheres pedindo confissão para infeliz companheira: "sim senhora, eu vou já..

    E quando, depois de elle se levantar do confessionario, apparecia mais uma, mais outra penitente: "sim senhora, pois não!"

    E quando pediam nas roças um batizado fora de hora: "sim senhor, pois não"!

    Assim era Frei Jorge: bom para todos, grandes e pequenos, ricos e pobres, - para estes principalmente: fez-se tudo para todos, a fim de ganhar todos para Jesus Christo.

    E ganhou muitos: Pirapora e Corintho são testemunhas.

    Bom era Frei Jorge como religioso: um exemplo para os que com elle viviam. Podíamos, às vezes, caçoar delle quando roia seu breviário ou maltratava o directorio para não esquecer das comemorações: mas lições boas, elle as dava.

    Jorge! Quando a notícia da sua morte, ficamos com mais dó de sua mãe, do que de você. Você está melhor do que nós. Nossa Senhora, cujo Officio Pequeno você rezava todos os dias, deve ter-se lembrado de seu filho. Em todo caso - Deus encontra manchas nos Anjos - nós rezamos por sua alma, e você: não se esqueça de nós, sim!

    De uma carta de Frei Júlio, dirigida ao Rvmo Padre Delegatus, tiramos estes pormenores sobre a doença, morte e enterro de nosso confrade:

    No dia 22 de junho Frei Jorge chegou aqui, vindo de Bello Horizonte, estava cansadíssimo, o que elle attribuia à viagem nocturna, mas de fato era conseqüência da doença que estava em incubação. Poucos dias antes de sahir de Pirapora tinha sido chamado para confessar um doente de febre nas margens do Rio das Velhas, em cuja cabana também dormiu. Atormentado pelos mosquitos, teve de cobrir a cabeça com sua capa. Foi de certo naquella occasião que apanhou sua doença - malária complicada com symptomas de typho. Os primeiros dias da sua estada aqui sentia-se muito cansado e deitava-se pelas 7 ou 8 horas. No dia 23 à tarde, foi com Frei Helano fazer uma visita a Frei Leopoldo, onde fumou um charuto. Depois pensou que era o charuto que lhe fizera mal. No dia 24, de manhã, tomou uma limonada purgativa, que produziu optimo effeito, de modo que se sentiu alliviado. No dia 25, depois da missa, desmaiou na sacristia. Frei Daniel o levou para cama, mas antes de se deitar, repetiu-se o desmaio. Chamamos logo o médico, que o examinou e verificou a existência de febre alta. Por meio de perguntas veio a saber-se o que no princípio desta carta escrevi sobre o Rio das Velhas. A febre persistiu. Domingo, 26, não celebrou. Pelas grandes oscillações de temperatura enfraqueceu muito. Pedi informações à Casa de Saúde São José: não havia lugar. No dia 29, à tarde administrei-lhe os últimos Sacramentos, estando presentes Frei Onésimo, Frei Helano e o irmão Daniel. Felizmente poude commungar também. Fez a renovação dos votos e recebeu a Benção Apostólica. Frei Jorge piedoso como era, bom religioso e bom padre, estava perfeitamente conformado com a vontade de Deus. À noite foi-lhe applicada uma lavagem intestinal, o que o reanimou um pouco. No dia 30, de manhã, o termômetro acusou 35 ½ graus, de modo que se devia temer um collapso cardíaco fatal. Naquele dia Frei Sofonias devia chegar, de manhã, no Neptunia da Itália, e à tarde Frei Onésimo, Frei Helano e o irmão Frei Daniel deviam partir para a Bélgica, no Macedonier. Eu tinha de manhã celebrado a Missa por intenção delle. Entre 11 e 12 horas, Frei Jorge morreu. Estavam em casa dois médicos, os Padres Frei Alfredo, Frei Onésimo, Frei Sofonias, Frei Augusto Ferreira (que juntamente com Frei Sofonias tinha chegado no mesmo dia, vindo da Terra Santa) e o irmão Frei Daniel. Nós (Frei Júlio, Frei Flaviano e Frei Helano) soubemos, pelo meio dia, por um telegramma, que tinha morrido.

    No dia 1 de julho houve Missa de Requiem solenne, celebrada por mim, acolytada pelos Padres Frei Flaviano e Frei Sofonias. Às três horas da tarde realizou-se o enterramento no cemitério de Jacarepaguá, estando presentes os padres Frei Júlio, Frei Leopoldo, Frei Flaviano, Frei Alfredo, Frei Sofonias, Frei Augusto e, como representante do Convento de S. Antônio, Frei Nazario. Antes do enterro se rezaram as Laudes

    O curriculum vitae do nosso fallecido co-irmão é muito simples. Nasceu em Blokker a 22 de março de 1885, recebeu o hábito franciscano em 1905, ordenou-se em 1912, veio para o Brasil em 1915, foi algum tempo coadjutor em Ouro Preto e passou o resto da sua vida em Corintho e Pirapora, primeiro como coadjutor, ultimamente como Vigário da freguesia de Pirapora.

    Por Frei Brás Berten

    Fonte: Revista dos Franciscanos da Província Santa Cruz, 1938, p. 115 a 117.

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SATLER, Fabiano Aguilar. Fr. Jorge de Boer, OFM (Dirk de Boer). International Network of Franciscan Studies in Brazil. Available in: http://riefbr.net.br/en/content/fr-jorge-boer-ofm-dirk-boer. Accessed on: 07/02/2025.